sábado, 26 de março de 2011

O Candidato ao Paris Brest Paris

Histórias de um candidato a brevetar no PBP 2011.
O nome dele pode ser Chim Pan Zé Mirtillo.
1- Escolheu o brevet de 600 km mais fácil para se classificar para o Paris Brest Paris. Ta louco fazer um brevet de Curitiba, ou em Santa Cruz do Sul, são brevets com muita subida.
2- Pedalou o brevet de 600 km em 39h e 50 minutos sem dormir, pois estava lento e não sobrou tempo. Terminou o brevet virado em um bagaço, semi vivo. Durante a madrugada quase caiu por ter cochilado em cima da bike. Depois do brevet foi para casa e dormiu 15 horas seguidas. Tirou folga na segunda e voltou a trabalhar terça a tarde depois de ter dormido até ½ dia. Na quarta feira, descansado, sentado confortavelmente na sala com o ar condicionado ligado, em frente ao computador olhando as belas fotos do brevet no blog da organização ele pensa: pedalei o meu primeiro brevet de 600 km e estou bem, sem sono, sem fome, sem dor nas pernas e com vontade de pedalar novamente, dai escreve a frase mágica: pedalei o brevet de 600 km e cheguei inteiro, estou pronto para participar do Paris Brest Paris 2011.
3- Pedalou um brevet de 600 km com PCs a cada 50 quilômetros e a mulher foi fazendo apoio levando comida especial, bagagem e outras regalias. Só pedalou o brevet de 600 km porque não tinha previsão de chuva.
4- O ciclista pesquisa alguma coisa sobre o Paris Brest Paris e encontra um texto assim: http://fixasampa.wordpress.com/2010/11/24/paris-brest-paris/ onde encontra uma outra frase mágica:
É realmente uma boa rota para uma roda fixa. As colinas são constantes, mas nenhuma delas é ridícula. Em nenhum momento cheguei a pensar em descer da bike e empurrar.
Sonhando acordado o ciclista entende a frase assim:
É uma boa rota, só tem colinas e nem grandes subidas. È um brevet de 1200 km fácil.
O ciclista se esquece de alguns detalhes: de comparar o PBP com o BMB, de saber quem é o ciclista e que experiência ele tem.
5- O Chim é muito organizado e fez uma planilha detalhada do brevet de 600 e também do percurso do Paris Brest Paris. Anotou cada subida, ponto de parada, tempo de parada, horas de sono..... Esqueceu de saber comparar a sua planilha ideal com o tempo que ele geralmente leva para pedalar 445 km, ou seja, distancia do PC de Loudeac onde planeja dormir. Na realidade fez apenas um brevet de 400 e um de 600, não sabe exatamente como enfrentar as diversas dificuldades que surgem, pneus furados, bicicleta com problemas, corrente quebrada, vento contra, chuva, frio... No tempo ideal estes fatos não acontecem e a previsão é de pedalar os 445 km em 20 horas, dormir seis e depois seguir. Na realidade ele nem imagina que pode ter que enfrentar estas dificuldades.
6- O Chim é um ciclista lento e não tem muita técnica que um ciclista experiente deveria ter. Também não tem potência e ritmo para manter uma média de 25 a 27 km/h por algum tempo. Esta média e potência pode ser necessária em caso de ser preciso recuperar algum atraso na sua planilha idéal. Atrasos não acontecem.
7- O Chim gosta da sua bicicleta e nem sempre esta muito preocupado em reduzir o peso e nem o tamanho da barriga, afinal “Os Audax” são coisa de gordinhos e uma gordurinha extra se transforma em energia. É preciso de mais energia para transportar esta gordurinha, mas ajuda nas decidas. No Paris Brest Paris planeja levar: celular, maquina digital para fazer algumas fotos, GPS, minidicionário de francês, o que esta em duvida é se leva o Net para colocar alguma informação no blog, mas acho que vai deixar este trabalho para a mulher que estará no apoio.
8- Falando de mulher, a do Chim é extremamente carinhosa. Não entende muito de esporte, mas apóia o marido. Não entende porque ele se mete nestes brevets só para sofrer. Morre de pena do coitado cada vez que vê ele sofrendo. No fundo, se pudesse tirava ele do brevet e levava para o hotel onde faria uma massagem relaxante em uma cama macia e quentinha.
9- O Chim é ocupado e tem várias tarefas por isto não tem muito tempo para pedalar. Reside na capital e por isto não vai para o trabalho pedalando, é perigoso. Na cidade tb não tem muita opção de local para pedalar, pois todas as saídas são em estradas muito movimentadas e perigosas
10- Chegou em Paris. Vamos conhecer a Torre Eifel? o Arco do Triunfo? a Bastilha? o “Centro Nervoso”, Notre Dame? E até uma tal de “Bulam Ruje”?depois a gente monta a bicicleta e descansa para o brevet, afinal tem dia anterior para poder dormir.... Os dias na França, em agosto, amanhecem às 7h e anoitecem 22h, assim da para aproveitar bem o dia para passear bastante ( e dormir pouco), quando anoitecer a gente retorna para o hotel, ou ainda vai ver a Torre iluminada a noite.
11- O primeiro ponto de parada no PBP é no km 140 e não no 50. O primeiro PC é no KM 222 e neste o Chim planejou parar 15 minutos, depois de ter pedalado por 12 horas. Perdeu os 15 minutos na fila para carimbar o seu passaporte, mais 15 minutos para reencontrar a bicicleta que deixou estacionada no bicicletário localizado no pátio da escola onde é localizado o PC. Perdeu mais 05 minutos na fila do banheiro, mais alguns minutos de usuário, mais um tempinho e finalmente encontrou a coitada da mulher que estava dormindo dentro do carro a sua espera.........
12- O nosso amiguinho imaginário Chim PZM odeia furar pneu e tem muita dificuldade para efetuar a troca da câmara de ar por isto utiliza Pneu Schwalbe Mega Marathon Super Plus 26x1.50 ( ele não usa bike aro 700 pois gosta da sua MTB). Cada pneu pesa 900 gramas e mais 300 gramas de cada câmara de ar reforçada. Uma combinação quase infurável, mas quase. Na França as estardas são mais limpas, mas o Chim é azarado e teve um pneu furado quando estava no km 360. Já estava escuro e ele estava atrasado e enfrentando a segunda noite do brevet. Não encontrou a lanterna de cabeça que estava no fundo do alforge. Como que furou este pneu maldito? Uma ponta de faca foi levantada pelo pneu dianteiro e penetrou no pneu traseiro. A motivação do Chim foi parar no Japão, talvez na usina de Fukushima, depois de atravessar o centro da terra. Arrasado, cansado, no escuro, no campo e sem a lanterna Black Label Chuppapilha. Pediu ajuda a um ciclista que passava, mas era um russo e não entendeu nada, mas resmungou alguma coisa. Pediu ajuda para o próximo e era um italiano que só disse: Va cagare, io sono stanco e in ritardo! Também não parou. Não entendeu nada e desistiu de pedir ajuda, ninguém parou. Depois de 1h e 40 minutos conseguiu fazer a troca da câmara de ar e reiniciou a pedalada.
13- Chim chegou 4 horas depois do previsto no PC de Loudeac onde conseguiu dormir 15 minutos antes de prosseguir. Dormiu no carro alugado para o apoio e nem teve tempo de utilizar o Apartamento que havia alugado na cidade.
14- Chim chegou no PC do km 666 ( este é o numero da _ _ _ _ _) depois dos 15 minutos de Loudeac ainda não tinha dormido mais. Devido a dificuldade de visão e medo desce a maioria das vezes freando. Devido às freadas e a chuva, estava com as pastilhas do freio gastas. Aproveitou a parada no PC 666 para levar a bicicleta para fazer a troca das pastilhas. O mecânico que estava mais dormindo do que acordado- já estava ali há dois dias, avisou que o serviço iria demorar, mas voila! Precisa né! Chim ficou 1hora e 50 minutos esperando para a troca das pastilhas e regulagem do freio ser feita. Depois saiu pedalosonombulando novamente.
15- A saga do feliz brasileiro Chim Pan Zé Mirtillo continua, o PBP continua continua, continua... em 90 horas, ou mais, muita coisa pode acontecer. Se não der certo foi por um acaso e daqui mais 4 anos o Chim, um pouco mais idoso, mas mais experiente e cabeça dura, poderá tentar novamente. Se por acaso ele não completar o PBP vai dizer mais uma frase mágica: Onde foi que eu errei? Faltou tão pouco.
16- Uma mosca me contou que o Chim foi visto no dia seguinte, depois do PBP já ter terminado, pedalando em direção a Saint Quentin em Yvelines, mas esta informação não pode ser confirmada pois ainda não estão nos registros da ACP. Também não se tem noticias precisas da sua esposa, mas parece que ficou em "Fugeres".

Esta história é baseada em fatos reais, mas ainda não é uma história verídica. Mentira minha, todas as histórias são reais, o que não é real são os nomes, datas e ordem dos acontecimentos. O Chim Pan Zé Mirtillo não é real, mas existe, ele pode ser eu, também pode ser você ou o teu colega de pedalada durante um brevet. Você poderá encontrar o Chim Pan Zé Mirtillo em alguns relatos de brevet passados, principalmente os realizados no Brasil, mas também no estrangeiro.

O nosso amigo imaginário nasceu em dezembro de 2010 e seu surgimento pode ser pesquisado em:
http://www.rio.audax.org.br/2010/12/programe-se-para-o-pbp-2011.html
Veja o video de um suspeito durante o brevet
http://www.youtube.com/watch?v=LpF_DylBmho

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com fatos da vida real é mera conhecidencia. Todos os direitos reservados!

Em breve podem surgir as histórias do randonneur Kibafo Cacauete e de seus amigos.

Bons treinos para o Paris Brest Paris 2011.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional!
Parabéns pela de forma irônica de nos confrontar com a realidade.
Abraços,
Fred
AUDAX Rio

Roger Ban disse...

Se preocupar mais em treinar do que planejar a logística.

Esquecer as roupas térmicas no hotel da largada e não as colocar no "bag drop".

Trocar a carta de rota e se perder por mais de 20 milhas pela teia de aranha que são as estradas da Pensilvânia.

Não levar maltodextrina ou outro suplemento com medo de ser detido como traficante no aeropoto e ainda acreditar que nos States vendem pão-de-queijo e pamonha em todas as
lojas de conveniência.

Confundir Endless Mountains com uma canção romântica.

Andar no ritmo dos outros

Enfim...

... também já tive meus dias de Chim Pan Zé Mirtillo!

E assim como ele não brevetei!

Parabéns pelo texto, simplesmente "Pedaloínado"

T+