terça-feira, 18 de junho de 2013

Primeiro brasileiro a fazer um 1200km



Primeiro Brasileiro a fazer 1200km
A origem do desafio
Em 1964, o mexicano Carlos Garcia Zacateca esteve em Santa Cruz do Sul e realizou um Desafio na Praça Getulio Vargas pedalou 50 horas ininterruptas ao redor desta mesma praça.
 Na época, eram mais comuns estes eventos/ desafios ciclísticos. O ciclista conseguia alguns patrocinadores na cidade a fim de obter algum rendimento financeiro. Em data e local marcado, geralmente uma praça ou rua no centro da cidade, onde fosse possível conseguir mais público, realizava um desafio de ficar pedalando ininterruptamente, sem colocar o pé no chão, sem desembarcar da bicicleta durante o maior tempo possível.  Uma estrutura de apoio simples era montada. Não eram poucas as dificuldades a serem enfrentadas, entre elas a monotonia de estar sempre girando em um curto percurso, muitas vezes, em ruas sem calçamento ou pavimentação com paralelepípedos irregulares. Chuva, frio, problemas mecânicos, sono eram desafios extras a serem vencidos.  Não existiam informações sobre os Brevês Randonneurs Mundiais ou o Audax que eram realizados na França e Europa.  Naquele tempo não havia acesso tão fácil as informações, se fosse o caso, com certeza a modalidade “Audax” já teria se desenvolvido desde então aqui no Brasil.
Acima um cartão de recordação do desafio.
Abaixo uma foto do evento realizado em Sobradinho, RS

O santa-cruzense Lothário Waechter
Nas décadas de 1950 e 1960, foram realizadas algumas provas ciclísticas em Santa Cruz do Sul e região. Alguns ciclistas se destacavam entre estes podemos falar dos irmãos Edemar ( Polaco) e Lothário Waechter ( Whechtão como era conhecido na Brigada Militar).
Após o desafio realizado na cidade por Zacateca, o santa-cruzense Lotário Waechter resolveu fazer um desafio maior com o objetivo de superar a marca do mexicano.


Primeiros Desafios
Primeiro desafio foi de 48horas quando desmaiou após beber conhaque com café quente;
Segundo desafio foi de 60 horas e assim foi realizando vários desafios:
50h em Candelária, RS
60h em Rio Pardo, RS
60h em Sobradinho, RS

 O recorde de 82 horas e os 1200km.
 Na época, diziam que o recorde mundial de tempo pedalando sobre uma bicicleta era de 80 horas realizado por um ciclista Colombiano chamado Zuluaga. Lotário motivado pelo sucesso dos eventos anteriores e confiante em sua capacidade resolveu superar este recorde.
Realizou o desafio de 82 horas, no ano de 1964, em Santa Maria, pedalando ao redor da Praça Saldanha Marinho.   O evento foi devidamente registrado e validado pela Federação Gaúcha de Ciclismo, conferido e vistoriado por fiscais.
Durante o desafio, utilizou um odômetro colocado no eixo dianteiro com uma pequena engrenagem que girava com o contato com os raios da roda, uma espécie de desmultiplicador. Não era um equipamento preciso como o ciclo computador ou o GPS de hoje, mas dava uma noção aproximada da distância percorrida. No final das 82 horas de prova, a distância que o Lotário havia percorrido foi de 1207 km


82 horas em Santa Maria, RS.
24h + 24h+24h+ 10=82h
1207/82=14,71 km/h
Os números acima nos dão uma noção para a comparação com um brevet de 1200km onde o tempo máximo é de 90 horas para pedalar 1200km o que assemelha o desafio realizado a um brevet 1200km.


O recorde era reconhecido pela Federação Gaúcha de Ciclismo, mas as informações foram perdidas com um incêndio que ocorreu na sede da FGC.
Se foi um recorde, se foram realmente 1200km, não vem a ser o mais importante. O certo é que foram 82 horas e um grande desafio que teve muitos méritos. Certo é que vale resgatar um pouco da história do nosso esporte e o feito deste randonneur santa- cruzense.
Em pesquisa na internet foram encontrados registros copiados de jornais antigos referindo-se a desafios maiores realizados por Célimo Antônio Montez Zuluaga e também por Zacateca, mas todos eles após o realizado por Lotário o que não contradiz o feito do recorde até a data de sua então realização. Também vale lembrar que tanto Zuluaga quanto Zacateca eram estrangeiros o que torna o feito de Lotário exclusivo entre brasileiros

Fim da carreira

Troféus, medalhas, álbum de fotos, dinheiro, bicicleta, sapatos e todos os seus pertences foram roubados pelo seu empresário em São Pedro do Sul,  logo após a realização do Desafio de 82 horas. Após este fato, Lotário ficou desanimado e não realizou mais desafios, praticamente, abandonando o esporte.

A bicicleta
Nos desafios utilizava uma bicicleta marca Caloi, sem cambio e com roda livre ( single speed), utilizando selim de duas molas e sem utilizar para lamas. Para as competições possuía uma bicicleta com marchas.

Participou de provas ciclísticas de 1958 até 1965.
Participou de prova ciclística em Porto Alegre 1963 patrocinado pelas Lojas Artezan, ficou na décima quarta colocação entre 58 ciclistas. A prova foi realizada nos arredores da Praça da Alfandega ;


Foto da Prova da Semana da Pátria com largada no centro de Santa Cruz do Sul realizada em 1962. Circuito pelas ruas do centro da cidade: Primeiro colocado: Edemar Witze de Vera Cruz, Segundo foi Lotário Waechter e terceiro Sergio Horn de Estrela.

Nos anos de 1967 e 1968, quando Lotário já não participava mais de eventos ciclísticos foram realizadas algumas competições ciclísticas com largada em Rio Pardo e chegada em Santa Cruz do Sul. Os cerca de 30 quilômetros eram percorridos na atual estrada velha, ou seja, em estrada de chão.
Somente após esta época que tivemos acesso a algumas informações repassadas  por Paulo Lopes, o nosso ciclista mais antigo, e já falecido. Desta forma foi possível recuperar  um tempo esquecido e não registrado do ciclismo de Santa Cruz do Sul, RS.

Outros Ciclistas da época:
Edemar Witze- Vera Cruz
Sergio Leopoldo Horn de Estrela- Ver Informações
Aldomar Job de Santa Cruz do Sul
Chaves também de Santa Cruz do Sul
Edemar Waechter, seu irmão mais novo, também conhecido pelo apelido de Polaco que faleceu em 1994 em um acidente de carro. Seu irmão era mais rápido e conseguia melhores resultados nas provas. Lotário se dava bem em provas mais longas.



Outros
Lotário Nasceu no dia 03 de janeiro de 1941
Trabalhava na extinta fabrica de Balas Sulina onde muitos dos seus troféus ficaram guardados;
Algumas de suas premiações possivelmente poderão ser encontradas na sede do Clube União- Sociedade Cultural e Recreativa União.
Após abandonar o ciclismo dedicou-se por muitos anos a pescaria. Confesso que passei a admirar mais o Lotário após ele me dizer isto.


 
Pesquisado por Luiz M. Faccin maio de 2013.
reportagem do Jornal Gazeta do Sul do dia 28-08-2017 
Segundo contato com a viuva de Sr Lotário ele faleceu no ano de 2014 e suas fotos não foram encontradas. Este texto passou a ser um dos poucos registros dos seus feitos.

Fico feliz por ter tido a oportunidade de conhece-lo, que se estivesse conosco estaria feliz em ver a sua reportagem no jornal.

sábado, 8 de junho de 2013

Mais original do Paris Brest Paris 2011

Em cada Paris Brest Paris Randonneur, que é realizado a cada 4 anos, é premiado o ciclista mais original.
Em 2011 o britânico Drew Buck  completou o seu sexto Paris Brest Paris utilizando uma bicicleta de 1900 e com trajes tipicos da época.


Ele completou o PBp em 89h e 39 minutos e recebeu o trofeu de originalidade.
Vale o registro.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Homologações e tempos brevet 600km

Homologações estão publicadas no site:

http://www.randonneursbrasil.org/homologacoes

Em breve envio aos participantes as informações para encomenda da medalhas Super Randonneur 2013.

sábado, 1 de junho de 2013

Relato brevet 600km Susana

Querer, é poder!

Domingo que vem, dia 26/05, fará um ano e meio apenas que eu, Bruno, Leandro e Ruimar começamos a participar das provas de audax, e conseguimos conquistar pela segunda vez, o título de super randonneur!
Meu primeiro audax foi o 200 de Sta Cruz p/ Barros Cassal, dia 26/11/2011. Dia 02/09, daquele mesmo ano, havia passado por uma cirurgia, só ganhei alta médica em outubro, tive pouco tempo p/ me preparar, mas eu quis..., eu fui!
O 300 foi em Sta.Maria, e 400, e o 600, fizemos com a SAC



Esta ano, fizemos o 200 do Varzea ,200 de Bagé, 300, 400, e o 600 em Sta. Cruz!
Durante a semana passada, deixamos tudo pronto p/ esse 600.
Aí já começa a prova. A estratégia de escolher a roupa certa, nem demais , nem de menos, sempre pensando que tudo que for inútil é peso morto, e espaço morto, onde tu poderias levar uma comida a mais. Se informar sobre o roteiro, se existem vários pontos de abastecimento, se não tiver muitos, tem que carregar mais comida!
Planejar, onde vai dormir, se vai dormir...
Para mim, tenho que planejar tb onde meus filhos ficam, suas rotinas...
Com tudo pronto, sexta-feira, fechamos a academia as 21:00, jantamos e fomos dormir. Já estava combinado de irmos na combi do Muky até Sta. Cruz, saindo as 2:00 da manhã. Tinha muita serração no caminho, demoramos um pouquinho p/ chegar no hotel da largada, mas deu tudo certo! Todos estavam prontos, as 3:30 foi dada a largada!
Saímos em direção à Rio Pardo, em seguida dobramos antes do viaduto, em direção a Herveiras. Esse trecho, próximo de Vera Cruz foi um dos mais frios, mas a medida que pedalávamos, foi esquentando. A esta altura, os mais rápidos já ganhavam distância.Eu, Bruno,Muky, Adilson Geri e Aires Moreira formamos um peloton. Um pouco antes da subida de Herveiras, parei p/ tomar um remédio, estava com dor de cabeça por causa da renite ao frio que tenho, aproveitei p/ comer um choquito, e o Aires trocou as pilhas do farol dele.


Começamos a subir, foi diferente, as outras vezes que subi sempre era dia, agora estava escuro. Era bonito olhar p/ trás e ver as luzes dos colegas refletindo nos paredões. Pouco depois disto, o sol começou a se pronunciar, mas sem se mostrar.
Logo estávamos chegando no Paradouro Serrano. Lá tomamos um café, e um pastel, reabastecer as garrafinhas, de volta a estrada.Seguimos p/ Barros Cassal, paramos denovo, os guris queriam provar a torrada que eu havia dito que era boa! Logo após o trevo de Barros Cassal, furei um pneu, os guris me ajudaram a trocar. Seguimos p/ Soledade, uma leve constante subida , muita serração, mas a paisagem foi especial, e o pedal até que rendeu. Esse trecho tinha muito buraco!
Chegamos umas 12:30 no PC em Soledade, onde almoçamos, foi especial de bom! A dona do restaurante conseguiu dois absorventes p/ mim, sim isso mesmo!
Seguimos em direção a Arvorezinha, trecho bastante montanhoso, mas muito bonito.
Chegando no segundo PC, O Bruno comeu um abacaxi, eu um frukito, uns picadinhos que havia levado, e castanhas de cajú. Seguimos, sobe, desce, sobe, desce...sobe, precisava aliviar, não tinha banheiro, fui no "eucaliptus". Já estava escurecendo quando chegamos no descidão de 7km de Dr. Ricardo, foi alucinante, fiquei com um pouco de medo.
Lá em baixo, logo avistamos a ciclovia, seguimos por ela, quase no final, o Aires entrou num buraco na ciclovia, quebrou um raio, pensamos, e agora? Seguimos p/ o hotel Hengu, que era o PC de Encantado, nosso colega audaxioso Eduardo Etgeton veio lá nos dar um olá.. O Bruno lembrou do Escatola, que tb é ciclista na cidade, o pessoal do hotel conseguiu o telefone dele p/ nós, o Bruno ligou p/ ele, e não é que ele nos emprestou uma roda! Enquanto esperávamos, aproveitamos p/
comer um pastel, e dois cafés. Turbinados pelo café, saímos num ritmo forte até Lajeado, de lá p/ Teutônia, nossa city! Neste trajeto, cruzamos com o Faccin na estrada em dois momentos, em Arroio do meio, e em Teutônia. Chegamos no Hotel União, quarto PC, as 21:50. Jantamos lá, uma boa massa, salada, bife de frango. Fomos lá p/ casa, todos acamparam lá, tomamos banho, cada um o seu, demos uma dormidinha de duas horas. Já havia deixado as cobertas p/ o pessoal. As 24:30 levantamos, tomamos um café, 01:15 pegamos a estrada. Andamos uns 12km, começou a chover, colocamos capas de chuva, meio apreensivos, saímos.
Foi um longo, demorado, dramático caminho chuvoso... Era escuro, não dava p/ ver se haviam buracos, não rendeu... Antes de Venâncio Aires, foi a vez do Adilson furar um Pneu. Paramos num posto, alguns comeram, o Muky queria abortar a missão, mas logo se recompôs. Filamos um chimarrão do cara do bar. Seguimos p/ Sta Cruz, estávamos todos deprimidos. Chegamos meio abalados em Sta. Cruz, na entrada da cidade toca meu celular, era o Ruimar, estava acordando na combi, dormiu umas 7h, mas ah! Ele esperou p/ terminar a prova conosco, isso é que é parceria!
Não podíamos descepcionar, descidimos que depois de tanta ralação, tenteríamos terminar. Tomamos um café num posto, comi dois pães de queijo,fomos p/ a estrada. Dentro de Sta Cruz, um cidadão abriu a porta do veículo, derrubando o Muky, e quase o Ruimar cai por cima...
Bora p/ estrada, tudo alegria, o Ruimar foi puxando o pelotão. Paramos num mercadinho p/ abastecer .
Meus joelhos doiam muito! Tentava puxar a perna, mas doia de qualquer jeito. Volta e meia, passava um anti inflamatório no joelho.
Combinamos com a mulher do pesque e pague, que comeríamos uma massa na volta. Seguimos até o trevo de São Jerônimo, o qual deveríamos tirar uma foto p/ comprovar a passagem. Uns dez km antes, começou a chover. Paramos p/ colocar as capas novamente, sendo que só tiraríamos no fim. Tirada a foto, comecei a contagem regressiva...
Paramos no pesque pague, comemos a massa, e fomos p/ a estrada. Os últimos 100km, o grupo se dividiu, O Bruno e o Muky ficaram um pouco p/ trás, eu fui com os outros, pois queria sair da chuva o quanto antes, já estava com um pouco de cólicas. Cruzamos com o Luiz Faccin novamente na estrada zelando por nós, tirando umas fotinhas molhadinhas!
Conseguimos manter um ritmo bom, apesar da chuva.
Chegando na 287, foi um terror, muito movimento, buracos, chuva forte! Fiquei com medo da descida da Unisc.
Chegamos no Hotel PC, as 19:00. Só alegria neste momento! Tomei um banho quente, roupas secas, e fui pegar a medalha. Neste meio tempo, o Bruno e o Muky chegaram. Estava concluido este brevet. Teutônia ciclismo, 100% de êxito!


Sem sombra de dúvida, foi um desafio físico, mas nesta prova o desafio psicológico foi maior! E ter coseguido superar, com certeza nos fortalece! Obrigada aos parceiros, Bruno, Muky, Aires, Adilson e Ruimar que me deu uma mãozinha quando o joelho apertava! Muito mais que a medalha que ganhamos, ficam as lembranças dos momentos que passamos juntos, das risadas, do trabalho em equipe, da superação dos obstáculos, mas acima de tudo, a amizade!
Valeu pessoal, agora quem sabe tentamos novamente o 1000KM?
Parabéns a todos ciclistas, não foi fácil, mas quando a gente quer, a gente pode!
Abração!

Susana Beatris B. Tigemann
Teutônia Ciclismo.