quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Relato Brevet 600km Campinas 2004- Cezar Barbosa

Vamos a limpeza no computador co grande Cezar para compartilhar alguns relatos mais antigos:

                               RELATO brevet 600km Campinas /SP 26/07/2004


    “Comece devagar e continue, demore todo tempo que for necessário para  atingir seu objetivo.”

    Antes de começar a prova eu procurei incutir essas palavras em minha mente, dessa vez estava sendo diferente das outras, tinha tudo para dar certo, começando pela nossa saída do Rio, fomos pontual e conseguimos sair às 10hs da manhã, conforme havíamos combinado. Eu “Cezar, Pedro e Alec”, não tinha como atrasar, porque nós já havíamos feito todos os preparativos no dia anterior, pois nas competições passadas, nós já havíamos passado por experiências horríveis com o transito e isso nos custou muito, afinal de contas nós estávamos indo fazer 600km, com as bikes presas no rack, partimos Rumo a Campinas
    A viagem foi muito tranqüila, estávamos bastante descontraídos apreciando as paisagens e quando passamos pela Dutra, comentamos sobre o  passeio para Aparecida, Patrocinado pela Amazonas-bike, o ponto da conversa era sobre a Protéica, que sempre estava na frente da galera com seu selim invisível, porque sua protuberância escondia tudo, João e Paulinho é que sabem contar essa historia, fizemos nossa primeira parada no grill de Resende, depois de muito sacrifício para convencer o Alec, pois ele queria adiantar o Maximo da viagem ate o grill de S. Jose dos Campos, mas começamos  bem com nossa primeira parada, conseguimos estacionar em um lugar seguro e  nossas maquinas estavam expostas juntamente com todos os nossos equipamentos, ao nosso lado estava estacionando um carro com uma família muito simpática, que ficaram olhando para nossas bikes achando muito estranhas, entramos no grill e fomos lavar as mãos, mas  decidimos ir dar uma olhada na churrascaria, antes de entrar na parte dos lanches, não precisa dizer mais nada, ficamos ali mesmo, a rampa estava linda, nossos olhos brilharam e nossos estômagos roncaram ao sentir o cheiro das comidas expostas, saladas, massas, rabada com polenta etc... E os doces, sem comentários, detonamos tudo, de tanto nós irmos ate a rampa fizemos amizade com a família que havia estacionado ao nosso lado, começamos a brincar com eles dizendo que comer muito doce engorda,  principalmente quando você come com o sentimento de culpa, depois fomos para os licores e café, só depois dessa maratona gastronômica, partimos em direção a Campinas, mas  sempre na procura de uma casa lotérica para tentar fazer o jogo da maga-sena que estava acumulada, não encontramos  nenhum lugar aberto e daí em diante o Alec começou a sonhar que iria ganhar sozinho, porque já havia feito o jogo no Rio, mediante isto, a viagem se tornou uma viagem de sonhos, pensando no que iríamos fazer com a grana da loto, a essa altura da viagem, estávamos escutando George Benson, nós queríamos escutar nosso hino do Guess Who, “These  Eyes”, mas o cd não estava rodando, quando menos esperamos, já estávamos chegando ao nosso destino, antes de ir para o hotel fomos ao Decatlon para ver equipamentos, mas saímos decepcionados não encontramos nada que queríamos, compramos alguns acessórios e partimos para o hotel, na subida da rampa encontramos o gaúcho carregando uma caixa com sua bike zero e demos uma carona a ele. Chegamos no hotel as 17:00 hs e começamos logo os preparativos de montagem, ajustes e checagem de material, queríamos dormir cedo, a largada estava marcada para as 06:00hs da manhã, nesse período já havíamos feito o chek-in e subimos para o nosso quarto, assim que entramos  o Pedro foi tomar banho, o Alec tirou da bolsa um colchão mágico para massagem e eu fui montar o som,  ai sim, fomos escutar nossas  musica favorita, These eyes, cry every nigth for you etc...durante a viagem, nós havíamos conversado sobre varias formas de terapia para combater a dor, e a musical foi à escolhida para ser aplicada, antes e durante o percurso de 600km, fomos ao restaurante  do hotel, comemos  saladas e massa e ai fomos dormir lá pelas 23:30hs, era  cedo em comparação as outras vezes . Nossa alvorada foi as 04:30 da madruga, These eyes   voltou a tocar novamente, mas o Pedro não ficou muito satisfeito, parecia que a musica estava agindo de forma contraria em seu corpo, (causando dor) afinal de contas ainda era madrugada e ele não iria participar do Audax como atleta, começamos o dia com alongamento na cama e depois as idas  para o banheiro, essa parte é melhor eu não contar porque assim esse relatório pode passar mal, mas era insuportável o resultado depois que saia alguém, o Pedro é que sabe, isso já era de se esperar, a parada no grill era responsável, mas ao mesmo tempo, nós precisávamos colocar para fora tudo de ruim que existia dentro da gente, e assim foi feito. As 06:00hs da manhã estávamos leves e soltos, prontos para partir formando o primeiro pelotão,(Cezar, Alec,Tchê), ficamos um pouco embaraçados, porque ainda tinha gente montado as bikes por ter chegado de madrugada, ainda pensei em esperar o Jaider e Morales, que estavam estreando as suas speed-ligth, afinal eles   seriam os meus parceiros de equipe reclinadas, mas percebir que eles ainda iriam levar algum tempo para sair e assim partir com o primeiro pelotão, Seguimos tranqüilo porque a manhã prometia um dia lindo, assim fomos pedalando os primeiros 60km juntos, houve o primeiro momento engraçado, a corrente do tchê saiu, ai ele parou, mas esqueceu que estava de sapatilha, era uma subidinha, derrepente vejo ele caindo em câmara lenta, se estabacou, larguei minha bike e corri para socorrê-lo, porque ele havia caido para o lado da pista, a sorte foi que não tinha carro passando, de  brincadeira falei para ele da próxima vez cair fora da estrada, e assim fomos pedalando curtindo o nascer do sol, estava muito lindo, não conseguíamos olhar para a bola de fogo que crescia e ia ofuscando nossos olhos, mesmo com óculos escuros. Segui minha pedalada mantendo os meus 25km de media, a essa altura o Alec e Tchê já tinham sumido, havia bastante subida,  eu estava me poupando para completar a prova, afinal era 600km, e a prova estava apenas começando, minhas frases continuavam soando em minha mente, ”comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo”, segui observando a natureza subindo a rodovia 065 em direção Jacareí, o primeiro PC, estava em um posto de gasolina (BR) no sentido de Campos do Jordão, observei o viaduto que passava por cima da Dutra, mas distraindo resolvi acompanhar o sentido da placa para Jacareí, fiz o retorno no final da 065 e entrei para o centro da cidade, antes de chegar na cidade parei em uma vendinha para beber água de coco, comecei a chamar e não aparecia ninguém, quando estava saindo, apareceram dois  garotos que ficaram admirados com a bike e começaram a fazer as perguntas de sempre, como faz para andar nesse negocio etc.. Na verdade eu estava com presa e não tive paciência para esperar o coco, quando me preparei para pegar a estrada, passou um carro e tive que ir pedalando pelo acostamento de chão,  parei porque havia muita pedra por baixo do mato, quando coloquei o pé no chão, senti minha sapatilha afundar num gagalhão, tive que ficar parado porque o outro pé estava preso no pedal, falei para mim mesmo, muita calma nessa hora, sai da bike e comecei a limpar a sapatilha no mato, mas não tinha jeito, o troço fedia muito, não sei  que bicho tinha feito aquilo, era algo nojento, peguei um pedaço de madeira e fui tirando o residual da trava da sapatilha, mas a inhaca continuava no meu nariz, depois disso deduzi que os meus companheiros de quarto não estavam tão mal assim, não desanimei, induzi minha mente a acreditar que o acontecido iria me trazer sorte, entrei em direção a cidade e passei por um posto de gasolina, que julgava ser o primeiro PC (posto de controle), mas não encontrei ninguém fantasiado de ciclista, peguei o mapa, mas não olhei a planilha com os detalhes e continuei pedalando em direção ao centro,  avistei outro posto de gasolina, quando tentei subir o meio fio, furei o pneu dianteiro, não me desesperei, falei para mim mesmo outra vez, muita calma nessa hora “Cezinha”, encostei a bike no muro, retirei a roda, peguei minha bolsa com reparo, quando o cara do posto ao se aproximar disse  que havia uma loja de bike na esquina, mas a  decisão que tive foi eu mesmo  trocar a câmera, agradeci ao rapaz e perguntei se havia outro posto de gasolina da BR,  ele disse que sim, me indicando um próximo após a ponte, segui cidade adentro e as pessoas estavam admiradas com minha bike, as crianças saindo da escola gritavam e o transito ficava livre para mim, eu achando o Maximo aquele momento em que estava sendo ovacionado pelas pessoas, parecia que estava chegando no final dos 600km,  derrepente meu tel tocou,  ai eu cair na real que estava no caminho errado, a ligação era do Alec, que estava me esperando para sair com o 1º pelotão, momento depois não conseguia mais falar com o Alec, o tel estava fora de área, ai tentei o tel do Abel e pude confirmar que estava totalmente errado, já eram 12:00hs nesse momento olhei para o relógio e vi que  já estava uns 40 mints atrasado, foi quando resolvi voltar para a 065 e fazer o retorno pegando a 070 em direção ao Rio, nessa altura do ciclismo, já havia ligado varias vezes para o Abel pedindo orientação, parecia que aquele cagalhão que eu tinha pisado, estava me perseguindo e estava fazendo força contraria a sorte que o ditado diz, ”pisar em merda da sorte” finalmente estava no caminho certo, quando derrepente meu pneu começou a esvaziar, ate chegar o primeiro PC no posto da BR,  foi o tempo todo assim, minha sorte é que estava perto, tinha em mente consertar o pneu e voltar logo para tentar alcançar o Alec e Tchê, fui ate o banheiro lavar o rosto, tomei um chocolate quente e finalmente limpar a sapatilha direito, no PC estavam o 2º pelotão, Abel, Pedro, Plínio e o mecânico, que deu uma geral na minha bike, trocou a câmara que estava com problema no bico, contei a historia do cagalhão e a galera se divertiu, quando estava me preparando para sair com o 2º pelotão de Niterói, chegaram Jaider e Morales e pediram para eu esperar um pouco, que eles já iriam sair e assim fiquei uns 20 mints esperando, fizemos fotos, falamos sobre os componentes das bikes e partimos, ops ia esquecendo comi um pedaço de rapadura que o Jaider estava levando, ele devia ter uns 3 kilos e estava oferecendo para todos, afinal ele queria eliminar peso, saímos, fizemos o retorno em direção ao Pc 2 (330km) no hotel, agora eu fazia parte do 3º pelotão, estava decidido a voltar a fazer a minha media de 25km, pois havia caído para 23.5km, devido o problema do pneu, como a volta tinha mais descida, resolvi aproveitar para recuperar o tempo perdido e acelerei deixando os meus companheiros de reclinadas a ver poeira, alcancei o 2º pelotão, mantive o mesmo ritmo e outra vez deixei o 2º pelotão a ver poeira, eu estava o Maximo, feliz da vida descendo a uns 75km, era demais..., quando começou a aparecer às subidas não me dei por vencido, eu não queria desanimar, porque tinha que alcançar o 1º pelotão continuei forte, foi ai que me aconteceu o inesperado, quebrei o banco, peguei o telefone para ligar para o  Pedro, mas o cel estava dando fora de área, nesse momento parou um carro com um senhor dirigindo e perguntou se eu precisava de ajuda, perguntei se ele tinha algum pedaço de arame no carro , ele disse que não, mas   que havia um posto de gasolina do outro lado da rua, parei um pouco, pensei e falei para mim mesmo que não podia desanimar, nesse momento me veio ao pensamento o M’Gaiver, rapidamente paguei a câmara de ar de reserva e fiz uma amarração na haste do banco, conseguir adiar o problema por mais alguns quilômetros, nisso o pelotão de Niterói passou por mim , mas eles não podiam fazer nada, liguei para o tel do Abel e consegui falar com o Pedro, quando falei que o banco estava quebrado ele falou que viria ao meu encontro, falei de imediato que ele estava proibido de vir porque assim eu seria desclassificado, eles estavam em um PC a 60km de distancia, minha posição era ingrata, estava pedalando com o corpo para frente porque não conseguia encostar as costas no banco, subia e descia sem encosto, minhas pernas começaram a doer e iniciar um principio de cãibra, mas na minha mente, a vontade de completar os 600km era muito maior que a dor, comecei a lembrar da musica e cantar “These eyes” para combater a dor, e assim fui ate o Pc no pedágio do km 58 da 065, cheguei larguei a bike na mão do Pedro e corri para banheiro, na minha bolsa que estava no carro, tinha uns zip- tired, dei Para o Pedro fazer um gatilho, porque o outro banco estava no hotel a 72km, enquanto isso, eu comia melancia e fazia alongamento para relaxar as pernas, que estavam doloridas da posição, já eram 19hs, tinha perdido muito tempo o 2º pelotão estava de saída novamente e eu preocupado com o tempo, porque o banco não ficava pronto, depois de muito tempo, o Pedro liberou dizendo que estava ok, montei na bike e partir, sai  dali feroz, mas foi por pouco tempo, andei uns 08km e novamente o banco quebrou, agora as hastes estavam partidas e não tinha como fixá-las, precisei incorporar novamente o M’Gaiver e conseguir engatilhar o banco de uma forma que não me deixou tão desconfortável, quando dei as primeiras pedaladas, furou o pneu traseiro, parei no acostamento, já estava escuro e falei novamente para mim mesmo, “Muita calma nessa hora Barbosinha” vamos trocar esse pneu que isso não é problema, e assim o fiz, coloquei a lanterna na boca e conseguir reparar o furo, passei a mão pelo pneu e retirei uma farpa de aço responsável pelo furo, dei ar no pneu, mas antes de partir mentalizei novamente, “comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo”. Reiniciei meu pedal mentalizando o PC 2 que era no hotel, lá teria outro banco para ser substituído, ainda na estrada passei por um posto de gasolina e consegui um pedaço de arame, fiz o reforço do gatilho que me fez chegar ate o km330 no hotel, deixei a bike com o Pedro novamente e subi para tomar um banho, eram 23:30 hs, logo depois chegou o Alec que estava completando os 380 km, cumprindo a estratégia conforme havíamos combinados durante a viagem, essa estratégia não valia mais para mim, comecei a ficar confuso, pensei em ir dormir e acordar as 04:00 hs da madrugada para seguir direto, mas algo me dizia que era melhor eu fazer os 50 km para igualar aos 380 km do Alec, Seria muito puxado fazer 270 km direto, ainda mais, eu estava debilitado devido aos esforços que não estavam programados, e assim o fiz, tomei um banho frio , comi um pedaço de pizza, abasteci minhas garrafas com energéticos e partir as 00:00 hs para fazer os 50 km e me igualar aos 380 km com o Alec, montei na bike e encontrei Jaider e Morales chegando, perguntei se eles queriam ir comigo , mas disseram que iriam descansar um pouco, assim que sair do hotel  estava rolando uma festa Rave na esquina, fazia muito frio e as pessoas quando me viram àquela hora com aquele traje pensaram; chegou mais um maluco para a festa, levantei as mãos dando um sinal de maneiro e partir para completar os 50 km  em busca do passaporte para a etapa final, as 02:00 hs da manhã, estava eu de volta passando em frente à festa rave, dando um grito de felicidade trazendo o numero chave 69 com a consciência mais tranqüila,  agora só restavam 220 km , falando assim parece ate uma sacanagem que fizeram com a gente, subir para o quarto, tomei um banho, cair na cama e dormir como uma pedra. As 03:30 hs o tel tocou, o Alec havia pedido para acordar aquela hora, me chamou para sair com ele, mas era impossível, meu corpo não obedecia mais o comando da mente, as perguntas eram freqüente, o que eu estou fazendo aqui?... porque eu estava fazendo aquilo com meu corpo?... o que eu iria ganhar com aquilo?... para quem eu queria mostrar que era um super homem, nunca mais faço isso etc... votei a dormir pensando que tudo era um sonho, quando foi as 04:00 hs  da madrugada  meu relógio começou a despertar, ele toca ai você aperta um botão, mas se você não desligar o alarme, ele continua tocando de 5 em 5 minutos, ele tocava e eu  dormindo apertava o botão para parar, e assim foi ate 04:30, porque o Pedro já não suportava mais o despertador e me fez sair da cama, fiz uns alongamentos na cama , depois tomei um banho frio e desci para tomar café, as 05:30 estava partindo para completar os 220 km que restavam, a madrugada estava fria, o céu estava mudando de cor, um cinza claro partindo para uma cor vermelha de fogo, era o sol que estava surgindo e meus olhos observavam aquela mutação com admiração, meus  olhos nunca tinham vistos coisa mais linda, comecei a cantar minha canção e agradecer a Deus por aquele momento único na minha vida, nesse momento pude perceber o quanto o  ser humano é tão pequeno, eu estava feliz e encantado diante daquela grandeza que  o universo me proporcionava e isso já havia respondido a  todas aquelas perguntas que vieram a minha mente quando o cansaço me envolvia, confesso que senti um pouco de pena daquelas pessoas que ainda estavam na festa rave, porque tudo isso estava ali diante dos seus olhos, mas eles pareciam não ver, assim segui feliz o meu pedal podendo apreciar o percurso de 50 km que havia feito na madrugada, fui pedalando na direção de Holambra, passei por vários campos floridos de lírios,estava pedalando sozinho mas parecia que havia uma procissão me acompanhando fazendo festa, ria, cantava e sempre que os pensamentos desanimadores surgiam (aquele do tipo, será que o banco vai quebrar novamente) eu lembrava logo da minha frase “comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo” , por um momento veio ao pensamento o meu amigo Lara, há uns dias atrás ele havia me dito que estava fazendo Raik, peguei o tel e liguei para ele, chamou e entrou na secretaria, mas não satisfeito, resolvi ligar no tel na casa da mãe dele, de prima atenderam, e era ele, dizendo que estava pensando em mim naquele momento, perguntou onde eu estava, eu disse que estava em Campinas fazendo 600km, falou que eu era maluco e perguntou o nome da rodovia que eu estava seguindo que ele iria mentalizar uma oração e iria ficar tudo bem, fiquei super feliz, porque tudo que eu precisava era  me livrar do fantasma do cagalhão.  Já tinha em mente que só precisava fazer 220 km, 110 km para ir e 110 km para voltar e pronto, não sabia quantos ciclistas estavam a minha frente, queria apenas completar os 600 km dentro do tempo estipulado, lembrei que havia combinado com a Julia para ela me ligar as 06:00 h s, mas como o telefone não tocou deixei para ligar as 07:30, e assim fiz, comecei a contar aquele momento lindo que estava vivendo, ela me perguntou como estava indo e lhe respondi que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, eu jamais  iria lhe dizer que estava difícil, porque não queria deixar ela preocupada comigo, desliguei o tel e acelerei o pedal curtindo uma reta plana, minha media chegou a subir para 25.9 km, e lá vou eu todo feliz, quando entro numa curva, e lá na frente, percebo que minha alegria iria durar pouco, começo a avistar umas subidas, que a principio eu imaginava que seria impossível vencer, parecia um paredão, mas logo fui me adaptando, porque quando você subia e depois descia, a velocidade que a bike atingia chegava a 60 km por hora, e isso ajudava para a outra subida, e assim foi como naqueles tobogãs, sobe e desce, ate a entrada para S. João da Boa Vista, onde completaria os 490 km, nesse momento a paisagem era tão bonita que eu passei a levar a competição como um passeio, parava para tirar fotos com o meu celular, não conseguia captar bem as imagens devido ao sol que era muito forte e a pouca resolução do cel,  assim fui indo, fazendo meu cicloturismo, quando faltavam uns 10 km para chegar no PC 4 em S. João, vejo um ciclista vindo no sentido contrario, descendo num ritmo frenético, era o Alec, já estava de volta com o passaporte carimbado indo para os 100 km finais, quando ele  me disse que só tinha ele na minha frente, aquelas palavras me serviram como uma injeção de animo, acelerei o ritmo, percebir que ainda estava no páreo para chegar entre os primeiros. Cheguei no Pc 4 muito eufórico e pedi para o mecânico fazer um ajuste na bike, fui correndo ao banheiro liberar um pouco de peso, e ai chegou o gaúcho só de camiseta e short reclamando que o percurso tinha sido mal elaborado, era muito pedreira e havia muita subida para 600 km, de certa forma, ele tinha razão, realmente era muita pedreira e todos nós estávamos consciente disso ao ver o gráfico, antes da largada, ao sair do banheiro, tomei uma água de coco,  abasteci as garrafas e sai saindo, nesse momento estava chegando o Tchê e mais atrás a equipe de Niterói, não dava para esperar, meu espírito de competição havia voltado e minha  meta era alcançar o Alec, nesse período fiquei sem receber ligação da Julia, eu tentava ligar mas não conseguia sinal, dava sempre fora de área e continuei descendo, na altura do trecho 344 presenciei um acidente incrível, um pick-up foi fazer uma ultrapassagem e estorou o pneu,  minha sorte foi que na hora da ultrapassagem, ele jogou o carro para o lado esquerdo e andou uns 300 m pela terra e só depois voltou à pista  na direita, eu estava numa subida e fui pedalando bem rápido para saber se alguém precisava de socorro, quando cheguei próximo, tinha dois senhores do lado de fora do carro e a roda  só no aro, como vi que eles estavam bem, eu segui meu caminho ate o km 188 que havia um PC móvel, esse PC ficava no topo da subida, o esforço que eu estava fazendo era muito grande, a bike não saia do lugar, era como pedalar numa esteira rolante, não chegava nunca, pelo tel o Abel e o Pedro havia me dito que tinha uma churrascaria no local, o sol estava muito quente e assim que alcancei o topo avistei o carro embaixo de uma árvore,  tudo parecia uma miragem, cheguei e fui recebido com um pedaço de melancia, minhas garrafas estavam cheias de isotônico que eu não agüentava mais beber, joguei tudo fora e troquei por água, faltavam apenas 65 km, havia bastante descida, nesse intervalo o Pedro ajustou o banco e perguntei se o Alec já tinha partido a muito tempo, o Pedro falou que sim,  + ou – uma hora, ai achei melhor respirar mais, porque seria impossível alcançá-lo, conversamos um pouco e partir com o banco alto, porque o Pedro tinha inflado muito e assim segui para o final, mesmo sabendo que não conseguiria alcançar o Alec, continuei pedalando forte para manter a media que havia caído para 24.5 km devido às subidas, nesse momento toca meu telefone, era a Julia, queria saber se faltava muito para terminar, falei que faltava pouco, uns 50 km e que chegaria por volta das 17:00 hs, naquele momento não passou nada pela minha cabeça, mas quando ela ligou novamente e perguntou o nome da estrada que eu estava pedalando, tive uma leve intuição de que haveria surpresa, continuei firme, outra vez tocou o tel, dessa vez era o Alec para dizer que tinha chegado, fiquei muito feliz e sabia que eu seria o próximo a chegar, meus nervos estavam trasbordando de euforia, porque o percurso era conhecido, já havia passado por ele  duas vez e agora estava passando do outro lado do Pc Virtual Indecoroso 69,  dali para frente era só descida e sabia que tinha apenas 25 km pela frente, lá ia eu levantando poeira, quanto mais perto do hotel chegava, mais energia eu ganhava, estava me sentindo capaz de seguir rumo ao 1200 km, 1500 km, 3000 km, tinha uma maquina incorporada em mim, parecia que eu era a bike!... Quando avistei o hotel, minha adrenalina triplicou, o tel tocou, era a Julia, eu falei tão rápido com ela, que ela não acreditou no que eu disse, falei que depois falava com ela, porque estava chegando para completar os 600 km, e assim que chegasse no hotel iria ligar para ela, foi uma chegada emocionante, a galera do apoio estava toda me esperando, aquela ultima rampa do hotel se transformou num tapete vermelho que me levava a gloria de ultrapassar a barreira dos 600 km as 17:30 hs em 35:30 hs , após isso era flash para todo lado, estava muito feliz recebendo abraços da equipe de apoio e pensando que horas antes, estávamos ali naquele mesmo local, partindo para enfrentar um desafio, que nos era imposto pela nossa simples vontade de vencer o limite de nossos corpos e fazer valer as palavras “Mente Sã e Corpo Sadio” e completar 600km. Quando derrepente, entra um táxi no hall do hotel, a porta se abre, é a Julia que desce brigando comigo porque já havia chegado, ela queria fazer uma surpresa e achou que eu não estava falando a verdade quando falei que já estava chegando, minha alegria era imensa e virou êxtase, corri ao seu encontro e fui lhe abraçar, mas em troca recebi um tapa no ombro, porque cheguei primeiro que o táxi que a trouxe da rodoviária, notei que havia alegria em seu coração, mas seu rosto estava confuso, porque a surpresa que ela iria fazer não saiu como ela queria, para brincar com ela, me equipei novamente e simulei uma outra chegada, para que ela pudesse me fotografar, esse momento foi muito engraçado,  por causa da minha espontaneidade de subir na bike e fazer uma outra chegada, mas falei que ela não tinha culpa de eu ter conseguido pedalar mais rápido que o táxi, depois nos abraçamos e nos beijamos felizes, meu corpo estava sobre efeito da adrenalina, subir para o quarto para tomar um banho quente, só ai dei os parabéns ao Alec, deitado em seu colchão mágico, depois  descemos para o restaurante do hotel e fomos esperar o restante dos atletas chegar, como era de lei, pedir uma cerveja long- nec,  porque precisávamos brindar o grande feito. 
                                               600 km  Campinas-SP
                                                    Cezar A. Barbosa    

Relato Paris Brest Paris 2007- Cezar Barbosa



Excluindo a palavra “Desole” o Paris-Brest foi o maior barato.
                              
Para começar esse relato foi preciso um pouco de audácia, porque na realidade depois dos acontecimentos ele quase ficou na gaveta, mas vamos deixar os erros de lado e aprender com as lições que a vida tem a nos ensinar. Tudo começou em 08 de Outubro de 2006 quando decidir pedir demissão da empresa para me dedicar exclusivamente aos desafios do Audax, sabia que o ano de 2007 seria o ano do tão esperado 1200 km Paris-Brest. A principio fui taxado de louco e quando eu falava aos amigos sobre isso eles me repreendiam, dizendo que eu havia feito uma loucura em largar o emprego para participar de um evento que nem mesmo premiação em dinheiro tinha lá no fundo eu também sabia que havia errado, pois o evento só iria acontecer em Agosto de 2007, as provas eliminatórias seriam apartir de fevereiro, na verdade não havia necessidade de ter feito isto, mas as pessoas não sabiam que eu vinha de 08 anos de trabalho exaustivo, embarcando para saturar em uma câmara hiperbarica com 3x4 de diâmetro por 28 dias vendendo minha saúde, não conseguia sair do vermelho no banco, além disso, durante o trabalho escutava reclamações o tempo todo, mas ninguém movia uma palha para melhorar nossas condições, enfim juntei isso tudo e seguir em frente enfrentando as advertências dos mais próximos. Minha primeira aventura começou em 14 de Outubro, quando fui para New York com a Julia, ela foi fazer compras e aproveitei para passear, depois em novembro fui ao Campeonato Brasileiro de Basket-boll Máster em Natal conseguindo um feito inédito para a AVBN, saímos em 2º lugar perdendo apenas para a Seleção combinada do Rio. A festa estava apenas começando e tudo era pura alegria.
             
O Final do ano estava próximo e tudo fluía a mil maravilhas, meu treinamento se limitava a 100 km por dia com minhas idas ao Recreio para molhar minhas plantas, às vezes aumentava o trajeto para 200 km quando partia para Saquarema em busca de descanso, mas fazia tudo isso sem Stress. Durante esse período de treinamento eu aproveitava para testar os protótipos de bike que o Pedro Zohrer construía, minha coleção de recumbent estava cada vez maior e a cada mês mudava os componentes do quadro para testar e definir uma das Zohrer como a The Best, mas isso estava se tornando difícil porque a cada ida no Recreio com um modelo diferente, eu sempre achava que estava pedalando com mais facilidade, eu tinha a “In the Cisa” como preferida ate quebrar o seu quadro subindo o Joá.
                
O final do ano passou como um cometa, festejamos o Natal no Recreio com os familiares, o Ano novo mais uma vez fomos ver os fogos na Avenida Atlântica na cobertura de um casal de amigos, Milton e Eliana. O ano começou a mil maravilhas e o calendário dos desafios do Audax estava todos prontos, mas dessa vez não iria haver o tão esperado 200 km de
Queluz, isso esfriava um pouco os ânimos dos audaciosos cariocas, pois essa prova é considerada a mais forte no eixo Rio-S. Paulo. Iniciei a temporada de 2007 no dia 02/01 fazendo os 200 km de Ubatuba sem sofrer dificuldade por conhecer o percurso, em 10/03 repetir a dose dos 200 km, fazendo Niterói-Saquarema de Tamdem com o Pedro Zohrer sem problemas. No dia 31/03 partir com o Eduardo Bernhardt para os 300 km de Campinas, no dia 05/05 voltei a Campinas para os 400 km e finalmente no dia 06/06/2007 estava fazendo os 600 km carimbando o Passaporte para os 1200 km do Paris-Brest-França.
             
Contando assim tudo parece tão fácil, mas isso não é a verdadeira realidade porque para conseguir esse passaporte rumo ao Paris-Brest foi preciso muito sofrimento, principalmente nos desafios de 400/600 km. Após todas essas conquistas minha meta estava traçada, mas ainda existiam alguns obstáculos a enfrentar, pois para chegar à França existia um custo e não era como ir a Campinas ou Ubatuba, eu precisava conseguir um patrocínio para isso, pelo menos seria a coisa mais lógica, mas eu na inocência, esquecia que estava vivendo no Brasil, um País onde o apoio ao esporte só acontece se houver algum beneficio financeiro em troca para quem vai apoiar, isso não me desanimava porque meus amigos de Recumbent-Zohristas estavam sempre a me animar dizendo que eu iria participar do evento a qualquer custo, mediante essa promessa eles começaram a circular dentro da pagina do Grupo uma campanha para arrecadar fundos, no inicio fiquei meio sem jeito, mas aos poucos conseguir ver que esse era um bom paliativo, pois juntamente com o Eduardo Benhardt havia desenvolvido o projeto “Uma Zohrer no Paris-Brest”, mas não havíamos conseguido nada, sempre que batíamos em uma porta recebíamos um não porque os incentivos já estavam destinados aos Jogos do Pan, mesmo assim não desanimei e resolvir estender o pedido de ajuda para os amigos de trabalho e amigos mais íntimos, o efeito dessa campanha deu algum resultado, conseguir arrecadar em torno de 620,00 reais. O projeto da viagem incluindo apenas as necessidades básicas como, passagem, inscrição, estadia e alimentação giravam em torno de 4.800,00 reais, já era alguma coisa ter conseguido esse valor e além do mais essa minha campanha não era um caso de doença e sim a concretização de uma vontade, sendo assim comecei a esquecer os patrocínios e usei a única arma que tinha; Meus cartões de créditos que estavam guardados no bolso do blazer a espera de uma emergência.Com um deles comprei a passagem para garantir minha vaga em um vôo, pois a época era de alta temporada na Europa, em seguida com o primeiro montante da ajuda conseguir fazer um deposito de 20% para a estadia através do A. Costa, para me tranqüilizar mais o Richard fez uma transferência pagando a inscrição e me falou para não ficar preocupado com o restante da estadia, porque seria um presente pela nossa grande campanha durante os desafios no Brasil.
           Uma coisa eu tinha certeza, nada iria deter minha ida para a França porque minha determinação estava acima de qualquer coisa. Os dias passaram-se rápido e eu já havia decidido qual bike iria levar e uma semana antes da minha viagem conseguir junto com o Thiago ajuda da Kraft-Bike para modificar os componentes da minha Righ-Race, em troca usaria a logomarca da loja, mas na mesma semana quando sai para fazer um pedal light rumo ao Leblon fui surpreendido com a quebra do quadro, imediatamente acionei o Pedro Zohrer e fui ao seu encontro na Faculdade Estácio para fazer um estudo no laboratório de solda, mas de cara eu já sabia que aquela bike estava condenada a não ir à França, daí pra frente não precisa dizer mais nada, foi uma correria total e o Pedro ficou na incumbência de construir outro quadro, um sinal me foi dado, mas não levei a serio, sem me alarmar apenas mudei os componentes para o quadro da Low-Race e continuei a fazer meus treinamentos. Continuei minha vida como se nada tivesse acontecido, pois sabia que tinha outra bike para
                   Levar, mas lá no fundinho do meu coração eu queria fazer esse Audax com a Racer, já estava me sentindo bem com o seu modelo despojado, além do mais tinha sido com ela que havia conseguido o passaporte para os 1200km. A quatro dia da minha viagem e a dois dias do meu aniversario o Pedro me entregou o quadro novo reforçado com alguns quilos a mais para garantia de não quebrar, imediatamente levei ate a Kraft para fazer a transferência das peças, mas não tive sucesso porque o mecânico estava ocupado com as entregas da loja, colocamos as peças no carro do Pedro e partimos para o Salomão-Bike, falei com ele sobre o ocorrido e entramos pela noite montando a bike, só iria ter dois dias para testá-la, no dia 14/08 ela teria que estar embalada dentro da mala bike, essa era uma das vantagens sobre as outras. No dia 12/08 estava fazendo aniversario, eu já havia combinado com a galera do pedal um jantar de despedida para a França, não estava querendo fazer nada de festa, pois a Julia não estava no Rio e além do mais eu estava querendo evitar gastos.
            
No dia seguinte a ficha caiu e ai começou a correria para a viagem, já havia combinado com o Edu a nossa saída, seria as 18:00hs o vôo estava marcado para as 21:45hs, mas antes eu teria que despachar minhas malas recheadas de guloseimas brasileiras que seriam levadas para a Itália, o Edu chegou a brincar comigo perguntando se eu estava fugindo do Brasil.
                                                    
Não tive problemas para despachar minhas bagagens, apesar de estar levando muita coisa não ultrapassei a regra de peso, isso me ajudou a ganhar tempo e aproveitamos para jantar. Durante o jantar recebi um envelope das mãos do Edu com um cartão me desejando boa sorte, quando abri o cartão eu pude ler algumas palavras encorajadoras que me deixou emocionado, agradeci pela força e ficamos conversando enquanto jantávamos. O vôo partiu dentro do horário previsto, mas ele não era direto para Paris, pois tinha que fazer uma conecção em Madri aguardaríamos algumas horas no aeroporto de Barrajas. Minha chegada estava prevista para as 21:00 hs devido ao fuso horário, durante o vôo não houve novidades porque meu comportamento durante o vôo é sempre dormir e acordar na hora certa, tudo funciona no automático. Nosso vôo atrasou um pouco e as 22:00hs eu estava desembarcando no aeroporto Charles de Gales, quando o avião começou a taxiar comecei a recapitular os planos que havia feito para seguir de trem ate o outro lado de Paris em Saint Quentin em Yvelines onde ficava o hotel que ficaria hospedado. Não tive pressa em sair do avião e fiz questão de sair um pouco atrás para que as pessoas me guiassem ate a esteira para retirar as bagagens, a caminhada no aeroporto foi longa, quando cheguei já tinha algumas malas passeando, acredito ter levado uns 30 minutos entre sair do avião e chegar para retirar as bagagens, conforme a esteira girava as pessoas iam retirando suas malas e a fila reduzindo, mas nada das minhas aparecem, por um instante conferi o bilhete para ver se estava no lugar certo e realmente era o vôo, quando ficaram apenas quatro pessoas na espera meu instinto começou a dar sinal de alerta, mas como se tratava de uma Bike relaxei e imaginei que teria que pegar em outro lugar, nada disso aconteceu, meu extinto estava correto, minha bagagem havia desaparecido, não me restava nada senão ir fazer a ocorrência no balcão da Air-France.
Eram 23:00hs quando fui atendido e por sorte encontrei um atendente com paciência e pude reportar o ocorrido, lhe expliquei através de um idioma tradicional para quem não falava Francês, “Portunhol-inglish-mimico” isso é uma mistura de Português, Espanhol, inglês, mímica, com a papelada que eu tinha em mãos foi fácil explicar o ocorrido e mediante isso recebi a promessa de que minha bagagem estaria sem falta no dia seguinte no hotel. Após isso a primeira coisa que veio em meu pensamento foi que eu era um cara de sorte, iria evitar os transtornos de ter que me locomover com duas bagagens imensas ate o outro lado de Paris pegando metro e trem, sai dali feliz da vida, fui ate um posto de informação para conseguir um mapa e checar os itinerários, estava apenas com minha bagagem de mão, isso facilitava bastante meu deslocamento. As 23:40 hs eu estava descendo para a estação de trem do
                                                                                
Aeroporto tinha que seguir ate a estação de Saint Michel e trocar para a linha C, mas antes disso tinha um trecho que estava em obra, era preciso descer sair da estação e fazer uma conecção de ônibus, as pessoas no trem eram as mais estranhas já vista, primeiro pela hora, o aeroporto estava do outro lado da cidade, tive que passar pelos bairros pobres de Paris e a coisa mais comum eram ver ratos nas estações convivendo juntos com as pessoas como se fossem íntimos. Quando desci na estação tive que andar acompanhando a placa de saída por quase meia hora, subindo escadas e caminhando por túneis que pareciam um labirinto, quando pude ver o céu sentir um grande alivio e observei uma fila que se formava no ponto para esperar o ônibus que iria ate a estação de Saint Michel, para me certificar perguntei se estava certo a um rapaz que estava esperando, falamos um espanhol carregado, mas foi possível compreender, durante o trajeto já comecei a me familiarizar, pois a estação de Saint Michel estava próxima ao Rio Siene e ai comecei a me sentir em casa.
As 01:30 hs eu estava descendo do ônibus e a Praça de Saint Michel estava cheia, os bares, as pessoas tirando fotos, mas estava frio, caia uma garoa, sentir vontade de ficar por ali e deixar para seguir meu rumo com a luz do dia, isso ficou somente na vontade porque sabia que não podia gastar grana e a maneira de aliviar esse desejo, era converter o Euro para nosso Real; Um remédio infalível bastava multiplicar por 1x 2.80, normalmente uma cerveja ficava em torno de 5.00 euro + taxas, isso já basta, pois jamais iria passar o resto da noite com uma cerveja, rapidamente seguir meu caminho para Saint Quentin em yvelines. As 02:00hs da manhã estava desembarcando na estação e para minha surpresa estava tudo fechado, parecia que eu estava chegando em uma cidade fantasma.
                                                                                                                       
Após descer do trem e ver aquela cidade vazia confesso que não tive medo, me dirigir ate o segurança da estação e mostrei o endereço do Hotel perguntando se ele conhecia, mas sempre seguindo a velha lição de que os franceses gostam quando você tenta falar a língua deles, “Parlez-vous Português?” Após isso fiquei sabendo que o hotel Pavillon dês Gâtines estava uns 10 km da estação e seguir para o ponto de táxi vazio, não passava uma viva alma e o segurança já havia fechado a estação depois de 40 minutos contado no relógio, apareceu um táxi fazendo retorno no ponto, rapidamente fiz sinal e após entrar no táxi exclamei; Pardon conduisez-moi hotel Pavillion dês Gâtines s’il vous plait! Durante o trajeto tentei puxar um assunto, mas o condutor não me deu confiança e em 10 minutos estávamos entrando na portaria do hotel, para minha felicidade havia um bilhete deixado pelo Lacerda comunicando que a minha chave estava no quarto do Guilherme Kardel. Era 03:20 da manhã quando bati na porta do Guilherme, ele estava fazendo uma arrumação nas coisas dele, foi um encontro maravilhoso porque conseguir falar com alguém que realmente entendia minha língua, eu estava muito exausto mais aquele momento de felicidade me deixava novo, comi um sanduba com suco que ele me ofereceu e após ouvir uma parte da sua viagem pela Alemanha fui para o meu quarto desmaiar.
                                                                                                      
As 09:00 hs, eu já estava fora da cama seguindo para o salão onde acontecia o café da manhã, quando entrei na sala fui abraçado pelo Luis Lazary e Elvira, logo depois veio o Faccin, Erich, Lacerda, Formiga, Calvete, sei dizer que naquele momento, apesar de estar sem as minhas bagagens a felicidade me dominava, pois estava revendo meus amigos audaciosos novamente. Quando contei o acontecido percebi o sinal de tristeza, pois esse fato já havia acontecido com alguns deles, o Faccin a sua bike a Elvira sem mala, mas o Faccin não se fez de rogado e comprou outra bike para não deixar seu sistema nervoso abalado. O grupo ainda não estava completo, porque alguns audaciosos estavam passeando pela Europa e só iriam chegar no dia 16/08. A sala do café estava cheia, mas o pequeno grupo de brazuca se destacava pela espontaneidade, eu já estava vestido com o uniforme da equipe porque era a única roupa que vinha trazendo na bagagem de mão, o Lacerda me emprestou seu shortinho baby look, assim pude ficar na espera da minha bagagem e recepcionar os audaciosos que chegavam.
Nós estávamos em pleno verão na Europa, mas era um verão atípico e os Audaciosos percebendo isso aproveitavam para fazer seus passeios de bike pelo centro de Paris. No dia 17/08 chegaram os audaciosos Richard e Juan e a festa foi total e vocês precisavam ver a alegria estampada no rosto do Juan, como diz o ditado, se sentindo um verdadeiro pinto no lixo, no dia seguinte chegou a Adriana, Jorge, A. Costa, Denis, Klaus, enfim depois disso com a equipe completa difícil foi reunir todos para a foto oficial.
                       
A equipe finalmente conseguiu reunir para a foto oficial, após isso o grupo começou a se mobilizar para a vistoria das bikes e isto contribuiu para começar nossos passeios pelas lojas de Paris. Alguns audaciosos haviam deixado para comprar os acessórios necessários em Paris devido à qualidade do material ser melhor, alguns com preço mais em conta, sei dizer que cada saída nossa era uma festa, estávamos em 3 carros e normalmente depois das compras sempre saiamos para almoçar. Durante esse tempo que ficávamos juntos nossa conversa era sobre as estratégias para o desafio que iríamos enfrentar e nas lojas nos divertíamos bastante apreciando a diversidade de acessórios e algumas vezes fazíamos fotos para registrar esse maravilhoso acontecimento.
                      
O dia da vistoria estava chegando e minha bike continuava viajando mundo afora, mas para minha felicidade o Gringo Klaus havia trazido uma recumbent na sua bagagem, pois o Kardel havia telefonado para ele perguntando sobre a possibilidade de conseguir uma reclinada para que eu pudesse usar, a alegria envolveu o grupo todo com essa atitude do gringo, mas alegria maior foi quando descobrimos que ele estava também trazendo um carregamento de cervejas alemãs junto com as muambas (Acessórios) que trazia para vender, nossa primeira iniciativa foi programar uma festa para a noite, no meu quarto havia algumas garrafas de vinho, o Faccin já havia combinado com o Portuga srº Jorge/esposa para trazer algumas tortas e apartir daí a festa estava arrumada as vésperas da vistoria das bikes.
                      O sarau  aconteceu no aptº de casal Facin/Lacerda, a mesa estava maravilhosa repleta de tortas e quiche, as garrafas de vinhos eram variadas, volta e meia eu pedia emprestado uma cerveja do gringo, o assunto era sobre o percurso, pois nós estávamos na companhia de um portuga cheio de experiência em audax, ele com seu português carregado nos explicava todos os detalhes, as perguntas eram freqüentes embora algumas vezes precisavam ser traduzidas pela sua esposa (Depenadores de velô). Nossa reunião estava show, alguns audaciosos já estavam dormindo sentados, quando tudo parecia está bem o Canadense do quarto ao lado dispara um What fuck doing!... I can`t sleep men`s, e rapidamente nosso interprete Lacerda foi falar com o Canadense, depois de uma lábia conseguiu convencê-lo a participar da festa, depois disso entramos noite adentro falando sobre os 1200 km Paris-Brest. 
                        
As 07:00 hs da manhã já estava acordado, como ainda tínhamos um dia para aproveitar, durante o café, eu, Lacerda e Faccin, combinamos de ir conhecer o Centro nervoso de Paris, seguimos de ônibus para Plasir, depois pegamos um trem para a estação de Berci onde fizemos uma coneção para o metro rumo a Estação de Notre Dame, quando descemos na estação descobrimos que estávamos em um verdadeiro labirinto, mas graças à habilidade do nosso guia Lacerda, conseguimos sair do lado contrario a praça onde estava a Catedral, mas tudo para nós era valido, estávamos passeando, cada lugar que passávamos era registrado com nossas maquinas, monumentos, praças, restaurantes etc... Nós realmente estávamos nos divertindo bastante, mais interessante ficou quando entramos na Fenac para ver as novidades, lá existia tudo de eletrônicos, livros, cds, bolsas, roupas, enfim quando nós voltamos à nossa realidade, já era 20:00 hs precisávamos voltar porque iríamos ter um longo caminho a percorrer ate Saint Quentin contando com o horário do ultimo ônibus de Plasir.
                              
Durante a viagem o assunto era sobre o centro nervoso de Paris que não havíamos encontrado, devido a isso os audaciosos Lacerda/Faccin vieram pegando no meu pé sem respeitar minha tristeza pela falta da minha bike que ainda não tinha aparecido, na verdade eu já estava conformado, só precisava decidir com que bike iria fazer o pedal, com a recumbent do gringo ou a híbrida do Faccin, eu tinha duas opções á mão, mas para minha felicidade temporária quando cheguei no hotel fui recebido com aplausos pela turma que estava hospedada, eles estavam me esperando para comemorar comigo a chegada da minha tão esperada bike, pensei que era brincadeira, mas tive um pressentimento quando vi um carro com o nome da empresa aérea e fiquei numa alegria que não sabia o que fazer, minha primeira atitude foi pegar a bolsa e correr com ela para o pátio, queria vê-la montada a qualquer custo e rapidamente a equipe toda veio junto comigo para me ajudar a montá-la. Não sabia por onde começar devido tamanha felicidade, rapidamente o Richard pegou as ferramentas no carro e juntamente com o Faccin caímos em campo iniciando a montagem.
                              
Nós estávamos a algumas horas de iniciarmos a vistorias das bikes, minha adrenalina estava a mil por hora, era 23:30 hs da noite, mas meus amigos audaciosos não iam dormir porque queriam ver o resultado final da montagem, os gringos olhavam assustados porque cada pedaço que eu tirava da bolsa era totalmente diferente estranho para eles, a Racer tem a relação na dianteira e isto a torna uma bike diferente, o Ruan juntamente com o gringo Klaus me incentivavam me oferecendo ora um pouco de cerveja e vinho, eu sem me fazer de rogado não recusava suas ofertas, pois estava fazendo frio, essa era uma boa maneira de me aquecer. As 00:15 hs da manhã a bike estava ok e sair para fazer o primeiro teste bike, como já era muito tarde me limitei a fazer um pequeno giro em volta do hotel porque precisava descansar, teria que acordar cedo para montar os acessórios e ir para o ckeck in de largada.
                   
Na verdade não conseguir dormir, fiquei rolando na cama devido à expectativa do evento, mas isso já era esperado por todos, normalmente a adrenalina aumenta fazendo com que o sono fique para segundo plano. Minha vistoria estava marcada para as 13:00 hs e a largada seria as 21:00 hs, isso porque eu iria sair com o grupo de bike especiais, o jantar seria apartir das 17:00 hs, eu também não tinha vontade de comer, as ruas estavam tomadas pelos grupos que iam saindo dos hotéis em direção a Saint Quentin, onde seria a Largada, reunimos nosso grupo para sair um pouco antes do jantar e seguimos formando um pelotão de brazucas bem animados existia ciclovias durante uma boa parte do percurso, a todo instante víamos passar pelotões de outros paises e isso era uma festa porque sempre nos cumprimentávamos, embora algumas vezes não entendêssemos bem as línguas. Realmente o que sentíamos naquele momento era algo inexplicável, a cidade toda estava mobilizada para o evento e quando passávamos nas ruas éramos ovacionados pelas pessoas que incentivavam gritando Bon Courage!...Bon Courage!...Au revoier
                        
As 19:00 hs eu já havia feito minha vistoria e para minha felicidade tive a oportunidade de apreciar a chegada dos ciclistas que se posicionavam para a largada, era algo inacreditável os grupos chegando formando pelotões de 600 ciclistas, na minha categoria especial éramos apenas 110, mas a atenção era toda direcionada para a gente, existia recumbent de todas as formas, algumas com carenagem, outras duplas, triplas etc... Algo inacreditável, coisas que meus olhos e minha maquina registravam sem cessar, na realidade eu estava encantado com tudo, eu era o único brazuca de recumbent e as línguas eram varias, mas de vez enquanto eu aquecia meu inglês para entrar no papo com o grupo. As 20:40 hs nós estávamos posicionados e as 21:00 hs foi dado tiro de largada para meu pelotão.
                 
Durante a largada saia um carro de som tocando o hino Francês com uma gaita de fole numa velocidade media de 30 km, ele nos levava ate a saída da cidade e depois voltava para buscar os outros pelotões, chovia bastante, mas isso não desanimava as pessoas que se posicionavam nas ruas para nos aplaudir durante a nossa passagem, algo inacreditável, as crianças nos davam as mãos para serem tocadas e nós podíamos ver a felicidade estampada em seus rostos, em alguns lugares existiam mesas prontas com água, café, lanches etc... Tudo para nos servir sem que gastássemos um euro sequer. Pude desfrutar desse pouco momento de prazer ate o km 50 quando em uma pequena subida na estrada entre a relva quebrei o cambio da minha bike, isso aconteceu as 23:00 hs da noite, mas não me entreguei e depois de muita luta conseguir ir ate o PC2 a 300 km em fougeres para depois abandonar a prova conforme meu breve relato. Cezar Barbosa - Rio de Janeiro - RJ - Relato PARIS-BREST-PARIS 2007
Depois de viver essa grande aventura eu ainda tinha mais uma missão a cumprir, precisava levar as muambas (comidas e lembranças do Brasil) para a Itália, era preciso me deslocar para o outro lado de Paris com aquela tralha toda, nós havíamos combinado que faríamos um churrasco de confraternização após o Audax independente de qualquer coisa, porque nós sabíamos que alguns não completariam o percurso, devido aos obstáculos impostos, mas só de está participando do evento já éramos vencedores e por isso precisávamos fazer esse encontro para comemorar nossa grande participação.
                   
Primeiramente precisávamos juntar os cacos dos audaciosos, as dores eram intensas, algumas difíceis de serem curadas naquele primeiro momento pos prova e todos sabíamos disso, eu particularmente fiquei muito triste com o que aconteceu comigo, mas dor maior eu sentia quando escutava o motivo do abandono da prova pelos amigos que haviam chegado tão próximo de subir ao pódio. O Richard Dunnes com 1000 km, Adriana/Guilhrme que dormiram no ultimo PC dominados pelo cansaço, Ruan que sofreu com seu banco, o gringo Klaus, A. Costa que quebrou nos primeiros km, enfim foram muitas dores, mas também tivemos momentos de felicidades com nossos brazucas audaciosos que completaram a prova, David, Faccin, Jorge, Lazzary, Formiga, mas disso tudo o mais importante foi que nós fomos lá e sentimos o coração pulsar fortemente por um esporte que gostamos de praticar, quero agradecer a todos os envolvidos diretamente e indiretamente em especial as esposas que sofreram bastante com a espera, Denis e Lacerda, o Cara que Firmou a Palavra titulo desse relato “DESOLE”...


                                                            Cezar Barbosa
                                                       PARIS-BREST-PARIS 2007
    
          Depois de viver essa grande experiência me resta esperar o Paris – Brest em 2011
                                       




terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Brevês 2013 Santa Ciclismo

Estamos iniciando a organização do brevet de 300km do dia 24 de fevereiro.
A largada será na noite do dia 23.



Estamos estudando as alterações necessárias para este percurso, em relação a confirmação da possibilidade de uso destes mesmos pontos para os PCs.
Em breve envio mais informações sobre estrutura, inscrições e outros

O brevet de 400km será neste percurso:
O brevet de 600km será com o seguinte percurso, com largada e opção de pernoite em Santa Cruz do Sul


Os brevês serão organizados de maneira a valorizar a autosuficiência de cada ciclista e com o uso de uma estrutura de apoio, mínima, ou zero. As opções de alimentação e paradas estarão indicadas em planilha especifica de cada brevet. O valor da inscrição será compatível  com o que for oferecido e gasto para a organização do brevet.
Este clube preza pela autosuficiencia do ciclista, uma das regras do Audax Club Parisien, portanto não necessariamente haverá carros de apoio, ou voluntários. Na estrada será você e seus companheiros randonneurs.
- Não haverá estrutura para os PCs, sendo apenas estabelecimentos fáceis de serem encontrados, onde o passaporte deve ser preenchido com o horário de chegada e alguma verificação deve ser obtida (recibo de qualquer comprar no estabelecimento, com horário indicado).
-  O ciclista deve ser capaz de completar o percurso por si mesmo. Tenha em mente que você é o responsável pelo sucesso de sua prova. Podem surgir adversidades no caminho (problemas com a bicicleta, chuva, vento, frio, etc.) que farão parte do desafio, portanto, esteja preparado para qualquer imprevisto.
O regulamento para os brevês é o dos BRM ( Brevet Randonneurs Mundiais) disponível em: 
http://randonneursbrasil.com.br/regulamentos/1-regulamentos-dos-brevets-randonneurs-mundiais-brm-de-200-km-a-1000-km

Feliz 2013