sábado, 26 de março de 2011

O Candidato ao Paris Brest Paris

Histórias de um candidato a brevetar no PBP 2011.
O nome dele pode ser Chim Pan Zé Mirtillo.
1- Escolheu o brevet de 600 km mais fácil para se classificar para o Paris Brest Paris. Ta louco fazer um brevet de Curitiba, ou em Santa Cruz do Sul, são brevets com muita subida.
2- Pedalou o brevet de 600 km em 39h e 50 minutos sem dormir, pois estava lento e não sobrou tempo. Terminou o brevet virado em um bagaço, semi vivo. Durante a madrugada quase caiu por ter cochilado em cima da bike. Depois do brevet foi para casa e dormiu 15 horas seguidas. Tirou folga na segunda e voltou a trabalhar terça a tarde depois de ter dormido até ½ dia. Na quarta feira, descansado, sentado confortavelmente na sala com o ar condicionado ligado, em frente ao computador olhando as belas fotos do brevet no blog da organização ele pensa: pedalei o meu primeiro brevet de 600 km e estou bem, sem sono, sem fome, sem dor nas pernas e com vontade de pedalar novamente, dai escreve a frase mágica: pedalei o brevet de 600 km e cheguei inteiro, estou pronto para participar do Paris Brest Paris 2011.
3- Pedalou um brevet de 600 km com PCs a cada 50 quilômetros e a mulher foi fazendo apoio levando comida especial, bagagem e outras regalias. Só pedalou o brevet de 600 km porque não tinha previsão de chuva.
4- O ciclista pesquisa alguma coisa sobre o Paris Brest Paris e encontra um texto assim: http://fixasampa.wordpress.com/2010/11/24/paris-brest-paris/ onde encontra uma outra frase mágica:
É realmente uma boa rota para uma roda fixa. As colinas são constantes, mas nenhuma delas é ridícula. Em nenhum momento cheguei a pensar em descer da bike e empurrar.
Sonhando acordado o ciclista entende a frase assim:
É uma boa rota, só tem colinas e nem grandes subidas. È um brevet de 1200 km fácil.
O ciclista se esquece de alguns detalhes: de comparar o PBP com o BMB, de saber quem é o ciclista e que experiência ele tem.
5- O Chim é muito organizado e fez uma planilha detalhada do brevet de 600 e também do percurso do Paris Brest Paris. Anotou cada subida, ponto de parada, tempo de parada, horas de sono..... Esqueceu de saber comparar a sua planilha ideal com o tempo que ele geralmente leva para pedalar 445 km, ou seja, distancia do PC de Loudeac onde planeja dormir. Na realidade fez apenas um brevet de 400 e um de 600, não sabe exatamente como enfrentar as diversas dificuldades que surgem, pneus furados, bicicleta com problemas, corrente quebrada, vento contra, chuva, frio... No tempo ideal estes fatos não acontecem e a previsão é de pedalar os 445 km em 20 horas, dormir seis e depois seguir. Na realidade ele nem imagina que pode ter que enfrentar estas dificuldades.
6- O Chim é um ciclista lento e não tem muita técnica que um ciclista experiente deveria ter. Também não tem potência e ritmo para manter uma média de 25 a 27 km/h por algum tempo. Esta média e potência pode ser necessária em caso de ser preciso recuperar algum atraso na sua planilha idéal. Atrasos não acontecem.
7- O Chim gosta da sua bicicleta e nem sempre esta muito preocupado em reduzir o peso e nem o tamanho da barriga, afinal “Os Audax” são coisa de gordinhos e uma gordurinha extra se transforma em energia. É preciso de mais energia para transportar esta gordurinha, mas ajuda nas decidas. No Paris Brest Paris planeja levar: celular, maquina digital para fazer algumas fotos, GPS, minidicionário de francês, o que esta em duvida é se leva o Net para colocar alguma informação no blog, mas acho que vai deixar este trabalho para a mulher que estará no apoio.
8- Falando de mulher, a do Chim é extremamente carinhosa. Não entende muito de esporte, mas apóia o marido. Não entende porque ele se mete nestes brevets só para sofrer. Morre de pena do coitado cada vez que vê ele sofrendo. No fundo, se pudesse tirava ele do brevet e levava para o hotel onde faria uma massagem relaxante em uma cama macia e quentinha.
9- O Chim é ocupado e tem várias tarefas por isto não tem muito tempo para pedalar. Reside na capital e por isto não vai para o trabalho pedalando, é perigoso. Na cidade tb não tem muita opção de local para pedalar, pois todas as saídas são em estradas muito movimentadas e perigosas
10- Chegou em Paris. Vamos conhecer a Torre Eifel? o Arco do Triunfo? a Bastilha? o “Centro Nervoso”, Notre Dame? E até uma tal de “Bulam Ruje”?depois a gente monta a bicicleta e descansa para o brevet, afinal tem dia anterior para poder dormir.... Os dias na França, em agosto, amanhecem às 7h e anoitecem 22h, assim da para aproveitar bem o dia para passear bastante ( e dormir pouco), quando anoitecer a gente retorna para o hotel, ou ainda vai ver a Torre iluminada a noite.
11- O primeiro ponto de parada no PBP é no km 140 e não no 50. O primeiro PC é no KM 222 e neste o Chim planejou parar 15 minutos, depois de ter pedalado por 12 horas. Perdeu os 15 minutos na fila para carimbar o seu passaporte, mais 15 minutos para reencontrar a bicicleta que deixou estacionada no bicicletário localizado no pátio da escola onde é localizado o PC. Perdeu mais 05 minutos na fila do banheiro, mais alguns minutos de usuário, mais um tempinho e finalmente encontrou a coitada da mulher que estava dormindo dentro do carro a sua espera.........
12- O nosso amiguinho imaginário Chim PZM odeia furar pneu e tem muita dificuldade para efetuar a troca da câmara de ar por isto utiliza Pneu Schwalbe Mega Marathon Super Plus 26x1.50 ( ele não usa bike aro 700 pois gosta da sua MTB). Cada pneu pesa 900 gramas e mais 300 gramas de cada câmara de ar reforçada. Uma combinação quase infurável, mas quase. Na França as estardas são mais limpas, mas o Chim é azarado e teve um pneu furado quando estava no km 360. Já estava escuro e ele estava atrasado e enfrentando a segunda noite do brevet. Não encontrou a lanterna de cabeça que estava no fundo do alforge. Como que furou este pneu maldito? Uma ponta de faca foi levantada pelo pneu dianteiro e penetrou no pneu traseiro. A motivação do Chim foi parar no Japão, talvez na usina de Fukushima, depois de atravessar o centro da terra. Arrasado, cansado, no escuro, no campo e sem a lanterna Black Label Chuppapilha. Pediu ajuda a um ciclista que passava, mas era um russo e não entendeu nada, mas resmungou alguma coisa. Pediu ajuda para o próximo e era um italiano que só disse: Va cagare, io sono stanco e in ritardo! Também não parou. Não entendeu nada e desistiu de pedir ajuda, ninguém parou. Depois de 1h e 40 minutos conseguiu fazer a troca da câmara de ar e reiniciou a pedalada.
13- Chim chegou 4 horas depois do previsto no PC de Loudeac onde conseguiu dormir 15 minutos antes de prosseguir. Dormiu no carro alugado para o apoio e nem teve tempo de utilizar o Apartamento que havia alugado na cidade.
14- Chim chegou no PC do km 666 ( este é o numero da _ _ _ _ _) depois dos 15 minutos de Loudeac ainda não tinha dormido mais. Devido a dificuldade de visão e medo desce a maioria das vezes freando. Devido às freadas e a chuva, estava com as pastilhas do freio gastas. Aproveitou a parada no PC 666 para levar a bicicleta para fazer a troca das pastilhas. O mecânico que estava mais dormindo do que acordado- já estava ali há dois dias, avisou que o serviço iria demorar, mas voila! Precisa né! Chim ficou 1hora e 50 minutos esperando para a troca das pastilhas e regulagem do freio ser feita. Depois saiu pedalosonombulando novamente.
15- A saga do feliz brasileiro Chim Pan Zé Mirtillo continua, o PBP continua continua, continua... em 90 horas, ou mais, muita coisa pode acontecer. Se não der certo foi por um acaso e daqui mais 4 anos o Chim, um pouco mais idoso, mas mais experiente e cabeça dura, poderá tentar novamente. Se por acaso ele não completar o PBP vai dizer mais uma frase mágica: Onde foi que eu errei? Faltou tão pouco.
16- Uma mosca me contou que o Chim foi visto no dia seguinte, depois do PBP já ter terminado, pedalando em direção a Saint Quentin em Yvelines, mas esta informação não pode ser confirmada pois ainda não estão nos registros da ACP. Também não se tem noticias precisas da sua esposa, mas parece que ficou em "Fugeres".

Esta história é baseada em fatos reais, mas ainda não é uma história verídica. Mentira minha, todas as histórias são reais, o que não é real são os nomes, datas e ordem dos acontecimentos. O Chim Pan Zé Mirtillo não é real, mas existe, ele pode ser eu, também pode ser você ou o teu colega de pedalada durante um brevet. Você poderá encontrar o Chim Pan Zé Mirtillo em alguns relatos de brevet passados, principalmente os realizados no Brasil, mas também no estrangeiro.

O nosso amigo imaginário nasceu em dezembro de 2010 e seu surgimento pode ser pesquisado em:
http://www.rio.audax.org.br/2010/12/programe-se-para-o-pbp-2011.html
Veja o video de um suspeito durante o brevet
http://www.youtube.com/watch?v=LpF_DylBmho

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com fatos da vida real é mera conhecidencia. Todos os direitos reservados!

Em breve podem surgir as histórias do randonneur Kibafo Cacauete e de seus amigos.

Bons treinos para o Paris Brest Paris 2011.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Videos brevet 600- Cesar Barbosa 1 e 2

O Cesar Barbosa enviou os video do brevet de 600.

O "Negão" sofreu para subir até Herveiras com a reclinada, mas valeu o esforço.

http://www.youtube.com/watch?v=5yFI7gPhvnM


http://www.youtube.com/watch?v=xmB7mjXFJJo

Quando possivel coloco mais videos "no ar".

Bons treinos! Ta chegando a hora do PBP.

terça-feira, 22 de março de 2011

Mulheres de 600

Mulheres que concluíram o brevet de 600 km no Brasil
Rosane S. Gomes, 2005, Candelária, RS
Romi Pedde Muss, 2006, Porto Alegre, RS
Adriane Cerqueira, 2007, Brasilia, DF
Erika Fernandes Pinto, 2009, Brasilia, DF
Lidiane Tamara Lauermann, 2009 e 2011, Santa Cruz do Sul, RS
Gabriela Martin, 2009 e 2011, Candelária, RS
Esther Axelrud Galbiski, 2009, Porto Alegre, RS
Gisele Borsato Moreira, 2010, Curitiba, PR
Simone Barbisan Fortes, 2010, Santa Maria, RS
Andrea Cunha Malafaia de Figueiredo, 2x 600 em 2011 Brasilia, DF
Luiza Schwab, 2011, Santa Cruz do Sul, RS


Mulher de 1000

Lidiane Tamara Lauermann, 2009, Santa Cruz do Sul, RS

Atualizado dia 22 de março de 2011.

sábado, 19 de março de 2011

Reportagens nos Jornais de Modelo

Reportagens dos jornais da cidade Modelo, SC enviadas pelo ciclista Diogo Berghahn





Video editado por Diogo: Ver aqui!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Fotos brevet 600 março 2011

O brevet de 600 foi um lindo passeio pelo interior do Rio Grande do Sul.
Foi um passeio em dias quentes, ensolarados e em noites agradáveis.
Um brevet com subidas e decidas, mas também planices.
Melhor ver as fotos:

Miguel Lawish

Alexandre Jesus

Erich Brack

Em breve escrevo mais, mas quem sabe alguem escreve algum relato?

terça-feira, 15 de março de 2011

Brevetados 600 km

Lista dos ciclistas que concluíram o brevet de 600 km dos dias 12 e 13 de março de 2011
Luiz M. Faccin
Luiza Schwab
Lidiane T. Lauermann
Gabriela Martin
Claiton Ketzer
Luiz Roberto Velho Lazary
Edson Behenck
João José Menezes Jardim
Daniel Scartezini
Rafael Pereira de Castro
Goodymar Cunha Oliveira
Dacivaldo Silva Matos

Estes ciclistas já estão classificados para o Paris Brest Paris Randoneur 2011.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Carta de Rota Brevet 600 km

terça-feira, 8 de março de 2011

Plano alimentar brevet 600 km março 2011

A comida é o combustivel do ciclista.


Possibilidades de alimentação no brevet de 600 km
Café da manhã antes da largada e a partir das 02:30 para os hospedes do hotel;
PA- km 38- Posto 1- loja de conveniência. No percurso urbano de Santa Cruz do Sul. Não atende das 5:30 até 6:30 da manhã.
PA- km 103,68- Mercado Adonir Neter a partir 7h
PC-1 –km 113,98- Posto Paradouro Serrano- lancheria a partir das 6h. O Posto tem água gelada e quente filtrada. Nos PCs deveremos ter água, banana, maça e alguns extras. Uma torrada e um café por conta da organização.
PA- km 149,68- Trevo de acesso a Barros Cassal- Ultimo posto de reabastecimento antes do PC-2 (44km adiante). Entrando para a cidade: atrás da santa tem um mercadinho, ou andando 600 metros tem um mercado que atende até o ½ dia.
PC-2 – km 193,59- Posto BR- Restaurante Dona Délia- Buffet até ás 14:30h.
PC-3- km 226,29- Mercado Guerini- Neste PC : água, banana, gel de carboidrato e salgado.
PA- km 246,09- Posto BR Alto Capão- lancheria sem opções e atendimento até 18:30h
Lancherias próximo a Dr Ricardo- km 265 e mais.
PC-4 Km 296 - Hotel Hengu. O voluntário do PC vai negociar com o pessoal do Hotel para conseguir manter o restaurante atendendo e servir a Alaminuta até mais tarde- 23:30 no máximo.
Km 327- Posto Charrua em Lajeado- atendimento não passa das 22h ( local do PC-6 ).
Km- 341,59- Pedágio Univias-
Hotel Solar- Km 359,59- Quem tiver hospedado deve deixar algo reservado para alimentação. Café da manhã no hotel somente a partir das 7h.
PA- Km 364,44-Restaurante Casa Cheia- atendimento das 6:30 até ½ noite.
PA-km 419,52- Pesque e Pague Panorama (PPP)- Se o ciclista passar de madrugada não haverá nada no local, mas se ele avisar poderá combinar por telefone para deixar o lanche a sua disposição.
No PPP o ciclista deverá apresentar a ficha e retirar um prato de massa, mas na madrugada não será possível.
PC-5-KM-446,87- Posto ABS- este posto é 24h, mas a lancheria está fechada nos domingos. O ciclista, se for o caso, deverá pegar a assinatura com o frentista para comprovar a sua passagem neste ponto. Um km antes do posto ABS tem a lancheria do Posto Ramé.
PA- km 476,52- Pesque e Pague Panorama- o ciclista poderá retirar o prato de massa no retorno. Uma boa opção a almoçar aqui. Neste dia será realizado o brevet de 200km de Porto Alegre e o PPP é o PC de retorno, o participante poderá ter a companhia de outros ciclistas que estão participando de outro brevet. Pode até ter fila para a massa.
PA- km 531,16 - restaurante Casa Cheia- Outra boa opção de almoço, já mais próximo do final do brevet.
PA- km 536- Hotel Solar- o ciclista poderá chegar o hotel se for preciso, mas acredito que seja melhor seguir, já que o final do brevet está mais próximo.
PC6- km 568,25 – Posto Charrua de Lajeado- tem lancheria no local,
Chegada no Hotel Solar- km 600- Pode pedir uma cerveja que o brevet acabou, mas antes assine e entregue o passaporte na recepção, confira a anotação do horário de chegada.

Luiz M. Faccin
08-03-2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

Inscrições brevet 600 km

Confirmando as informações:
Reunião técnica às 20:30 do dia 11 no Hotel $olar
Vistoria e entrega passaportes: 3:00 do dia 12
Largada será às 3:30 do dia 12 de março.
Local da largada e chegada será no Hotel $olar em Venâncio Aires.
Hotel $olar-
solarhotel@viavale.com.br ( as reservas geralmente são feitas e os e-mails não são respondidos) Avise que você vai participar do Audax e lembre de solicitar o café da manhã a partir das 2h e 30 minutos. Fone= 51-3741-1523
Localizado na RST- 453 fica na Rodovia para Lajeado a 2400 metros do trevo da RST 287

Chegada deverá ser até às 19h e 30 minutos do dia 13 de março.
O percurso será o mesmo pedalado no brevet dos dias 26 e 27 de fevereiro.
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Os ciclistas que estavam inscritos para o brevet do dia 26 de fevereiro continuam inscritos para o brevet do dia 12.
Lista dos ciclistas inscritos para o brevet 600 do dia 12 de março de 2011.
Luiz M. Faccin
Luiza Schwab ok
Luiz Roberto Velho Lazary OK
Edson Behenck Ok
João José Menezes Jardim Ok
Daniel Scartezini ok
Rafael Pereira de Castro ok
Lidiane T. Lauermann ok
Gabriela Martin
Claiton Ketzer ok
Goodymar Cunha Oliveira
Dacivaldo Silva Matos ok
Arnaldo Antunes ok

Lista dos voluntários:
Erasmo de Moura
Miguel Pedro Lawish
Erich Brack
Alexandre Luis de Jesus
Udo Carlos Weissenstein

09-03-2011
Luiz M. Faccin

Relato Brevet 600- Huli Huli

Huli Huli

Pois podem acreditar: foram 602 km, em uma jornada de 38 horas, que
custaram alguns fios de cabelos do fundo da orelha. Não posso dizer
que foi moleza, pois o percurso e as condições de clima foram pensados
para testar a diferença entre homens e meninos.

Percorremos uma região lindíssima, no planalto médio do Rio Grande do
Sul, com sua topografia agressiva, alternando altos e baixos, com
variação que chegou a 500 metros de altitude. De brinde, todas as
estações do ano, apresentadas da forma mais dura e exigente que um
ciclista pode querer, pra testar se gosta mesmo desta maravilhosa
forma de ir e vir. Chuva, frio, calor, vento, asfalto esburacado,
caminhões apressados, são os parceiros de viagem, para aqueles que
provaram o sabor da aventura sobre duas rodas, impulsionadas por
pernas resistent es, e um desafio de testar os limites da paciência e
persistência.

Como fomos 'censurados' pelo aparelho de repressão e insegurança do
estado, a prova teve um número reduzido de participantes, vindos de
cinco estados, incluindo-se alguns gaúchos, de cidades distantes, que
preferiram fazer a prova sem identificação e divulgação, uma vez que a
oficial foi transferida para um futuro próximo. Uma coincidência de
data com uma corrida de caminhões, na cidade vizinha, expôs a
insegurança que os ciclistas enfrentariam, por andar em estradas cujas
condições de acostamento e apoio são precárias, especialmente na
região da cidade que nos acolheu. Por isso, a polícia disse que não
poderia oferecer o suporte logístico, em caso de acidentes com os
envolvidos no passeio. Como não precisamos de autorização de quem quer
que seja, juntamos doze loucos apaixonados por liberdade, sendo que um
d eles era mais privilegiado, pois pedalava numa bicicleta reclinada,
daquelas que o ciclista anda com as pernas para o ar.

Às três e meia da madrugada, demos a largada para a maratona, numa
noite fria e estrelada, na perspectiva de uma longa convivência com as
condições climáticas. Afinal, tínhamos quarenta horas pela frente, sem
muito o que fazer, a não ser pensar no ponto de partida, onde estaria
garantido o refúgio e descanso, após a jornada concluída, ou o
infortúnio da desistência. Todos sabíamos que só tínhamos uma
alternativa: pedalar, curtir e esperar. O silêncio da noite era
quebrado pelas rãs, escondidas nos brejos, ou os cães da beira da
estrada, que faziam festa diante da nossa presença e intromissão na
paisagem. De vez em quando um veículo motorizado se apresenta,
iluminando a estrada e deixando seu rastro de som. Durante a noite,
principalmente pelo fato de haver pouco m ovimento, costumamos ter
segurança em andar sobre a faixa de rolamento, sem sermos incomodados,
mas já tivemos casos de caminhões que se aproximam buzinando, avisando
que não vai mudar de faixa para nos ultrapassar.

Na medida em que o sol vai aparecendo, a paisagem se apresenta com
mais intensidade. A paisagem rural, com seus cheiros, cores e
movimentos, vai servindo de motivação, como um filme em câmara lenta,
onde as imagens vão mudando tão lentamente quanto se queira, ou uma
montanha adiante diminua a intensidade da curtição. Estas, quando
surgem, são sempre motivo de reflexão e dor, fazendo com que a
pedalada assuma o ritmo da respiração, e a pressa se torna inimiga da
satisfação. Respirar, curtir, relaxar... Assim passam os quilômetros e
o tempo, atingindo-se as metas, na medida em que se avança. A cada
posto de controle, um carimbo, e a certeza de que já estivemos mais
longe . Esta, aliás, é a tônica do movimento: não importa quando, não
importa como. O importante é atingir o objetivo. Respeitando-se, é
claro, os limites pré estabelecidos.

Tendo em vista as características do grupo, formou-se, quase que
naturalmente, três pelotões. À frente, seguiam os mais aptos, em
número de quatro. Depois, outros seis, ditos experientes e
persistentes. Mais atrás, o carioca, com sua cadeira de rodas e, por
último, um camarada que veio mais para tirar fotografias da paisagem
do que para pedalar. Literalmente, um cicloviajante. Nossa equipe
Audax Floripa tinha dois representantes no primeiro bloco, e os outros
dois no segundo. Assim tem sido a brincadeira, com nosso dois bravos
representantes sempre chegando em primeiro e segundo, enquanto nós
outros dois nos contentávamos em completar mais esta etapa. Assim
seguia a caravana, num dia que foi ficando nublado, com nuvens negr as,
vindas do centro do continente, avisavam que iam nos fazer companhia.

A partir da hora do almoço, a chuva chegou intensa. Daquelas trovoadas
rápidas, que trazem consigo a chuva persistente, avisando que não
adianta parar para esperar uma estiada. Portando, só resta encarar e
sorrir, seguindo com muito mais atenção, tendo em vista que tudo fica
mais difícil, em virtude da precariedade dos sistemas de asfalto e
drenagem das estradas. Buracos, asfalto solto, cacos de vidro, pedaços
de pneus, com seus cabelos de aço convidando o pneu para um encontro,
tachões, sujeira de toda ordem, começam a ganhar importância,
especialmente quando a noite cai e a chuva continua caindo. A roupa
molhada, a pouca luz dos faróis, o frio, fazem com que a vontade de
chegar se acentue na mesma dimensão que crescem as dificuldades. Todo
cuidado no pedalar é necessário, principalmente para se evitar o pior,
que é um tombo ou um pneu furado. Nestas condições precárias, chegamos
na cidade e Encantado, onde conheci a mais larga e mais bem localizada
ciclovia das cidades que já passei. Uma verdadeira avenida, que mantém
os ciclistas bem longe dos motoristas. Ali estava programada a janta e
foi onde encontramos a equipe que seguia à frente, que sofrera uma
série de transtornos de pneus furados, motivados pelas péssimas
condições da estrada, que além de furar a câmara rasgou o pneu, de uma
das bicicletas.

Em virtude da precariedade das condições das estradas, o organizador
resolveu retirar um trecho onde havia e proposta de uma subida
extremamente íngreme, a um lugar inóspito e quase inabitado, por
outro, da mesma distância, no final da prova. Com isso, a chegada no
ponto de apoio, para dormir, ficou antecipada. Assim que largamos,
após a refeição, passamos pelo pelotão de vanguardistas, para dos,
trocando pneu. Como estavam ali os melhores, os demais preferem
seguir, pois não havia o que fazer para ajudar, Seguimos,
fortalecidos, para atingir cerca de 350 km, já com noite estrelada,
pois as nuvens já haviam se precipitado. Atingimos o pouso de sono
após 21 horas de pedaladas. Posso dizer que esta chegada foi
comemorada como uma vitória. Depois de um banho, três horas de sono
tentaram restabelecer o corpo, para a segunda etapa, no dia seguinte.

Quando acordamos, verificamos que o grupo da vanguarda havia chegado
quase duas horas depois de nós, enquanto que os dois que ficavam para
trás recém haviam chegado. Ao pegar a bicicleta, percebi que o pneu
dianteiro estava vazio. O atraso, para a troca, fez com que o nosso
grupo se dividisse, ficando três em cada bloco. Saímos, sem tomar
café, o que só aconteceria depois de quase quatro horas e cem
quilômetros pedalados. Até ali, o suporte físico foi dado pelas
cápsulas de guaraná, vitamina C e isotônicos. Para contrabalançar, o
sol resolveu nos acompanhar desde cedo, anunciando um dia lindo e
ventoso. Vento, como sempre, vindo ao nosso encontro, só pra tornar
tudo mais interessante.

Nada está tão longe que não se atinja, ou tão duro que nunca acabe. De
pedalada em pedalada, as paisagens vão ficando na saudade. As estradas
interioranas estavam com aquela cara de domingo de manhã, enquanto as
vias principais tinham aquele ritmo acelerado de sempre.
Coincidentemente, quanto mais movimentada a estrada, mais buracos e
ausência de acostamento ela tinha. Tudo dentro dos padrões do trânsito
brasileiro, o que não é nenhuma novidade. Num ponto de apoio foi
servida uma macarronada com carne moída, teve o sabor de uma refeição
dos deuses. Não houve uma única sobra nos pratos. Naquele momento, era
tudo o que precisáv amos e desejávamos: carbohidrato e proteína. Depois
do rango, seguimos para a última etapa, cada vez mais próxima do
final. Encontramos o pelotão de 'especialistas' a uma distância de uns
trinta quilômetros de nós, visto que haviam saído quase duas horas
após a gente. Faltavam cento e setenta quilômetros, e um prazo de sete
horas e meia. Tudo dentro dos planos.

Depois de muitas subidas e descidas, chegmos ao final da jornada, com
um tempo de trinta e oito horas, dentro das quarenta prevista. Desta
vez não houve mutilações expressivas, a não ser os calos na mão, junto
aos punhos, e as assaduras de praxe, nas partes mais vulneráveis. Nem
com as pomadas bundex, ou pacu assado, consegue-se evitá-las, visto
que chuva, suor e atrito constante vão deteriorando os tecidos
lentamente. Mas, entre mortos e feridos, saímos todos ilesos, sem
qualquer registro de transtornos, ou acontecimentos relev antes
indesejáveis. Desta vez, aconteceu algo considerado impossível, visto
que a Equipe B, dos velhinhos indomáveis, chegou com uma hora de
vantagem sobre os dois guerreiros melhor preparados. Mais um motivo
para as brincadeiras e comemorações, visto que nós dois já havíamos
tentado esta prova, no ano passado, ficando pelo caminho, por cansaço
e transtornos pneumáticos.

Agora, todos havíamos atingido mais um desafio, configurado numa
medalha de lata, e um certificado colorido pelo feito alcançado. Mas,
o que não tem preço, ou classificação é a alegria da confraternização
e a satisfação de estarmos vivos, livres e leves, para curtir
intensamente esta brincadeira. Agora, começa a fase mais dura, que são
os treinamentos para a próxima etapa, com o dobro da distância e no
outro lado do Atlântico. Até lá, vamos ver quantos obstáculos teremos
que vencer. O importante é contin uar treinando, pedalando e sonhando.

Saudações audaxiosas

Luiz Pereira
Equipe Audax Floripa

Video brevet 600 knm

Ganhou do Della

Veja o video!

Huli Huli!