quinta-feira, 9 de abril de 2015

Resumo do relato do brevet de 600km de 2006

Brevet Randonneur Mundial de 600km de Porto Alegre do ano de 2006.

    Largada em Porto Alegre e percurso cruzando por Vale Verde, Passo do Sobrado, Pinheiral, Venâncio Aires, Mariante, Lajeado, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Candelária, Santa cruz do Sul e retorno a Porto Alegre.
    Clima chuvoso nos primeiros 400km de prova, ou seja nas primeiras 20 horas de brevet que teve largada às zero horas de algum sábado.  Foi um brevet difícil com tempo bom apenas no domingo. Muito vento na madrugada e muita chuva e frio. Pedalei no grupo de ciclistas mais adiantado, sempre junto de amigos, Thales Moreira, Roberto Trevisan, Paulo C. Endres, Rubens Gandolfi, Joel Scheren e Isac Ibaldo. Outros ciclistas sempre estavam próximos, mas paramos no mínimo 7 vezes para realizar trocas de câmara de ar.
    Este teria sido o meu primeiro brevet de 600km. Em 2004 não havia ido a SP para pedalar o único brevet realizado neste ano. Em 2005 também não pedalei o brevet de 600km, pois fiquei trabalhando para que o meu irmão e sócio pudesse participar.
      Em  2006 eu já havia decidido ir pedalar o Paris Brest Paris de 2007 e então tinha a minha primeira oportunidade de me testar em um 600km.
    Antes do brevet de 600km eu havia insistido com o organizador para colocar horários de abertura e fechamento nos Pcs, pois o mesmo era realizado no PBP e isto, na minha opinião, alem de facilitar a organização, deveria ser uma aprendizado de disciplina para os participantes. Então este brevet de 600km foi um dos primeiros no RS e ter horários de abertura e fechamento dos pcs previamente definidos e divulgados.
   O planejamento do nosso grupo era de pedalar os primeiros aproximados 440 km do brevet, para dormir algumas horas/ minutos no PC de Santa Cruz do Sul e retornar a Porto Alegre para completar os 160km restantes e fechar os 600km. Os primeiros 400km foram de muita chuva. Os 36 km de Santa Cruz do Sul a Candelária, já na noite de sábado, foram com muito vento, que estava a favor para ir e contra para o retorno. Lembro como se fosse hoje de encontrar o Edimar que vinha retornando e avisando, aproveitem agora, pois o retorno esta muito difícil devido ao vento contra. Lembro como se fosse hoje a nossa chegada a Candelária, antes do PC do CTG, de encontrar o Baltazar Braga feliz nos esperando e dizendo palavras de incentivo. Lembro como se fosse hoje a sopa preparada pelo Luiz da Rosa Gomes. Lembro de muitas coisas boas, mas lembro que o Joel, ciclista local, me ofereceu pernoite na casa dele, bem próxima ao GTG de Candelária. Aceitei o convite, pois tinha certeza que na manhã o vento teria parado e seria mais fácil retornar a Santa Cruz para encontrarmos o nosso grupo que estaria por lá.
    Fomos a caso do Joel e tivemos que realizar um arrombamento para poder entrar, pois não havia ninguém e a chave não estava escondida no local combinado. Um banho rápido e foi para o sofá para dormir. Combinamos o horário do despertar dos celulares. Era pouco antes da ½ noite e o PC de Santa Cruz do Sul fechava as 6h da manhã. Combinamos de acordar as 2h para podermos comer algo e seguir pedalando com calma os 36 km até o próximo PC. O Joel não deve ter confirmado o horário do despertar no celular e eu coloquei o horário errado= 5h. O fato é que o meu celular me despertou às 5h da manhã. Saímos apressados, sem água, sem café, sem comer e com frio para percorrer os 36km restantes em menos de 60 minutos a tempo de chegar no PC no horário. O Joel já havia pedalado este mesmo percurso em um tempo recorde de 62 minutos e o meu tempo recorde havia sido de 65 minutos.

Tínhamos 36 km a percorrer em menos de 60 minutos, largando frio, sem água e sem comida. A favor estava o clima sem vento e o fato de havermos dormido mais de 5h. Os primeiros 20km seguimos revezando a frente em um ritmo muito bom. Até representava que seria possível, mas bastava olhar para o relógio para saber que não tínhamos tempo e chegaríamos aproximadamente com 15 minutos de atraso no PC. Depois a opção foi seguir em um ritmo mais apropriado e conversando sobre as opções na situação. Não tem como descrever todas as hipóteses e pensamentos que tive enquanto pedalava este percurso, então tento listas alguns pontos apenas.
Eu era um organizador de brevet e um dos que mais brigada para que a modalidade tivesse moralidade;
Eu havia insistido e defendido a idéia de colocar os horários nos PCs;
Um ciclista já havia sido desclassificado anteriormente por estar muito atrasado na chegada ao PC;
Ficaria muito chato eu pedir uma chance para o organizador;
Se fosse desclassificado poderia seguir pedalando até POA e completar os meus primeiros 600km, mesmo sem homologar, mas estava descansado e sabia que chegaria lá antes do horário máximo das 40h, pois conseguiria pedalar a mais de 15km/h sem muita dificuldade. Isto não seria uma opção legal para o organizador que teria me desclassificado, mesmo eu tempo completado os 600km antes do tempo máximo do brevet de 600km. Isto estaria depondo contra a minha opinião da necessidade de existir horários de abertura e fechamento dos PCs.  Aqui vale uma observação= os horários definidos não estavam corretos, mas a intenção deste texto não é reclamar e nem justificar alguma decisão, mas mostrar um exemplo de como as informações definidas devem ser respeitadas. 
O que eu poderia fazer? E o meu brevet de 600km? E todas as dificuldades enfrentadas no dia anterior? E os meus amigos que estavam me esperando para pedalarmos juntos?  Sempre se tem o poder de decidir, sempre é uma decisão também política. Feito! Uma luz brilhou nos meus pensamentos ½ confusos. A melhor atitude a fazer era a de desistir do brevet de 600km ao chegar no PC com horário atrasado, mesmo que fosse por apenas 1 minuto de atraso.
Chegamos no PC de Santa Cruz do Sul, com mais de 15 minutos de atraso. Vários ciclistas participantes ainda estavam por lá, alguns saindo para reiniciar a pedalada. A maioria destes ciclistas estavam muito cansados, pois haviam dormido apenas alguns minutos. A maioria destes ciclistas brevetou neste brevet de 600km.
    Chegando no PC o organizador, meu amigo, veio ao meu encontro, varias outras pessoas estavam ali, alguns que já haviam desistido, voluntários, amigos. Olhei para ele, peguei o meu passaporte e entreguei dizendo : estou desistindo! Ele me perguntou mais umas três vezes se eu tinha certeza, sempre repeti que sim. Perguntei se tinha lugar na combi de apoio para ir a Porto Alegre. O Joel perguntou se poderia continuar no brevet, pois estava bem e conseguiria chegar no final antes do prazo. O organizador respondeu que como ele havia chegado atrasado no PC estava desclassificado.
   Nunca havia desistido, ou ficado sem completar um brevet, por mais difícil e por mais dificuldades que houvesse enfrentado. Não fiquei sem completar o brevet de 600km do ano de 2006 por estar cansado, por ter dormido demais, por não ter tempo, mas sim porque queria seguir as regras.
   Vale lembrar que naquele tempo não existia brevet de organizador e não tinha outro brevet no RS no calendário de 2006. Vale lembrar que o meu primeiro brevet de 600km completado foi apenas em 2007 e que neste mesmo ano completei o Paris Brest Paris 1200km.
Sabe o que eu perdi não tendo completado o brevet de 600km de 2006?
Nada.
Sabe o que descobri?
Existe apenas uma classificação dos ciclistas que participam de um brevet. A classe dos que completam e a dos que não completam o brevet. No caso eu não completei.
Muitas vezes ficamos lutando, brigando e perdendo nosso tempo com coisas que valem exatamente nada.
    Apenas para exemplificar recordo de outros fatos acorridos em um brevet de 400km Santa Cruz do Sul em algum ano. Fatos que aconteceram em um mesmo brevet. Um ciclista pegou carona com o carro da esposa  por 16 km, ficou muito irritado, pois  pretendia ter o brevet homologado. Um outro ciclista perdeu o passaporte do brevet, mas pedalou os 400km. Como organizador ofereci a possibilidade de realizar a homologação, pois estava acompanhando o andamento e tinha certeza que este ciclista havia pedalado os 400km no percurso e prazo do regulamento, mas este ciclista recusou a possibilidade de receber, homologação, medalha, ou certificado, pois não concordava em receber qualquer privilégio ou tratamento diferenciado.

Luiz Faccin
Abril de 2015





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