Bueno, a primeira vez que andei com pedal de clipe foi em janeiro de 2009, incentivado pelo meu colega de trabalho e líder Ricardo de Araújo Pereira (LÍDER e não chefe, pois: 1- chefe é que nem nuvem: quando desaparece o dia fica lindo; 2 – quem tem chefe é índio) e antes disso só usava a bike pra ir a padaria da esquina. Foram vários tombos ridículos que ocorriam no momento de parada a bike (desclipar, desclipar e já não dava mais tempo.....). Marquei um pedal com o desconhecido “Escriba/Rogerban” para o primeiro “frita-bacon” e, nesta ocasião conheci a também querida ciclista Nara biker. Foram uns 3 frita-bacon e veio o Audax 200 Brasília. Foi vencido com o auxílio e companhia do estimado ciclista e colega Marcos Ulhoa e, teve até um super tombo/capote, mas isso é outra história.
Os treinos aumentaram e teve até um treino intitulado “vampirax” com o objetivo de treinar o mesmo percurso e horário de saída do Audax 300.
Partimos para o Audax 300/Brasília e a chuva não nos deu trégua, aliás não era chuva, era um dilúvio....a água chegou ao nível do movimento central em alguns pontos alagados da pista. As duas últimas horas da prova foram pedaladas sob um verdadeiro temporal.
Aumentava a expectativa quanto a liberação do percurso do Audax 400/Brasília e, para nossa surpresa, o Audax 400 foi cancelado a dois dias do encerramento das inscrições do Audax 400 Santa Ciclismo. Inscrição realizada e passagens compras e nos “bandiamos” para o Rio Grande. Bom, esse Audax 400 km foi “O Audax”. Que coisa impressionante. Pra começar eu nem bicicleta levei. Como eu queria comprar uma bike híbrida eu questionei um dos proprietários da MELHOR LOJA DE BICICLETA DO MUNDO (ehehehe), o carismático Luiz M. Faccin da possibilidade de realizar um test drive na bike dele, já que era igual a pretendida. Não só autorizou o test drive como emprestou a bike para realizar os 416 km do percurso. Antes da prova, por eu ser nativo da cidade, a galera de Brasília realizou um ciclo turismo pelos principais pontos turísticos de Santa Cruz do Sul.
Partimos para os 400 km às 03:30 horas e como era uma bike diferente aos 90 km de prova já apareceram as primeiras assaduras.
A companhia no “passeio dos 400” nos primeiros 208 km foi com a “super guerreira Érika” e aí a minha encheção de saco foi tamanha que a menina colocou um fone de ouvido e cantarolava e eu perguntava: ...”o que você disse?” R. “Nada...tô cantando...”. Bueno, pelo menos tiramos inúmeras fotos da rodovia e das paisagens deslumbrantes do percurso (bom, pelo menos nesses momentos eu parava de tagarelar ehehehh).
A volta foi pedalada com dois novos colegas e amigos Erich BracK e Marcelo Bueno. Paramos para jantar teve até duas cervejinhas e, como diz a Érika “...é uma verdadeira Granola Líquida, pois tem água, lúpulo, malte, proteínas e pra não estragar o fabricante acrescenta um pouquinho de álcool”. Após 24 horas e 30 minutos finalizamos os 416 km.
O tempo voou e chegou a data dos 600 km. Pra nosso desespero a colega Érika teve uma pneumonia e decidiu ir a prova logo após finalizar o tratamento, ou seja, na última semana.
Largamos às 03:30 horas da manhã de sábado e fizemos o percurso urbano. Na chegada ao hotel, km 6, encontrei o estimado colega Erich Brack brigando com as duas caramanholas presas na parte traseira do selim. Partimos eu e ele e o ritmo foi forte, tão forte que logo nos 3 primeiros km da rodovia não consegui parar pra prestar minha solidariedade aos 3 nobres colegas e parceiros brasilienses (Rogerban, Osvaldo e Érika) que pararam devido a um pneu furado e seguimos rumo a Candelária. Muita cerração/neblina e umidade e lá no km 39 (06:15h) decidimos parar para um café. Como estava fechado, ficamos alguns minutos e vimos um pelote passar forte. Acreditávamos que os colegas Rogerban, Érika e Osvaldo/VO2max estivessem nele e “cravamos o pé/pedal”. Passamos um, dois, cinco, dez ciclistas e nada de achar os três ciclopáticos de Brasília. Decidimos parar novamente no km 70 para um café com leite e dois pastéis e, lógico, coca-cola. Energia recuperada e, como diz o mineiro “bucho cheinho, pé no caminho”. Partimos eu, Erich e Marcelo Bueno e chegamos no PC1 às 09:31 h. (km 125). Perguntamos o horário de passagem do Osvaldo, Rogerban e Érika e para nossa surpresa nos informaram que eles tiveram dois pneu furados e ainda não haviam chegado. Osvaldo e Rogerban chegaram às 10:08h e a derradeira e ofegante Érika, às 10:15h. Já estávamos alimentados e prontos para partir quando comuniquei ao Erich que ficaria esperando para acompanhar a Érika. O Dr. Erich, como todo bom gaúcho, companheiro e muito solidário decidiu que também esperaria. Partimos nós 5 (Eu, Érika, Erich, Osvaldo e Rogerban) para Pantano Grande via BR 290.
Chegamos em Pantano Grande/Rabelândia e almoçamos. Partimos para os últimos 50 km da primeira perna até Santa Cruz do Sul em cinco e chegamos em dois às 16:49h (225 km).
Carimbar cartão, trocar de roupa e partimos às 17:45 horas para próxima etapa de 180 km rumo a Gen. Câmara no mesmo grupo de 5 ciclistas. O principal eu não fiz no hotel: comer. Na primeira subida de 4 km desgarrei do grupo na menos um, ou seja, sobrei e a Érika me acompanhou na incrível velocidade de 8-10 km/h. Tudo que sobe, desce e logo após a descida eu e Érika entrarmos na rodovia sentido Passo do Sobrado na maior escuridão e decidimos parar num posto de combustível pra tomar um café preto (sono da Érika) e juntou-se a nós mais dois desgarrados (Marcelo Bueno e Evandro). Chegamos ao PA do Pesque Pague Panorama pra jantar uma fantástica e maravilhosa massa/talharim quente e grátis e, partimos novamente em cinco. Foram apenas uns 5 km e a dupla dinâmica sobrou novamente. Ao chegarmos à cidade de General Câmara conseguimos ver dois dos nossos colegas circulando a rotatória/balão e parar no posto de combustível errado. Passamos pela rotatória e os chamamos para seguir conosco no sentido correto. Chegamos ao PC às 23:02, jantamos uma excelente sopa quente grátis e, partimos para volta dos últimos 90km da segunda perna até Santa Cruz formando um pelote de 6 ciclistas. Formam uns 10 km pedalados e, novamente a dupla dinâmica sobrou e, pra ajudar a Érika furou o pneu a uns 2 km antes do pesque pague que ficava a uns 35 km do PC. Chegamos lá o pessoal estava querendo sair. Como a Érika não se aquentava em pé decidiu dormir uns 10 minutos e pediu-me que a acordasse. Dei uma cortesia de 5 minutos e após um sono de 15 min., acordei-a e pra nossa surpresa o Marcelo Bueno apareceu do meio dos bancos (também estava dormindo). Partimos nós três rumo a Santa Cruz e eu nunca vi duas pessoas brigarem tanto contra o sono. Teve uns cachorros no percurso e deram uma acordadinha....um chegou a lamber o meu câmbio traseiro e não mordeu porque encheu a boca de graxa eheheee.
Faltando 17 km pro hotel ocorreu um evento cômico: A Érika decidiu lavar o rosto em um posto de combustível que estava fechado. Chegou próximo da torneira e disparou o alarme do posto....tinha sensor de presença hehehehe foi um barulhão!!!!!
Chegamos ao hotel às 05:15h (400 km completados). Decidimos tomar banho e dormir UMA hora. Como eu cheguei num estado extremamente lastimável, ou seja, “chegou só a capa do Batman”, decidi comer primeiro (o café estava disponível desde às 24:00). Comi e muito. Cheguei tão mal que ocorreu o segundo fato cômico do Audax: Comi queijo fatiado, pão e uns 6-7 pedaços/cubos de "queijo" que estavam em uma vasilha com água e só percebi no último pedaço que eu estava comendo MANTEIGA ehehhee. Êta estado lastimável....
Voltei ao quarto do hotel, tomei banho, lambuzei com pomada anti-assadura a parte que fica em contato direto com o selim da bike, troquei de roupa, olhei o relógio e já eram 06:15 h. Como a Érika solicitou ao recepcionista que a acordassem às 06:45h fiquei com medo de tentar dormir 30 minutos e não acordar em tempo hábil. Parti sozinho, aliás parti eu e Deus pra última perna de 192 km às 06:30h rumo a Encantado.... Como a terceira perna era a repetição da parte inicial da segunda, ou seja, tinha a maldita subida de 4 km. Subi na “manha do aranha”: 8-10 km/h. No final da subida fui ultrapassado por 2 colegas (Udo e Claiton) da cidade onde cresci (Vera Cruz) e, segui com eles por mais 20 km. Decidimos tomar um café no km 30: lá se foram “guela abaixo” dois pastéis e uma coca-cola e isso nos roubou 40 minutos. Partimos e avisei que seria interessante aumentar a média e andei a uns 30-35 km/h por uns 15 km. Os Vera cruzenses ficaram pra trás. Na primeira subida a velocidade caiu e fui ultrapassado pelos dois e, nunca mais os vi....Neste pedaço do percurso entre Venâncio Aires e Lajeado peguei um vento contra terrível. Do nada aparece o Pexe no sentido contrário me avisando do vento, isso era umas 10:30h. O organizador da prova (Faccin) estava com o carro parado no lado oposta da pista e perguntou-me se queria água, banana e bergamota (mexerica). Falei-lhe que só aceitaria se fosse oferecido no mesmo sentido em que eu estava rodando (assim evitaria que eu tivesse que atravessar a pista). Gentilmente ele retornou, ultrapassou-me e aguardou-me na entrada de Lajeado. Parei, comi umas 4-5 bergamotas, 1 banana, respirei fundo e reclamei do vento contra. O Faccin me olhou e disse “...lá na frente, próximo do Rio Taquari o vento está muito pior...”. Perguntei sobre os meus colegas de Brasília e me informou que estavam rodando bem só não sabia me informar se estavam na minha frente ou atrás, pois já havia realizado várias vezes o percurso e estava meio perdido quanto a posição dos meus amigos.
“Sapatilha no pedal” pra chegar ao PC do Hotel Engu que estava a uns 40 km (eram umas 11:00h). Vento TERRÍVEL E MUITO MAIS FORTE CONTRA. Comecei a entrar em pânico e surtei....estava rodando a uns 9-12 km/h e imaginei que chegaria ao PC lá pelas 14:30h e, lógico faltaria tempo pra retornar. Pedalei tão forte, mas tão forte que encostei no Udo (um dos vera cruzenses) e, este me falou calmamente "...relaxa...estamos bem de tempo....já peguei vento pior....". Chegamos andar em uma descida a 8km/h e pedalando....êta ventinho forte eheheh. Eu queria um vento desses na época que eu soltava pipa/papagaio eheehhe. Paramos no pedágio pra tomar um chazinho.....muito bom, quente e o melhor: de graça. Caramanhola abastecida, pomada reposta no devido lugar e pedal no caminho já que faltavam apenas 12 km até o PC. Chegamos ao PC às12:50 h. Começamos a almoçar e chegou o Osvaldo, Erich e Rogério/Escriba. Perguntei sobre o estado da Érika e fui informado que estava bem e vinha chegando com o Lazary. Almoçamos e às 13:30 avisei que havia resolvido dormir....só que seria no hotel de Santa Cruz. Parti e andei tão forte que encostei em um grupo de Speedeiros de Santa Maria. Acompanhei os caras por uns 10-15 km. Em uma subida o joelho pediu-me uma redução do ritmo. O ilustre e fantástico colega Jeferson encostou e seguimos juntos. Paramos pra comprar uma água em Venâncio Aires e aí percebemos que havíamos passado pelo grupo dos Speedeiros, haja vista eles tinham acabado de nos ultrapassar. Acho que eles pararam pra tomar um cafezinho em algum posto. Como o asfalto e a topografia de Venâncio é favorável, a média subiu. Os speedeiros pararam no restaurante Casa cheia (exatos 30 km do final da prova) pra colocar os coletes e ligar faróis e sinaleira e foram ultrapassados, pois nós já vínhamos com o colete e luzes/sinaleiras ligadas. Nunca mais vi os speedeiros. Quase cai da bike com o grito do Rogério/escriba que havia nos ultrapassado entre Lageado e Venâncio e acabara de sair do restaurante...bota susto nisso. Segui com o Rogerban e o Jeferson sumiu na nossa frente. Seguimos forte até o início das famosas 7 curvas e o escriba autorizou-se a seguir no mesmo ritmo já que seu estado era "só com capa do batman". Aliás, neste momento era só BAN, pois o Roger ele havia perdido no caminho. Subi a uns 15-16 km/h e sem trânsito. No lado oposto a última descida (4 km) somado ao ofuscamento dos faróis dos automóveis que vinham no sentido oposto quase levei um mega tombo ao passar por cima de um tapete de brita existente no acostamento no início da descida. Estabilizei a bike lembrei-me do BAN que vinha logo atrás de speed. Se com uma bike híbrida calçada com pneu 700x37 foi difícil ficar de pé, imaginem o BAN com pneu 700x23...seria quase certo o tombo se ele pegasse o tapete de britas...e pegou, tchê....só que neste momento o Roger já havia voltado ao corpo e era novamente o RogerBAN (o Ban do Brasil) e não caiu.
Descida finalizada com o maior receio e freando, localizo o Jeferson com o pneu furado, entretanto já havia outro ciclista prestando ajuda e resolvi não parar.
Os últimos quilômetros urbanos fiz mais rápido ainda e, cheguei ao hotel às 18:30 h, ou seja, finalizei em 39 horas e sem dormir. Tomei banho, peguei a máquina fotográfica para registrar a emoção dos demais colegas.
Se me perguntarem se foi difícil....a resposta mais correta seria: "mais ou menos". SUPERAÇÃO E DIFÍCIL foi pra representante feminina de Brasília (o Robin da dupla dinâmica ou “a mina da bike” que no Rio Grande era chamada de “Guria da bike”). Essa guria realizou uma Super Extra Big Superação. Pedalou os 602 km logo após uma pneumonia e só treinou mentalmente. Parabéns especial a ela e a todas as demais gurias que conseguiram arduamente vencer os 602km e, como diz o Faccin “....se é difícil fazer um brevet de 600km pra nós homens, que temos ossos maiores e mais duros, maior massa muscular, imaginem só o sacrifício e a dificuldade que deve ser para as mulheres/gurias...” e, aos que arduamente tentaram.
Parabéns a nós e a todos que eu não citei neste relato mas que estão no coração. Obrigado a todos da equipe de apoio. Nota 10,5 pra vocês.
O mais engraçado é que estou começando a sentir uma vontade de pedalar os 1000km.....
Jonas Ruschel
Brasília, 25 de junho de 2009.
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