Nunca fui um ciclista muito interessado no Tour de France. Um evento para elite dos profissionais, distante da nossa realidade e distante daqui. Competi em algumas provas de estrada, mas sempre fui mais ligado aos passeios de aventura, aos desafios, a eventos mais ligados a natureza, ao mountain bike, as corridas de aventura e por ultimo ao Audax.
Sempre ocupado com o trabalho, com a organização de eventos ciclísticos Audax e quando possível tentando pedalar, confesso que vivo desligado do mundo ciclístico competitivo. O que chegou em minhas mãos, me trouxe mais conhecimento e principalmente mais interesse no Tour, foram as excelentes reportagens de Revista Vo2 Max.
Recebo a minha revista, edição 33 (junho 2008) e junto a Edição Especial Tour. Vejo-a rapidamente e procuro localizar as etapas.
A primeira etapa tem a largada em Brest, cidade que me trás lembranças de quando estive pedalando lá.
No gráfico e texto da terceira etapa, Saint-Malo a Nantes, leio a frase:
“Se a chegada anterior era na terra de Hinault, o ídolo nessa região è Louison Bobet, tricampeão do Tour na década de 50” .
Os pensamentos voam e consigo lembrar de um rápido acontecimento que estava esquecido em algum canto da memória.
Estou pedalando o Paris Brest Paris no dia 23 de agosto de 2007. Estou próximo ao quilometro 825 da prova. Os pensamentos são poucos e pedalar é automático. Estou aproveitando cada pedalada, cada paisagem, cada momento, leio cada placa e acabo de cruzar por Illifaut. Estou em um bom ritmo apesar de ser o terceiro dia de pedal, de ter enfrentado muita chuva, vento e de ter dormido poucas horas.
Estou pedalando sozinho e alcanço um ciclista francês, não observo se ele também participa do Paris Brest Paris, mas isto parece ser o normal de todos que estão na estrada. O ciclista me faz algumas perguntas e seguimos conversando apesar da chuva fina que cai. A esta altura já falo quase fluente o francês e não tenho problemas para entender o que me é dito. Ele está bem animado e fala muito, a conversa está fluindo normalmente enquanto entramos em mais uma bela vila. Não observo o nome da localidade e o francês aponta para a frente e me diz:
Aqui é onde nasceu o ciclista Bobet!
No momento não lembrei exatamente quem era Bobet, mas o nome não era estranho, a pronuncia francesa é diferente da nossa língua. O ciclista com certeza era bem famoso, o orgulho de estar ali era grande. Não fiz o esforço de tentar lembrar quem.
Algumas pessoas desejam:
Bon courage! Bon Route! aplaudem o meu companheiro que esta mais a frente.
Ele se vira, mostra em minha direção e diz:
Não, para min não! Para ele, eu não pedalo tanto.
Logo depois freia a bicicleta, me diz, eu fico aqui.
Nem consegui me despedir corretamente, não reduzi a velocidade, segui a minha jornada e logo a frente encontrei outros ciclistas.
Não havia percebido que o ciclista não estava portando uma placa do Paris Brest Paris 2007. Tudo foi rápido, ou eu estava lento, mas as localidades eram muitas.
Agora, muito tempo depois, descobri que:
- conheço um cantinho do percurso do Tour de France 2008;
- já pedalei em Saint Meen Le Grand, terra natal de Louison Bobet;
- que recebi os aplausos dos conterrâneos de Bobet
Agora também sei a quem eu mais vou admirar no Tour de France 2008, as centenas de milhares de pessoal que estarão a beira da estrada aplaudindo e gritando para os ciclistas.
Para estes eu vou pensar:
Merci beaucoup!
A toute heure!
Luiz Maganini Faccin
junho 2008.
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