Release Audax 300 km Santa Cruz do Sul 2008.
Noite gelada de 31 de maio, às 22 horas, 68 corajosos ciclistas largaram em busca de um mesmo objetivo, completar o Audax 300 km, ou seja, pedalar 300 km em até 20 horas no percurso pré-definido. Algo inimaginável para quem estava lá, tremendo de frio. A noite prometia ser longa e foi. Provavelmente deva-se imaginar que somente homens super fortes seriam capazes de superar este desafio, talvez fosse melhor dizer “desafrio”, mas haviam ali cinco mulheres. Possivelmente deveriam ser todos jovens atletas, muito bem treinados, mas havia um ciclista com 57 anos de idade, que usa óculos e tem alguns quilos a mais do que o ideal. Difícil de entender o porque de tantos ciclistas, enfrentando tantas dificuldades e porque pedalar em uma noite tão fria? Mas é este o desafio, a data é marcada no ano anterior, faz parte de um calendário internacional e as dificuldades são parte do evento que se chama Audax. Alem da loucura aparente, todos tinha algo em comum, haviam pedalado o desafio anterior que foi o de 200 km. Outros pretendem chegar a desafios ainda maiores este ano e o próximo é o de 400 km.
A termômetro no Campus UNISC, local da largada, marcava quatro graus quando os ciclistas iniciaram a pedalada. Muitos pneus furados nos primeiros quilômetros do percurso, e teve até mesmo mulher que fez a troca da câmara de ar e seguiu em frente.
O primeiro Pc no Km 59 foi realizado no Pesque e Pague Panorama, localizado depois de Vale Verde, já no município de General Câmara. Parada para um lanche e café, carimbar o passaporte e seguir. A temperatura no PC era de sete graus, mas na estrada era ainda mais baixa! O que ajudou a esquentar foi à adrenalina liberada para fugir dos cachorros que irregularmente ficam soltos em frente às casas.
O segundo PC no km 98, foi realizado no Jóquei Clube de São Jerônimo, onde a temperatura estava em 5 graus. Para chegar até lá foi preciso enfrentar a umidade do vale do Rio Jacui, o que compensou foi à visão do céu estrelado. No PC nova parada para um café, um prato de arroz quente, antes de seguir para o percurso mais longo no horário mais critico da prova.
Até o terceiro Pc, localizado na Lancheria Schuster em Pinheiral, eram 84 quilômetros de estrada, sem opção quente de parada para reabastecimento. O frio estava realmente gelando. A umidade externa da neblina e a umidade interna em forma do suor deixavam os ciclistas molhados. Molhados a uma temperatura próxima de zero, sem duvida algo quer pode ser mortal. A opção, na realidade não existia outra a não ser pedalar, evitar paradas para se manter aquecido. Aquecimento é consumo de energia que deveria ser reposta com alguma alimentação, quem não fez isto cansou, parou e teve dificuldades imensas para continuar na prova. Alguns não suportaram o frio e jogaram a toalha, melhor dizer, pegar o cobertor de emergência, item obrigatório da prova e chamar por resgate. As dificuldades não estavam apenas no frio. O cachorro continuava atacando, um ciclista pedalou rápido e olhou para trás, acabou batendo no ciclista que estava na frente e caiu. Bateu a cabeça no chão, foi salvo pelo capacete, mais um item obrigatório para a participação no evento. Confuso, molhado, gelado foi levado ao hospital Santa Cruz, onde foi muito bem atendido e ficou em observação, logo ficou recuperado! Só não recuperou a decepção de não poder completar o evento e alguns prejuízos financeiros com quebra de equipamento.
O terceiro PC com mais lanche e café, quatro graus de temperatura, e previsão de pedalar os restantes 120 km com sol. Em muitos locais o sol só venceu a neblina às 10 horas e para os primeiros ciclistas o Posto de Controle mais gelado foi o de numero quatro, localizado em Cruzeiro do Sul, na margem do Rio Taquari.
De dia os ânimos melhoram a temperatura aumenta e o mais importante é o que realmente representa ser a única coisa a fazer, pedalar. Pedalar é fácil, mas o difícil é enfrentar o clima e os perigos da estrada durante tanto tempo. Muitas vezes são bem mais importantes o preparo psicológico e planejamento do que realmente o preparo físico, isto explica o primeiro parágrafo deste texto. O que realmente não tem explicação é que teve um ciclista que participou do evento vestindo apenas bermuda a camiseta de ciclista, nem mesmo com a pele cor violeta ele admitia estar com frio.
Depois de um prato de massa bem servida no PC quatro, restavam mais 67 km até a chegada no Campus UNISC. Alguns preferiram tirar uma soneca antes de seguir, afinal o sono é um outro inimigo invisível. Um ciclista novato, com sono e frio, sentou ao lado de um fogão, dormiu e encostou a cabeça o que quase causou um acidente. Entrou para a lista das historias engraçadas ao aparecer com um capacete derretido.
Os primeiros ciclistas concluíram os 300 km chegando na UNISC às 11h e 28 minutos, os últimos às 17h e 50 minutos, mas todos receberam a mesma premiação e são igualmente vencedores. Muitos chegaram reclamando de dores nos joelhos, o frio foi um dos responsáveis. Nove ciclistas desistiram e cinqüenta e nove completaram o brevet de 300 km. Alguns chegaram exaustos e outros nem tanto. Quatro mulheres completaram o percurso. Somente quem participa de um evento de longa distancia para saber o que realmente significa estar cansado. Todos os participantes, voluntários e apoiadores estão de parabéns. Qualquer titulo, ou premiação, é pequeno em comparação as sensações e lembranças dos momentos bons e difíceis passados durante o tempo em que tudo estava resumido a um objetivo e uma tarefa simples como pedalar!
Luiz Maganini Faccin
Diretor da Prova Audax 300 km
Grupo Santa Ciclismo
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