Excluindo a palavra “Desole” o Paris-Brest
foi o maior barato.
Para começar esse relato foi preciso um
pouco de audácia, porque na realidade depois dos acontecimentos ele quase ficou
na gaveta, mas vamos deixar os erros de lado e aprender com as lições que a
vida tem a nos ensinar. Tudo começou em 08 de Outubro de 2006 quando decidir
pedir demissão da empresa para me dedicar exclusivamente aos desafios do Audax,
sabia que o ano de 2007 seria o ano do tão esperado 1200 km Paris-Brest. A principio fui taxado de louco e quando eu
falava aos amigos sobre isso eles me repreendiam, dizendo que eu havia feito
uma loucura em largar o emprego para participar de um evento que nem mesmo
premiação em dinheiro tinha lá no fundo eu também sabia que havia errado, pois
o evento só iria acontecer em Agosto de 2007, as provas eliminatórias seriam
apartir de fevereiro, na verdade não havia necessidade de ter feito isto, mas
as pessoas não sabiam que eu vinha de 08 anos de trabalho exaustivo, embarcando
para saturar em uma câmara hiperbarica com 3x4 de diâmetro por 28 dias vendendo
minha saúde, não conseguia sair do vermelho no banco, além disso, durante o
trabalho escutava reclamações o tempo todo, mas ninguém movia uma palha para
melhorar nossas condições, enfim juntei isso tudo e seguir em frente
enfrentando as advertências dos mais próximos. Minha primeira aventura começou
em 14 de Outubro, quando fui para New York com a Julia, ela foi fazer compras e
aproveitei para passear, depois em novembro fui ao Campeonato Brasileiro de
Basket-boll Máster em Natal conseguindo um feito inédito para a AVBN, saímos em
2º lugar perdendo apenas para a Seleção combinada do Rio. A festa estava apenas
começando e tudo era pura alegria.
O Final do ano estava próximo e tudo fluía a
mil maravilhas, meu treinamento se limitava a 100 km por dia com minhas idas ao
Recreio para molhar minhas plantas, às vezes aumentava o trajeto para 200 km
quando partia para Saquarema em busca de descanso, mas fazia tudo isso sem Stress. Durante esse período de
treinamento eu aproveitava para testar os protótipos de bike que o Pedro Zohrer
construía, minha coleção de recumbent estava cada vez maior e a cada mês mudava
os componentes do quadro para testar e definir uma das Zohrer como a The Best, mas isso estava se tornando
difícil porque a cada ida no Recreio com um modelo diferente, eu sempre achava
que estava pedalando com mais facilidade, eu tinha a “In the Cisa” como
preferida ate quebrar o seu quadro subindo o Joá.
O final do ano passou como um cometa,
festejamos o Natal no Recreio com os familiares, o Ano novo mais uma vez fomos
ver os fogos na Avenida Atlântica na cobertura de um casal de amigos, Milton e
Eliana. O ano começou a mil maravilhas e o calendário dos desafios do Audax
estava todos prontos, mas dessa vez não iria haver o tão esperado 200 km de
Queluz, isso esfriava um pouco os ânimos dos
audaciosos cariocas, pois essa prova é considerada a mais forte no eixo Rio-S.
Paulo. Iniciei a temporada de 2007 no dia 02/01 fazendo os 200 km de Ubatuba
sem sofrer dificuldade por conhecer o percurso, em 10/03 repetir a dose dos 200
km, fazendo Niterói-Saquarema de Tamdem com o Pedro Zohrer sem problemas. No
dia 31/03 partir com o Eduardo Bernhardt para os 300 km de Campinas, no dia
05/05 voltei a Campinas para os 400 km e finalmente no dia 06/06/2007 estava
fazendo os 600 km carimbando o Passaporte para os 1200 km do
Paris-Brest-França.
Contando assim tudo parece tão fácil, mas
isso não é a verdadeira realidade porque para conseguir esse passaporte rumo ao
Paris-Brest foi preciso muito sofrimento, principalmente nos desafios de
400/600 km. Após todas essas conquistas minha meta estava traçada, mas ainda
existiam alguns obstáculos a enfrentar, pois para chegar à França existia um custo
e não era como ir a Campinas ou Ubatuba, eu precisava conseguir um patrocínio
para isso, pelo menos seria a coisa mais lógica, mas eu na inocência, esquecia
que estava vivendo no Brasil, um País onde o apoio ao esporte só acontece se
houver algum beneficio financeiro em troca para quem vai apoiar, isso não me
desanimava porque meus amigos de Recumbent-Zohristas estavam sempre a me animar
dizendo que eu iria participar do evento a qualquer custo, mediante essa
promessa eles começaram a circular dentro da pagina do Grupo uma campanha para
arrecadar fundos, no inicio fiquei meio sem jeito, mas aos poucos conseguir ver
que esse era um bom paliativo, pois juntamente com o Eduardo Benhardt havia
desenvolvido o projeto “Uma Zohrer no Paris-Brest”, mas não havíamos conseguido
nada, sempre que batíamos em uma porta recebíamos um não porque os incentivos
já estavam destinados aos Jogos do Pan, mesmo assim não desanimei e resolvir
estender o pedido de ajuda para os amigos de trabalho e amigos mais íntimos, o
efeito dessa campanha deu algum resultado, conseguir arrecadar em torno de
620,00 reais. O projeto da viagem incluindo apenas as necessidades básicas
como, passagem, inscrição, estadia e alimentação giravam em torno de 4.800,00
reais, já era alguma coisa ter conseguido esse valor e além do mais essa minha
campanha não era um caso de doença e sim a concretização de uma vontade, sendo
assim comecei a esquecer os patrocínios e usei a única arma que tinha; Meus
cartões de créditos que estavam guardados no bolso do blazer a espera de uma
emergência.Com um deles comprei a passagem para garantir minha vaga em um vôo,
pois a época era de alta temporada na Europa, em seguida com o primeiro
montante da ajuda conseguir fazer um deposito de 20% para a estadia através do
A. Costa, para me tranqüilizar mais o Richard fez uma transferência pagando a
inscrição e me falou para não ficar preocupado com o restante da estadia,
porque seria um presente pela nossa grande campanha durante os desafios no
Brasil.
Uma coisa eu tinha certeza, nada iria deter
minha ida para a França porque minha determinação estava acima de qualquer
coisa. Os dias passaram-se rápido e eu já havia decidido qual bike iria levar e
uma semana antes da minha viagem conseguir junto com o Thiago ajuda da
Kraft-Bike para modificar os componentes da minha Righ-Race, em troca usaria a
logomarca da loja, mas na mesma semana quando sai para fazer um pedal light
rumo ao Leblon fui surpreendido com a quebra do quadro, imediatamente acionei o
Pedro Zohrer e fui ao seu encontro na Faculdade Estácio para fazer um estudo no
laboratório de solda, mas de cara eu já sabia que aquela bike estava condenada
a não ir à França, daí pra frente não precisa dizer mais nada, foi uma correria
total e o Pedro ficou na incumbência de construir outro quadro, um sinal me foi
dado, mas não levei a serio, sem me alarmar apenas mudei os componentes para o
quadro da Low-Race e continuei a fazer meus treinamentos. Continuei minha vida
como se nada tivesse acontecido, pois sabia que tinha outra bike para
Levar, mas lá no fundinho do meu coração eu
queria fazer esse Audax com a Racer, já estava me sentindo bem com o seu modelo
despojado, além do mais tinha sido com ela que havia conseguido o passaporte
para os 1200km. A quatro dia da minha viagem e a dois dias do meu aniversario o
Pedro me entregou o quadro novo reforçado com alguns quilos a mais para
garantia de não quebrar, imediatamente levei ate a Kraft para fazer a
transferência das peças, mas não tive sucesso porque o mecânico estava ocupado
com as entregas da loja, colocamos as peças no carro do Pedro e partimos para o
Salomão-Bike, falei com ele sobre o ocorrido e entramos pela noite montando a
bike, só iria ter dois dias para testá-la, no dia 14/08 ela teria que estar
embalada dentro da mala bike, essa era uma das vantagens sobre as outras. No
dia 12/08 estava fazendo aniversario, eu já havia combinado com a galera do
pedal um jantar de despedida para a França, não estava querendo fazer nada de
festa, pois a Julia não estava no Rio e além do mais eu estava querendo evitar
gastos.
No dia seguinte a ficha caiu e ai começou a
correria para a viagem, já havia combinado com o Edu a nossa saída, seria as
18:00hs o vôo estava marcado para as 21:45hs, mas antes eu teria que despachar
minhas malas recheadas de guloseimas brasileiras que seriam levadas para a
Itália, o Edu chegou a brincar comigo perguntando se eu estava fugindo do
Brasil.
Não tive problemas para despachar minhas
bagagens, apesar de estar levando muita coisa não ultrapassei a regra de peso,
isso me ajudou a ganhar tempo e aproveitamos para jantar. Durante o jantar
recebi um envelope das mãos do Edu com um cartão me desejando boa sorte, quando
abri o cartão eu pude ler algumas palavras encorajadoras que me deixou
emocionado, agradeci pela força e ficamos conversando enquanto jantávamos. O
vôo partiu dentro do horário previsto, mas ele não era direto para Paris, pois
tinha que fazer uma conecção em Madri aguardaríamos algumas horas no aeroporto
de Barrajas. Minha chegada estava prevista para as 21:00 hs devido ao fuso
horário, durante o vôo não houve novidades porque meu comportamento durante o
vôo é sempre dormir e acordar na hora certa, tudo funciona no automático. Nosso
vôo atrasou um pouco e as 22:00hs eu estava desembarcando no aeroporto Charles
de Gales, quando o avião começou a taxiar comecei a recapitular os planos que
havia feito para seguir de trem ate o outro lado de Paris em Saint Quentin em
Yvelines onde ficava o hotel que ficaria hospedado. Não tive pressa em sair do
avião e fiz questão de sair um pouco atrás para que as pessoas me guiassem ate
a esteira para retirar as bagagens, a caminhada no aeroporto foi longa, quando
cheguei já tinha algumas malas passeando, acredito ter levado uns 30 minutos
entre sair do avião e chegar para retirar as bagagens, conforme a esteira
girava as pessoas iam retirando suas malas e a fila reduzindo, mas nada das
minhas aparecem, por um instante conferi o bilhete para ver se estava no lugar
certo e realmente era o vôo, quando ficaram apenas quatro pessoas na espera meu
instinto começou a dar sinal de alerta, mas como se tratava de uma Bike relaxei
e imaginei que teria que pegar em outro lugar, nada disso aconteceu, meu
extinto estava correto, minha bagagem havia desaparecido, não me restava nada
senão ir fazer a ocorrência no balcão da Air-France.
Eram 23:00hs quando fui atendido e por sorte
encontrei um atendente com paciência e pude reportar o ocorrido, lhe expliquei
através de um idioma tradicional para quem não falava Francês,
“Portunhol-inglish-mimico” isso é uma mistura de Português, Espanhol, inglês,
mímica, com a papelada que eu tinha em mãos foi fácil explicar o ocorrido e
mediante isso recebi a promessa de que minha bagagem estaria sem falta no dia
seguinte no hotel. Após isso a primeira coisa que veio em meu pensamento foi
que eu era um cara de sorte, iria evitar os transtornos de ter que me locomover
com duas bagagens imensas ate o outro lado de Paris pegando metro e trem, sai
dali feliz da vida, fui ate um posto de informação para conseguir um mapa e
checar os itinerários, estava apenas com minha bagagem de mão, isso facilitava
bastante meu deslocamento. As 23:40 hs eu estava descendo para a estação de
trem do
Aeroporto tinha que seguir ate a estação de
Saint Michel e trocar para a linha C, mas antes disso tinha um trecho que
estava em obra, era preciso descer sair da estação e fazer uma conecção de
ônibus, as pessoas no trem eram as mais estranhas já vista, primeiro pela hora,
o aeroporto estava do outro lado da cidade, tive que passar pelos bairros
pobres de Paris e a coisa mais comum eram ver ratos nas estações convivendo
juntos com as pessoas como se fossem íntimos. Quando desci na estação tive que
andar acompanhando a placa de saída por quase meia hora, subindo escadas e
caminhando por túneis que pareciam um labirinto, quando pude ver o céu sentir
um grande alivio e observei uma fila que se formava no ponto para esperar o
ônibus que iria ate a estação de Saint Michel, para me certificar perguntei se
estava certo a um rapaz que estava esperando, falamos um espanhol carregado,
mas foi possível compreender, durante o trajeto já comecei a me familiarizar,
pois a estação de Saint Michel estava próxima ao Rio Siene e ai comecei a me
sentir em casa.
As 01:30 hs eu estava descendo do ônibus e a
Praça de Saint Michel estava cheia, os bares, as pessoas tirando fotos, mas
estava frio, caia uma garoa, sentir vontade de ficar por ali e deixar para
seguir meu rumo com a luz do dia, isso ficou somente na vontade porque sabia
que não podia gastar grana e a maneira de aliviar esse desejo, era converter o
Euro para nosso Real; Um remédio infalível bastava multiplicar por 1x 2.80,
normalmente uma cerveja ficava em torno de 5.00 euro + taxas, isso já basta,
pois jamais iria passar o resto da noite com uma cerveja, rapidamente seguir
meu caminho para Saint Quentin em yvelines. As 02:00hs da manhã estava
desembarcando na estação e para minha surpresa estava tudo fechado, parecia que
eu estava chegando em uma cidade fantasma.
Após descer do trem
e ver aquela cidade vazia confesso que não tive medo, me dirigir ate o
segurança da estação e mostrei o endereço do Hotel perguntando se ele conhecia,
mas sempre seguindo a velha lição de que os franceses gostam quando você tenta
falar a língua deles, “Parlez-vous
Português?” Após isso fiquei sabendo que o hotel Pavillon dês Gâtines
estava uns 10 km da estação e seguir para o ponto de táxi vazio, não passava
uma viva alma e o segurança já havia fechado a estação depois de 40 minutos
contado no relógio, apareceu um táxi fazendo retorno no ponto, rapidamente fiz
sinal e após entrar no táxi exclamei; Pardon
conduisez-moi hotel Pavillion dês Gâtines s’il vous plait! Durante o
trajeto tentei puxar um assunto, mas o condutor não me deu confiança e em 10
minutos estávamos entrando na portaria do hotel, para minha felicidade havia um
bilhete deixado pelo Lacerda comunicando que a minha chave estava no quarto do
Guilherme Kardel. Era 03:20 da manhã quando bati na porta do Guilherme, ele
estava fazendo uma arrumação nas coisas dele, foi um encontro maravilhoso
porque conseguir falar com alguém que realmente entendia minha língua, eu
estava muito exausto mais aquele momento de felicidade me deixava novo, comi um
sanduba com suco que ele me ofereceu e após ouvir uma parte da sua viagem pela
Alemanha fui para o meu quarto desmaiar.
As 09:00 hs, eu já
estava fora da cama seguindo para o salão onde acontecia o café da manhã,
quando entrei na sala fui abraçado pelo Luis Lazary e Elvira, logo depois veio
o Faccin, Erich, Lacerda, Formiga, Calvete, sei dizer que naquele momento,
apesar de estar sem as minhas bagagens a felicidade me dominava, pois estava
revendo meus amigos audaciosos novamente. Quando contei o acontecido percebi o
sinal de tristeza, pois esse fato já havia acontecido com alguns deles, o
Faccin a sua bike a Elvira sem mala, mas o Faccin não se fez de rogado e
comprou outra bike para não deixar seu sistema nervoso abalado. O grupo ainda
não estava completo, porque alguns audaciosos estavam passeando pela Europa e
só iriam chegar no dia 16/08. A sala do café estava cheia, mas o pequeno grupo
de brazuca se destacava pela espontaneidade, eu já estava vestido com o
uniforme da equipe porque era a única roupa que vinha trazendo na bagagem de
mão, o Lacerda me emprestou seu shortinho baby look, assim pude ficar na espera
da minha bagagem e recepcionar os audaciosos que chegavam.
Nós estávamos em
pleno verão na Europa, mas era um verão atípico e os Audaciosos percebendo isso
aproveitavam para fazer seus passeios de bike pelo centro de Paris. No dia
17/08 chegaram os audaciosos Richard e Juan e a festa foi total e vocês
precisavam ver a alegria estampada no rosto do Juan, como diz o ditado, se
sentindo um verdadeiro pinto no lixo, no dia seguinte chegou a Adriana, Jorge,
A. Costa, Denis, Klaus, enfim depois disso com a equipe completa difícil foi
reunir todos para a foto oficial.
A equipe finalmente
conseguiu reunir para a foto oficial, após isso o grupo começou a se mobilizar
para a vistoria das bikes e isto contribuiu para começar nossos passeios pelas
lojas de Paris. Alguns audaciosos haviam deixado para comprar os acessórios
necessários em Paris devido à qualidade do material ser melhor, alguns com
preço mais em conta, sei dizer que cada saída nossa era uma festa, estávamos em
3 carros e normalmente depois das compras sempre saiamos para almoçar. Durante
esse tempo que ficávamos juntos nossa conversa era sobre as estratégias para o desafio
que iríamos enfrentar e nas lojas nos divertíamos bastante apreciando a
diversidade de acessórios e algumas vezes fazíamos fotos para registrar esse
maravilhoso acontecimento.
O dia da vistoria
estava chegando e minha bike continuava viajando mundo afora, mas para minha
felicidade o Gringo Klaus havia trazido uma recumbent na sua bagagem, pois o
Kardel havia telefonado para ele perguntando sobre a possibilidade de conseguir
uma reclinada para que eu pudesse usar, a alegria envolveu o grupo todo com
essa atitude do gringo, mas alegria maior foi quando descobrimos que ele estava
também trazendo um carregamento de cervejas alemãs junto com as muambas
(Acessórios) que trazia para vender, nossa primeira iniciativa foi programar uma
festa para a noite, no meu quarto havia algumas garrafas de vinho, o Faccin já
havia combinado com o Portuga srº Jorge/esposa para trazer algumas tortas e
apartir daí a festa estava arrumada as vésperas da vistoria das bikes.
O sarau
aconteceu no aptº de casal Facin/Lacerda, a mesa estava maravilhosa
repleta de tortas e quiche, as garrafas de vinhos eram variadas, volta e meia
eu pedia emprestado uma cerveja do gringo, o assunto era sobre o percurso, pois
nós estávamos na companhia de um portuga cheio de experiência em audax, ele com
seu português carregado nos explicava todos os detalhes, as perguntas eram
freqüentes embora algumas vezes precisavam ser traduzidas pela sua esposa
(Depenadores de velô). Nossa reunião estava show, alguns audaciosos já estavam
dormindo sentados, quando tudo parecia está bem o Canadense do quarto ao lado
dispara um What fuck doing!... I can`t sleep men`s, e rapidamente nosso
interprete Lacerda foi falar com o Canadense, depois de uma lábia conseguiu
convencê-lo a participar da festa, depois disso entramos noite adentro falando
sobre os 1200 km Paris-Brest.
As 07:00 hs da manhã
já estava acordado, como ainda tínhamos um dia para aproveitar, durante o café,
eu, Lacerda e Faccin, combinamos de ir conhecer o Centro nervoso de Paris,
seguimos de ônibus para Plasir, depois pegamos um trem para a estação de Berci
onde fizemos uma coneção para o metro rumo a Estação de Notre Dame, quando
descemos na estação descobrimos que estávamos em um verdadeiro labirinto, mas
graças à habilidade do nosso guia Lacerda, conseguimos sair do lado contrario a
praça onde estava a Catedral, mas tudo para nós era valido, estávamos
passeando, cada lugar que passávamos era registrado com nossas maquinas,
monumentos, praças, restaurantes etc... Nós realmente estávamos nos divertindo
bastante, mais interessante ficou quando entramos na Fenac para ver as
novidades, lá existia tudo de eletrônicos, livros, cds, bolsas, roupas, enfim
quando nós voltamos à nossa realidade, já era 20:00 hs precisávamos voltar
porque iríamos ter um longo caminho a percorrer ate Saint Quentin contando com
o horário do ultimo ônibus de Plasir.
Durante a viagem o
assunto era sobre o centro nervoso de Paris que não havíamos encontrado, devido
a isso os audaciosos Lacerda/Faccin vieram pegando no meu pé sem respeitar
minha tristeza pela falta da minha bike que ainda não tinha aparecido, na
verdade eu já estava conformado, só precisava decidir com que bike iria fazer o
pedal, com a recumbent do gringo ou a híbrida do Faccin, eu tinha duas opções á
mão, mas para minha felicidade temporária quando cheguei no hotel fui recebido
com aplausos pela turma que estava hospedada, eles estavam me esperando para
comemorar comigo a chegada da minha tão esperada bike, pensei que era
brincadeira, mas tive um pressentimento quando vi um carro com o nome da
empresa aérea e fiquei numa alegria que não sabia o que fazer, minha primeira
atitude foi pegar a bolsa e correr com ela para o pátio, queria vê-la montada a
qualquer custo e rapidamente a equipe toda veio junto comigo para me ajudar a
montá-la. Não sabia por onde começar devido tamanha felicidade, rapidamente o
Richard pegou as ferramentas no carro e juntamente com o Faccin caímos em campo
iniciando a montagem.
Nós estávamos a
algumas horas de iniciarmos a vistorias das bikes, minha adrenalina estava a
mil por hora, era 23:30 hs da noite, mas meus amigos audaciosos não iam dormir
porque queriam ver o resultado final da montagem, os gringos olhavam assustados
porque cada pedaço que eu tirava da bolsa era totalmente diferente estranho
para eles, a Racer tem a relação na dianteira e isto a torna uma bike
diferente, o Ruan juntamente com o gringo Klaus me incentivavam me oferecendo
ora um pouco de cerveja e vinho, eu sem me fazer de rogado não recusava suas
ofertas, pois estava fazendo frio, essa era uma boa maneira de me aquecer. As
00:15 hs da manhã a bike estava ok e sair para fazer o primeiro teste bike,
como já era muito tarde me limitei a fazer um pequeno giro em volta do hotel
porque precisava descansar, teria que acordar cedo para montar os acessórios e
ir para o ckeck in de largada.
Na verdade não
conseguir dormir, fiquei rolando na cama devido à expectativa do evento, mas
isso já era esperado por todos, normalmente a adrenalina aumenta fazendo com
que o sono fique para segundo plano. Minha vistoria estava marcada para as
13:00 hs e a largada seria as 21:00 hs, isso porque eu iria sair com o grupo de
bike especiais, o jantar seria apartir das 17:00 hs, eu também não tinha
vontade de comer, as ruas estavam tomadas pelos grupos que iam saindo dos
hotéis em direção a Saint Quentin, onde seria a Largada, reunimos nosso grupo
para sair um pouco antes do jantar e seguimos formando um pelotão de brazucas
bem animados existia ciclovias durante uma boa parte do percurso, a todo
instante víamos passar pelotões de outros paises e isso era uma festa porque
sempre nos cumprimentávamos, embora algumas vezes não entendêssemos bem as
línguas. Realmente o que sentíamos naquele momento era algo inexplicável, a
cidade toda estava mobilizada para o evento e quando passávamos nas ruas éramos
ovacionados pelas pessoas que incentivavam gritando Bon Courage!...Bon
Courage!...Au revoier
As 19:00 hs eu já
havia feito minha vistoria e para minha felicidade tive a oportunidade de
apreciar a chegada dos ciclistas que se posicionavam para a largada, era algo inacreditável
os grupos chegando formando pelotões de 600 ciclistas, na minha categoria
especial éramos apenas 110, mas a atenção era toda direcionada para a gente,
existia recumbent de todas as formas, algumas com carenagem, outras duplas,
triplas etc... Algo inacreditável, coisas que meus olhos e minha maquina
registravam sem cessar, na realidade eu estava encantado com tudo, eu era o
único brazuca de recumbent e as línguas eram varias, mas de vez enquanto eu
aquecia meu inglês para entrar no papo com o grupo. As 20:40 hs nós estávamos
posicionados e as 21:00 hs foi dado tiro de largada para meu pelotão.
Durante a largada
saia um carro de som tocando o hino Francês com uma gaita de fole numa
velocidade media de 30 km, ele nos levava ate a saída da cidade e depois
voltava para buscar os outros pelotões, chovia bastante, mas isso não
desanimava as pessoas que se posicionavam nas ruas para nos aplaudir durante a
nossa passagem, algo inacreditável, as crianças nos davam as mãos para serem tocadas
e nós podíamos ver a felicidade estampada em seus rostos, em alguns lugares
existiam mesas prontas com água, café, lanches etc... Tudo para nos servir sem
que gastássemos um euro sequer. Pude desfrutar desse pouco momento de prazer
ate o km 50 quando em uma pequena subida na estrada entre a relva quebrei o
cambio da minha bike, isso aconteceu as 23:00 hs da noite, mas não me entreguei
e depois de muita luta conseguir ir ate o PC2 a 300 km em fougeres para depois
abandonar a prova conforme meu breve relato. Cezar Barbosa - Rio de Janeiro - RJ - Relato PARIS-BREST-PARIS
2007
Depois de viver essa
grande aventura eu ainda tinha mais uma missão a cumprir, precisava levar as
muambas (comidas e lembranças do Brasil) para a Itália, era preciso me deslocar
para o outro lado de Paris com aquela tralha toda, nós havíamos combinado que
faríamos um churrasco de confraternização após o Audax independente de qualquer
coisa, porque nós sabíamos que alguns não completariam o percurso, devido aos
obstáculos impostos, mas só de está participando do evento já éramos vencedores
e por isso precisávamos fazer esse encontro para comemorar nossa grande
participação.
Primeiramente
precisávamos juntar os cacos dos audaciosos, as dores eram intensas, algumas
difíceis de serem curadas naquele primeiro momento pos prova e todos sabíamos
disso, eu particularmente fiquei muito triste com o que aconteceu comigo, mas
dor maior eu sentia quando escutava o motivo do abandono da prova pelos amigos
que haviam chegado tão próximo de subir ao pódio. O Richard Dunnes com 1000 km,
Adriana/Guilhrme que dormiram no ultimo PC dominados pelo cansaço, Ruan que
sofreu com seu banco, o gringo Klaus, A. Costa que quebrou nos primeiros km,
enfim foram muitas dores, mas também tivemos momentos de felicidades com nossos
brazucas audaciosos que completaram a prova, David, Faccin, Jorge, Lazzary,
Formiga, mas disso tudo o mais importante foi que nós fomos lá e sentimos o
coração pulsar fortemente por um esporte que gostamos de praticar, quero
agradecer a todos os envolvidos diretamente e indiretamente em especial as
esposas que sofreram bastante com a espera, Denis e Lacerda, o Cara que Firmou
a Palavra titulo desse relato “DESOLE”...
Cezar Barbosa
PARIS-BREST-PARIS 2007
Depois de viver essa grande experiência me resta esperar o Paris – Brest
em 2011
Um comentário:
Excellent article. That's exactly what I was looking for.
Here is my web site ... canapé design
Postar um comentário