quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Relato Paris Brest Paris 2007- Cezar Barbosa



Excluindo a palavra “Desole” o Paris-Brest foi o maior barato.
                              
Para começar esse relato foi preciso um pouco de audácia, porque na realidade depois dos acontecimentos ele quase ficou na gaveta, mas vamos deixar os erros de lado e aprender com as lições que a vida tem a nos ensinar. Tudo começou em 08 de Outubro de 2006 quando decidir pedir demissão da empresa para me dedicar exclusivamente aos desafios do Audax, sabia que o ano de 2007 seria o ano do tão esperado 1200 km Paris-Brest. A principio fui taxado de louco e quando eu falava aos amigos sobre isso eles me repreendiam, dizendo que eu havia feito uma loucura em largar o emprego para participar de um evento que nem mesmo premiação em dinheiro tinha lá no fundo eu também sabia que havia errado, pois o evento só iria acontecer em Agosto de 2007, as provas eliminatórias seriam apartir de fevereiro, na verdade não havia necessidade de ter feito isto, mas as pessoas não sabiam que eu vinha de 08 anos de trabalho exaustivo, embarcando para saturar em uma câmara hiperbarica com 3x4 de diâmetro por 28 dias vendendo minha saúde, não conseguia sair do vermelho no banco, além disso, durante o trabalho escutava reclamações o tempo todo, mas ninguém movia uma palha para melhorar nossas condições, enfim juntei isso tudo e seguir em frente enfrentando as advertências dos mais próximos. Minha primeira aventura começou em 14 de Outubro, quando fui para New York com a Julia, ela foi fazer compras e aproveitei para passear, depois em novembro fui ao Campeonato Brasileiro de Basket-boll Máster em Natal conseguindo um feito inédito para a AVBN, saímos em 2º lugar perdendo apenas para a Seleção combinada do Rio. A festa estava apenas começando e tudo era pura alegria.
             
O Final do ano estava próximo e tudo fluía a mil maravilhas, meu treinamento se limitava a 100 km por dia com minhas idas ao Recreio para molhar minhas plantas, às vezes aumentava o trajeto para 200 km quando partia para Saquarema em busca de descanso, mas fazia tudo isso sem Stress. Durante esse período de treinamento eu aproveitava para testar os protótipos de bike que o Pedro Zohrer construía, minha coleção de recumbent estava cada vez maior e a cada mês mudava os componentes do quadro para testar e definir uma das Zohrer como a The Best, mas isso estava se tornando difícil porque a cada ida no Recreio com um modelo diferente, eu sempre achava que estava pedalando com mais facilidade, eu tinha a “In the Cisa” como preferida ate quebrar o seu quadro subindo o Joá.
                
O final do ano passou como um cometa, festejamos o Natal no Recreio com os familiares, o Ano novo mais uma vez fomos ver os fogos na Avenida Atlântica na cobertura de um casal de amigos, Milton e Eliana. O ano começou a mil maravilhas e o calendário dos desafios do Audax estava todos prontos, mas dessa vez não iria haver o tão esperado 200 km de
Queluz, isso esfriava um pouco os ânimos dos audaciosos cariocas, pois essa prova é considerada a mais forte no eixo Rio-S. Paulo. Iniciei a temporada de 2007 no dia 02/01 fazendo os 200 km de Ubatuba sem sofrer dificuldade por conhecer o percurso, em 10/03 repetir a dose dos 200 km, fazendo Niterói-Saquarema de Tamdem com o Pedro Zohrer sem problemas. No dia 31/03 partir com o Eduardo Bernhardt para os 300 km de Campinas, no dia 05/05 voltei a Campinas para os 400 km e finalmente no dia 06/06/2007 estava fazendo os 600 km carimbando o Passaporte para os 1200 km do Paris-Brest-França.
             
Contando assim tudo parece tão fácil, mas isso não é a verdadeira realidade porque para conseguir esse passaporte rumo ao Paris-Brest foi preciso muito sofrimento, principalmente nos desafios de 400/600 km. Após todas essas conquistas minha meta estava traçada, mas ainda existiam alguns obstáculos a enfrentar, pois para chegar à França existia um custo e não era como ir a Campinas ou Ubatuba, eu precisava conseguir um patrocínio para isso, pelo menos seria a coisa mais lógica, mas eu na inocência, esquecia que estava vivendo no Brasil, um País onde o apoio ao esporte só acontece se houver algum beneficio financeiro em troca para quem vai apoiar, isso não me desanimava porque meus amigos de Recumbent-Zohristas estavam sempre a me animar dizendo que eu iria participar do evento a qualquer custo, mediante essa promessa eles começaram a circular dentro da pagina do Grupo uma campanha para arrecadar fundos, no inicio fiquei meio sem jeito, mas aos poucos conseguir ver que esse era um bom paliativo, pois juntamente com o Eduardo Benhardt havia desenvolvido o projeto “Uma Zohrer no Paris-Brest”, mas não havíamos conseguido nada, sempre que batíamos em uma porta recebíamos um não porque os incentivos já estavam destinados aos Jogos do Pan, mesmo assim não desanimei e resolvir estender o pedido de ajuda para os amigos de trabalho e amigos mais íntimos, o efeito dessa campanha deu algum resultado, conseguir arrecadar em torno de 620,00 reais. O projeto da viagem incluindo apenas as necessidades básicas como, passagem, inscrição, estadia e alimentação giravam em torno de 4.800,00 reais, já era alguma coisa ter conseguido esse valor e além do mais essa minha campanha não era um caso de doença e sim a concretização de uma vontade, sendo assim comecei a esquecer os patrocínios e usei a única arma que tinha; Meus cartões de créditos que estavam guardados no bolso do blazer a espera de uma emergência.Com um deles comprei a passagem para garantir minha vaga em um vôo, pois a época era de alta temporada na Europa, em seguida com o primeiro montante da ajuda conseguir fazer um deposito de 20% para a estadia através do A. Costa, para me tranqüilizar mais o Richard fez uma transferência pagando a inscrição e me falou para não ficar preocupado com o restante da estadia, porque seria um presente pela nossa grande campanha durante os desafios no Brasil.
           Uma coisa eu tinha certeza, nada iria deter minha ida para a França porque minha determinação estava acima de qualquer coisa. Os dias passaram-se rápido e eu já havia decidido qual bike iria levar e uma semana antes da minha viagem conseguir junto com o Thiago ajuda da Kraft-Bike para modificar os componentes da minha Righ-Race, em troca usaria a logomarca da loja, mas na mesma semana quando sai para fazer um pedal light rumo ao Leblon fui surpreendido com a quebra do quadro, imediatamente acionei o Pedro Zohrer e fui ao seu encontro na Faculdade Estácio para fazer um estudo no laboratório de solda, mas de cara eu já sabia que aquela bike estava condenada a não ir à França, daí pra frente não precisa dizer mais nada, foi uma correria total e o Pedro ficou na incumbência de construir outro quadro, um sinal me foi dado, mas não levei a serio, sem me alarmar apenas mudei os componentes para o quadro da Low-Race e continuei a fazer meus treinamentos. Continuei minha vida como se nada tivesse acontecido, pois sabia que tinha outra bike para
                   Levar, mas lá no fundinho do meu coração eu queria fazer esse Audax com a Racer, já estava me sentindo bem com o seu modelo despojado, além do mais tinha sido com ela que havia conseguido o passaporte para os 1200km. A quatro dia da minha viagem e a dois dias do meu aniversario o Pedro me entregou o quadro novo reforçado com alguns quilos a mais para garantia de não quebrar, imediatamente levei ate a Kraft para fazer a transferência das peças, mas não tive sucesso porque o mecânico estava ocupado com as entregas da loja, colocamos as peças no carro do Pedro e partimos para o Salomão-Bike, falei com ele sobre o ocorrido e entramos pela noite montando a bike, só iria ter dois dias para testá-la, no dia 14/08 ela teria que estar embalada dentro da mala bike, essa era uma das vantagens sobre as outras. No dia 12/08 estava fazendo aniversario, eu já havia combinado com a galera do pedal um jantar de despedida para a França, não estava querendo fazer nada de festa, pois a Julia não estava no Rio e além do mais eu estava querendo evitar gastos.
            
No dia seguinte a ficha caiu e ai começou a correria para a viagem, já havia combinado com o Edu a nossa saída, seria as 18:00hs o vôo estava marcado para as 21:45hs, mas antes eu teria que despachar minhas malas recheadas de guloseimas brasileiras que seriam levadas para a Itália, o Edu chegou a brincar comigo perguntando se eu estava fugindo do Brasil.
                                                    
Não tive problemas para despachar minhas bagagens, apesar de estar levando muita coisa não ultrapassei a regra de peso, isso me ajudou a ganhar tempo e aproveitamos para jantar. Durante o jantar recebi um envelope das mãos do Edu com um cartão me desejando boa sorte, quando abri o cartão eu pude ler algumas palavras encorajadoras que me deixou emocionado, agradeci pela força e ficamos conversando enquanto jantávamos. O vôo partiu dentro do horário previsto, mas ele não era direto para Paris, pois tinha que fazer uma conecção em Madri aguardaríamos algumas horas no aeroporto de Barrajas. Minha chegada estava prevista para as 21:00 hs devido ao fuso horário, durante o vôo não houve novidades porque meu comportamento durante o vôo é sempre dormir e acordar na hora certa, tudo funciona no automático. Nosso vôo atrasou um pouco e as 22:00hs eu estava desembarcando no aeroporto Charles de Gales, quando o avião começou a taxiar comecei a recapitular os planos que havia feito para seguir de trem ate o outro lado de Paris em Saint Quentin em Yvelines onde ficava o hotel que ficaria hospedado. Não tive pressa em sair do avião e fiz questão de sair um pouco atrás para que as pessoas me guiassem ate a esteira para retirar as bagagens, a caminhada no aeroporto foi longa, quando cheguei já tinha algumas malas passeando, acredito ter levado uns 30 minutos entre sair do avião e chegar para retirar as bagagens, conforme a esteira girava as pessoas iam retirando suas malas e a fila reduzindo, mas nada das minhas aparecem, por um instante conferi o bilhete para ver se estava no lugar certo e realmente era o vôo, quando ficaram apenas quatro pessoas na espera meu instinto começou a dar sinal de alerta, mas como se tratava de uma Bike relaxei e imaginei que teria que pegar em outro lugar, nada disso aconteceu, meu extinto estava correto, minha bagagem havia desaparecido, não me restava nada senão ir fazer a ocorrência no balcão da Air-France.
Eram 23:00hs quando fui atendido e por sorte encontrei um atendente com paciência e pude reportar o ocorrido, lhe expliquei através de um idioma tradicional para quem não falava Francês, “Portunhol-inglish-mimico” isso é uma mistura de Português, Espanhol, inglês, mímica, com a papelada que eu tinha em mãos foi fácil explicar o ocorrido e mediante isso recebi a promessa de que minha bagagem estaria sem falta no dia seguinte no hotel. Após isso a primeira coisa que veio em meu pensamento foi que eu era um cara de sorte, iria evitar os transtornos de ter que me locomover com duas bagagens imensas ate o outro lado de Paris pegando metro e trem, sai dali feliz da vida, fui ate um posto de informação para conseguir um mapa e checar os itinerários, estava apenas com minha bagagem de mão, isso facilitava bastante meu deslocamento. As 23:40 hs eu estava descendo para a estação de trem do
                                                                                
Aeroporto tinha que seguir ate a estação de Saint Michel e trocar para a linha C, mas antes disso tinha um trecho que estava em obra, era preciso descer sair da estação e fazer uma conecção de ônibus, as pessoas no trem eram as mais estranhas já vista, primeiro pela hora, o aeroporto estava do outro lado da cidade, tive que passar pelos bairros pobres de Paris e a coisa mais comum eram ver ratos nas estações convivendo juntos com as pessoas como se fossem íntimos. Quando desci na estação tive que andar acompanhando a placa de saída por quase meia hora, subindo escadas e caminhando por túneis que pareciam um labirinto, quando pude ver o céu sentir um grande alivio e observei uma fila que se formava no ponto para esperar o ônibus que iria ate a estação de Saint Michel, para me certificar perguntei se estava certo a um rapaz que estava esperando, falamos um espanhol carregado, mas foi possível compreender, durante o trajeto já comecei a me familiarizar, pois a estação de Saint Michel estava próxima ao Rio Siene e ai comecei a me sentir em casa.
As 01:30 hs eu estava descendo do ônibus e a Praça de Saint Michel estava cheia, os bares, as pessoas tirando fotos, mas estava frio, caia uma garoa, sentir vontade de ficar por ali e deixar para seguir meu rumo com a luz do dia, isso ficou somente na vontade porque sabia que não podia gastar grana e a maneira de aliviar esse desejo, era converter o Euro para nosso Real; Um remédio infalível bastava multiplicar por 1x 2.80, normalmente uma cerveja ficava em torno de 5.00 euro + taxas, isso já basta, pois jamais iria passar o resto da noite com uma cerveja, rapidamente seguir meu caminho para Saint Quentin em yvelines. As 02:00hs da manhã estava desembarcando na estação e para minha surpresa estava tudo fechado, parecia que eu estava chegando em uma cidade fantasma.
                                                                                                                       
Após descer do trem e ver aquela cidade vazia confesso que não tive medo, me dirigir ate o segurança da estação e mostrei o endereço do Hotel perguntando se ele conhecia, mas sempre seguindo a velha lição de que os franceses gostam quando você tenta falar a língua deles, “Parlez-vous Português?” Após isso fiquei sabendo que o hotel Pavillon dês Gâtines estava uns 10 km da estação e seguir para o ponto de táxi vazio, não passava uma viva alma e o segurança já havia fechado a estação depois de 40 minutos contado no relógio, apareceu um táxi fazendo retorno no ponto, rapidamente fiz sinal e após entrar no táxi exclamei; Pardon conduisez-moi hotel Pavillion dês Gâtines s’il vous plait! Durante o trajeto tentei puxar um assunto, mas o condutor não me deu confiança e em 10 minutos estávamos entrando na portaria do hotel, para minha felicidade havia um bilhete deixado pelo Lacerda comunicando que a minha chave estava no quarto do Guilherme Kardel. Era 03:20 da manhã quando bati na porta do Guilherme, ele estava fazendo uma arrumação nas coisas dele, foi um encontro maravilhoso porque conseguir falar com alguém que realmente entendia minha língua, eu estava muito exausto mais aquele momento de felicidade me deixava novo, comi um sanduba com suco que ele me ofereceu e após ouvir uma parte da sua viagem pela Alemanha fui para o meu quarto desmaiar.
                                                                                                      
As 09:00 hs, eu já estava fora da cama seguindo para o salão onde acontecia o café da manhã, quando entrei na sala fui abraçado pelo Luis Lazary e Elvira, logo depois veio o Faccin, Erich, Lacerda, Formiga, Calvete, sei dizer que naquele momento, apesar de estar sem as minhas bagagens a felicidade me dominava, pois estava revendo meus amigos audaciosos novamente. Quando contei o acontecido percebi o sinal de tristeza, pois esse fato já havia acontecido com alguns deles, o Faccin a sua bike a Elvira sem mala, mas o Faccin não se fez de rogado e comprou outra bike para não deixar seu sistema nervoso abalado. O grupo ainda não estava completo, porque alguns audaciosos estavam passeando pela Europa e só iriam chegar no dia 16/08. A sala do café estava cheia, mas o pequeno grupo de brazuca se destacava pela espontaneidade, eu já estava vestido com o uniforme da equipe porque era a única roupa que vinha trazendo na bagagem de mão, o Lacerda me emprestou seu shortinho baby look, assim pude ficar na espera da minha bagagem e recepcionar os audaciosos que chegavam.
Nós estávamos em pleno verão na Europa, mas era um verão atípico e os Audaciosos percebendo isso aproveitavam para fazer seus passeios de bike pelo centro de Paris. No dia 17/08 chegaram os audaciosos Richard e Juan e a festa foi total e vocês precisavam ver a alegria estampada no rosto do Juan, como diz o ditado, se sentindo um verdadeiro pinto no lixo, no dia seguinte chegou a Adriana, Jorge, A. Costa, Denis, Klaus, enfim depois disso com a equipe completa difícil foi reunir todos para a foto oficial.
                       
A equipe finalmente conseguiu reunir para a foto oficial, após isso o grupo começou a se mobilizar para a vistoria das bikes e isto contribuiu para começar nossos passeios pelas lojas de Paris. Alguns audaciosos haviam deixado para comprar os acessórios necessários em Paris devido à qualidade do material ser melhor, alguns com preço mais em conta, sei dizer que cada saída nossa era uma festa, estávamos em 3 carros e normalmente depois das compras sempre saiamos para almoçar. Durante esse tempo que ficávamos juntos nossa conversa era sobre as estratégias para o desafio que iríamos enfrentar e nas lojas nos divertíamos bastante apreciando a diversidade de acessórios e algumas vezes fazíamos fotos para registrar esse maravilhoso acontecimento.
                      
O dia da vistoria estava chegando e minha bike continuava viajando mundo afora, mas para minha felicidade o Gringo Klaus havia trazido uma recumbent na sua bagagem, pois o Kardel havia telefonado para ele perguntando sobre a possibilidade de conseguir uma reclinada para que eu pudesse usar, a alegria envolveu o grupo todo com essa atitude do gringo, mas alegria maior foi quando descobrimos que ele estava também trazendo um carregamento de cervejas alemãs junto com as muambas (Acessórios) que trazia para vender, nossa primeira iniciativa foi programar uma festa para a noite, no meu quarto havia algumas garrafas de vinho, o Faccin já havia combinado com o Portuga srº Jorge/esposa para trazer algumas tortas e apartir daí a festa estava arrumada as vésperas da vistoria das bikes.
                      O sarau  aconteceu no aptº de casal Facin/Lacerda, a mesa estava maravilhosa repleta de tortas e quiche, as garrafas de vinhos eram variadas, volta e meia eu pedia emprestado uma cerveja do gringo, o assunto era sobre o percurso, pois nós estávamos na companhia de um portuga cheio de experiência em audax, ele com seu português carregado nos explicava todos os detalhes, as perguntas eram freqüentes embora algumas vezes precisavam ser traduzidas pela sua esposa (Depenadores de velô). Nossa reunião estava show, alguns audaciosos já estavam dormindo sentados, quando tudo parecia está bem o Canadense do quarto ao lado dispara um What fuck doing!... I can`t sleep men`s, e rapidamente nosso interprete Lacerda foi falar com o Canadense, depois de uma lábia conseguiu convencê-lo a participar da festa, depois disso entramos noite adentro falando sobre os 1200 km Paris-Brest. 
                        
As 07:00 hs da manhã já estava acordado, como ainda tínhamos um dia para aproveitar, durante o café, eu, Lacerda e Faccin, combinamos de ir conhecer o Centro nervoso de Paris, seguimos de ônibus para Plasir, depois pegamos um trem para a estação de Berci onde fizemos uma coneção para o metro rumo a Estação de Notre Dame, quando descemos na estação descobrimos que estávamos em um verdadeiro labirinto, mas graças à habilidade do nosso guia Lacerda, conseguimos sair do lado contrario a praça onde estava a Catedral, mas tudo para nós era valido, estávamos passeando, cada lugar que passávamos era registrado com nossas maquinas, monumentos, praças, restaurantes etc... Nós realmente estávamos nos divertindo bastante, mais interessante ficou quando entramos na Fenac para ver as novidades, lá existia tudo de eletrônicos, livros, cds, bolsas, roupas, enfim quando nós voltamos à nossa realidade, já era 20:00 hs precisávamos voltar porque iríamos ter um longo caminho a percorrer ate Saint Quentin contando com o horário do ultimo ônibus de Plasir.
                              
Durante a viagem o assunto era sobre o centro nervoso de Paris que não havíamos encontrado, devido a isso os audaciosos Lacerda/Faccin vieram pegando no meu pé sem respeitar minha tristeza pela falta da minha bike que ainda não tinha aparecido, na verdade eu já estava conformado, só precisava decidir com que bike iria fazer o pedal, com a recumbent do gringo ou a híbrida do Faccin, eu tinha duas opções á mão, mas para minha felicidade temporária quando cheguei no hotel fui recebido com aplausos pela turma que estava hospedada, eles estavam me esperando para comemorar comigo a chegada da minha tão esperada bike, pensei que era brincadeira, mas tive um pressentimento quando vi um carro com o nome da empresa aérea e fiquei numa alegria que não sabia o que fazer, minha primeira atitude foi pegar a bolsa e correr com ela para o pátio, queria vê-la montada a qualquer custo e rapidamente a equipe toda veio junto comigo para me ajudar a montá-la. Não sabia por onde começar devido tamanha felicidade, rapidamente o Richard pegou as ferramentas no carro e juntamente com o Faccin caímos em campo iniciando a montagem.
                              
Nós estávamos a algumas horas de iniciarmos a vistorias das bikes, minha adrenalina estava a mil por hora, era 23:30 hs da noite, mas meus amigos audaciosos não iam dormir porque queriam ver o resultado final da montagem, os gringos olhavam assustados porque cada pedaço que eu tirava da bolsa era totalmente diferente estranho para eles, a Racer tem a relação na dianteira e isto a torna uma bike diferente, o Ruan juntamente com o gringo Klaus me incentivavam me oferecendo ora um pouco de cerveja e vinho, eu sem me fazer de rogado não recusava suas ofertas, pois estava fazendo frio, essa era uma boa maneira de me aquecer. As 00:15 hs da manhã a bike estava ok e sair para fazer o primeiro teste bike, como já era muito tarde me limitei a fazer um pequeno giro em volta do hotel porque precisava descansar, teria que acordar cedo para montar os acessórios e ir para o ckeck in de largada.
                   
Na verdade não conseguir dormir, fiquei rolando na cama devido à expectativa do evento, mas isso já era esperado por todos, normalmente a adrenalina aumenta fazendo com que o sono fique para segundo plano. Minha vistoria estava marcada para as 13:00 hs e a largada seria as 21:00 hs, isso porque eu iria sair com o grupo de bike especiais, o jantar seria apartir das 17:00 hs, eu também não tinha vontade de comer, as ruas estavam tomadas pelos grupos que iam saindo dos hotéis em direção a Saint Quentin, onde seria a Largada, reunimos nosso grupo para sair um pouco antes do jantar e seguimos formando um pelotão de brazucas bem animados existia ciclovias durante uma boa parte do percurso, a todo instante víamos passar pelotões de outros paises e isso era uma festa porque sempre nos cumprimentávamos, embora algumas vezes não entendêssemos bem as línguas. Realmente o que sentíamos naquele momento era algo inexplicável, a cidade toda estava mobilizada para o evento e quando passávamos nas ruas éramos ovacionados pelas pessoas que incentivavam gritando Bon Courage!...Bon Courage!...Au revoier
                        
As 19:00 hs eu já havia feito minha vistoria e para minha felicidade tive a oportunidade de apreciar a chegada dos ciclistas que se posicionavam para a largada, era algo inacreditável os grupos chegando formando pelotões de 600 ciclistas, na minha categoria especial éramos apenas 110, mas a atenção era toda direcionada para a gente, existia recumbent de todas as formas, algumas com carenagem, outras duplas, triplas etc... Algo inacreditável, coisas que meus olhos e minha maquina registravam sem cessar, na realidade eu estava encantado com tudo, eu era o único brazuca de recumbent e as línguas eram varias, mas de vez enquanto eu aquecia meu inglês para entrar no papo com o grupo. As 20:40 hs nós estávamos posicionados e as 21:00 hs foi dado tiro de largada para meu pelotão.
                 
Durante a largada saia um carro de som tocando o hino Francês com uma gaita de fole numa velocidade media de 30 km, ele nos levava ate a saída da cidade e depois voltava para buscar os outros pelotões, chovia bastante, mas isso não desanimava as pessoas que se posicionavam nas ruas para nos aplaudir durante a nossa passagem, algo inacreditável, as crianças nos davam as mãos para serem tocadas e nós podíamos ver a felicidade estampada em seus rostos, em alguns lugares existiam mesas prontas com água, café, lanches etc... Tudo para nos servir sem que gastássemos um euro sequer. Pude desfrutar desse pouco momento de prazer ate o km 50 quando em uma pequena subida na estrada entre a relva quebrei o cambio da minha bike, isso aconteceu as 23:00 hs da noite, mas não me entreguei e depois de muita luta conseguir ir ate o PC2 a 300 km em fougeres para depois abandonar a prova conforme meu breve relato. Cezar Barbosa - Rio de Janeiro - RJ - Relato PARIS-BREST-PARIS 2007
Depois de viver essa grande aventura eu ainda tinha mais uma missão a cumprir, precisava levar as muambas (comidas e lembranças do Brasil) para a Itália, era preciso me deslocar para o outro lado de Paris com aquela tralha toda, nós havíamos combinado que faríamos um churrasco de confraternização após o Audax independente de qualquer coisa, porque nós sabíamos que alguns não completariam o percurso, devido aos obstáculos impostos, mas só de está participando do evento já éramos vencedores e por isso precisávamos fazer esse encontro para comemorar nossa grande participação.
                   
Primeiramente precisávamos juntar os cacos dos audaciosos, as dores eram intensas, algumas difíceis de serem curadas naquele primeiro momento pos prova e todos sabíamos disso, eu particularmente fiquei muito triste com o que aconteceu comigo, mas dor maior eu sentia quando escutava o motivo do abandono da prova pelos amigos que haviam chegado tão próximo de subir ao pódio. O Richard Dunnes com 1000 km, Adriana/Guilhrme que dormiram no ultimo PC dominados pelo cansaço, Ruan que sofreu com seu banco, o gringo Klaus, A. Costa que quebrou nos primeiros km, enfim foram muitas dores, mas também tivemos momentos de felicidades com nossos brazucas audaciosos que completaram a prova, David, Faccin, Jorge, Lazzary, Formiga, mas disso tudo o mais importante foi que nós fomos lá e sentimos o coração pulsar fortemente por um esporte que gostamos de praticar, quero agradecer a todos os envolvidos diretamente e indiretamente em especial as esposas que sofreram bastante com a espera, Denis e Lacerda, o Cara que Firmou a Palavra titulo desse relato “DESOLE”...


                                                            Cezar Barbosa
                                                       PARIS-BREST-PARIS 2007
    
          Depois de viver essa grande experiência me resta esperar o Paris – Brest em 2011
                                       




Um comentário:

Anônimo disse...

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