quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Relato Brevet 600km Campinas 2004- Cezar Barbosa

Vamos a limpeza no computador co grande Cezar para compartilhar alguns relatos mais antigos:

                               RELATO brevet 600km Campinas /SP 26/07/2004


    “Comece devagar e continue, demore todo tempo que for necessário para  atingir seu objetivo.”

    Antes de começar a prova eu procurei incutir essas palavras em minha mente, dessa vez estava sendo diferente das outras, tinha tudo para dar certo, começando pela nossa saída do Rio, fomos pontual e conseguimos sair às 10hs da manhã, conforme havíamos combinado. Eu “Cezar, Pedro e Alec”, não tinha como atrasar, porque nós já havíamos feito todos os preparativos no dia anterior, pois nas competições passadas, nós já havíamos passado por experiências horríveis com o transito e isso nos custou muito, afinal de contas nós estávamos indo fazer 600km, com as bikes presas no rack, partimos Rumo a Campinas
    A viagem foi muito tranqüila, estávamos bastante descontraídos apreciando as paisagens e quando passamos pela Dutra, comentamos sobre o  passeio para Aparecida, Patrocinado pela Amazonas-bike, o ponto da conversa era sobre a Protéica, que sempre estava na frente da galera com seu selim invisível, porque sua protuberância escondia tudo, João e Paulinho é que sabem contar essa historia, fizemos nossa primeira parada no grill de Resende, depois de muito sacrifício para convencer o Alec, pois ele queria adiantar o Maximo da viagem ate o grill de S. Jose dos Campos, mas começamos  bem com nossa primeira parada, conseguimos estacionar em um lugar seguro e  nossas maquinas estavam expostas juntamente com todos os nossos equipamentos, ao nosso lado estava estacionando um carro com uma família muito simpática, que ficaram olhando para nossas bikes achando muito estranhas, entramos no grill e fomos lavar as mãos, mas  decidimos ir dar uma olhada na churrascaria, antes de entrar na parte dos lanches, não precisa dizer mais nada, ficamos ali mesmo, a rampa estava linda, nossos olhos brilharam e nossos estômagos roncaram ao sentir o cheiro das comidas expostas, saladas, massas, rabada com polenta etc... E os doces, sem comentários, detonamos tudo, de tanto nós irmos ate a rampa fizemos amizade com a família que havia estacionado ao nosso lado, começamos a brincar com eles dizendo que comer muito doce engorda,  principalmente quando você come com o sentimento de culpa, depois fomos para os licores e café, só depois dessa maratona gastronômica, partimos em direção a Campinas, mas  sempre na procura de uma casa lotérica para tentar fazer o jogo da maga-sena que estava acumulada, não encontramos  nenhum lugar aberto e daí em diante o Alec começou a sonhar que iria ganhar sozinho, porque já havia feito o jogo no Rio, mediante isto, a viagem se tornou uma viagem de sonhos, pensando no que iríamos fazer com a grana da loto, a essa altura da viagem, estávamos escutando George Benson, nós queríamos escutar nosso hino do Guess Who, “These  Eyes”, mas o cd não estava rodando, quando menos esperamos, já estávamos chegando ao nosso destino, antes de ir para o hotel fomos ao Decatlon para ver equipamentos, mas saímos decepcionados não encontramos nada que queríamos, compramos alguns acessórios e partimos para o hotel, na subida da rampa encontramos o gaúcho carregando uma caixa com sua bike zero e demos uma carona a ele. Chegamos no hotel as 17:00 hs e começamos logo os preparativos de montagem, ajustes e checagem de material, queríamos dormir cedo, a largada estava marcada para as 06:00hs da manhã, nesse período já havíamos feito o chek-in e subimos para o nosso quarto, assim que entramos  o Pedro foi tomar banho, o Alec tirou da bolsa um colchão mágico para massagem e eu fui montar o som,  ai sim, fomos escutar nossas  musica favorita, These eyes, cry every nigth for you etc...durante a viagem, nós havíamos conversado sobre varias formas de terapia para combater a dor, e a musical foi à escolhida para ser aplicada, antes e durante o percurso de 600km, fomos ao restaurante  do hotel, comemos  saladas e massa e ai fomos dormir lá pelas 23:30hs, era  cedo em comparação as outras vezes . Nossa alvorada foi as 04:30 da madruga, These eyes   voltou a tocar novamente, mas o Pedro não ficou muito satisfeito, parecia que a musica estava agindo de forma contraria em seu corpo, (causando dor) afinal de contas ainda era madrugada e ele não iria participar do Audax como atleta, começamos o dia com alongamento na cama e depois as idas  para o banheiro, essa parte é melhor eu não contar porque assim esse relatório pode passar mal, mas era insuportável o resultado depois que saia alguém, o Pedro é que sabe, isso já era de se esperar, a parada no grill era responsável, mas ao mesmo tempo, nós precisávamos colocar para fora tudo de ruim que existia dentro da gente, e assim foi feito. As 06:00hs da manhã estávamos leves e soltos, prontos para partir formando o primeiro pelotão,(Cezar, Alec,Tchê), ficamos um pouco embaraçados, porque ainda tinha gente montado as bikes por ter chegado de madrugada, ainda pensei em esperar o Jaider e Morales, que estavam estreando as suas speed-ligth, afinal eles   seriam os meus parceiros de equipe reclinadas, mas percebir que eles ainda iriam levar algum tempo para sair e assim partir com o primeiro pelotão, Seguimos tranqüilo porque a manhã prometia um dia lindo, assim fomos pedalando os primeiros 60km juntos, houve o primeiro momento engraçado, a corrente do tchê saiu, ai ele parou, mas esqueceu que estava de sapatilha, era uma subidinha, derrepente vejo ele caindo em câmara lenta, se estabacou, larguei minha bike e corri para socorrê-lo, porque ele havia caido para o lado da pista, a sorte foi que não tinha carro passando, de  brincadeira falei para ele da próxima vez cair fora da estrada, e assim fomos pedalando curtindo o nascer do sol, estava muito lindo, não conseguíamos olhar para a bola de fogo que crescia e ia ofuscando nossos olhos, mesmo com óculos escuros. Segui minha pedalada mantendo os meus 25km de media, a essa altura o Alec e Tchê já tinham sumido, havia bastante subida,  eu estava me poupando para completar a prova, afinal era 600km, e a prova estava apenas começando, minhas frases continuavam soando em minha mente, ”comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo”, segui observando a natureza subindo a rodovia 065 em direção Jacareí, o primeiro PC, estava em um posto de gasolina (BR) no sentido de Campos do Jordão, observei o viaduto que passava por cima da Dutra, mas distraindo resolvi acompanhar o sentido da placa para Jacareí, fiz o retorno no final da 065 e entrei para o centro da cidade, antes de chegar na cidade parei em uma vendinha para beber água de coco, comecei a chamar e não aparecia ninguém, quando estava saindo, apareceram dois  garotos que ficaram admirados com a bike e começaram a fazer as perguntas de sempre, como faz para andar nesse negocio etc.. Na verdade eu estava com presa e não tive paciência para esperar o coco, quando me preparei para pegar a estrada, passou um carro e tive que ir pedalando pelo acostamento de chão,  parei porque havia muita pedra por baixo do mato, quando coloquei o pé no chão, senti minha sapatilha afundar num gagalhão, tive que ficar parado porque o outro pé estava preso no pedal, falei para mim mesmo, muita calma nessa hora, sai da bike e comecei a limpar a sapatilha no mato, mas não tinha jeito, o troço fedia muito, não sei  que bicho tinha feito aquilo, era algo nojento, peguei um pedaço de madeira e fui tirando o residual da trava da sapatilha, mas a inhaca continuava no meu nariz, depois disso deduzi que os meus companheiros de quarto não estavam tão mal assim, não desanimei, induzi minha mente a acreditar que o acontecido iria me trazer sorte, entrei em direção a cidade e passei por um posto de gasolina, que julgava ser o primeiro PC (posto de controle), mas não encontrei ninguém fantasiado de ciclista, peguei o mapa, mas não olhei a planilha com os detalhes e continuei pedalando em direção ao centro,  avistei outro posto de gasolina, quando tentei subir o meio fio, furei o pneu dianteiro, não me desesperei, falei para mim mesmo outra vez, muita calma nessa hora “Cezinha”, encostei a bike no muro, retirei a roda, peguei minha bolsa com reparo, quando o cara do posto ao se aproximar disse  que havia uma loja de bike na esquina, mas a  decisão que tive foi eu mesmo  trocar a câmera, agradeci ao rapaz e perguntei se havia outro posto de gasolina da BR,  ele disse que sim, me indicando um próximo após a ponte, segui cidade adentro e as pessoas estavam admiradas com minha bike, as crianças saindo da escola gritavam e o transito ficava livre para mim, eu achando o Maximo aquele momento em que estava sendo ovacionado pelas pessoas, parecia que estava chegando no final dos 600km,  derrepente meu tel tocou,  ai eu cair na real que estava no caminho errado, a ligação era do Alec, que estava me esperando para sair com o 1º pelotão, momento depois não conseguia mais falar com o Alec, o tel estava fora de área, ai tentei o tel do Abel e pude confirmar que estava totalmente errado, já eram 12:00hs nesse momento olhei para o relógio e vi que  já estava uns 40 mints atrasado, foi quando resolvi voltar para a 065 e fazer o retorno pegando a 070 em direção ao Rio, nessa altura do ciclismo, já havia ligado varias vezes para o Abel pedindo orientação, parecia que aquele cagalhão que eu tinha pisado, estava me perseguindo e estava fazendo força contraria a sorte que o ditado diz, ”pisar em merda da sorte” finalmente estava no caminho certo, quando derrepente meu pneu começou a esvaziar, ate chegar o primeiro PC no posto da BR,  foi o tempo todo assim, minha sorte é que estava perto, tinha em mente consertar o pneu e voltar logo para tentar alcançar o Alec e Tchê, fui ate o banheiro lavar o rosto, tomei um chocolate quente e finalmente limpar a sapatilha direito, no PC estavam o 2º pelotão, Abel, Pedro, Plínio e o mecânico, que deu uma geral na minha bike, trocou a câmara que estava com problema no bico, contei a historia do cagalhão e a galera se divertiu, quando estava me preparando para sair com o 2º pelotão de Niterói, chegaram Jaider e Morales e pediram para eu esperar um pouco, que eles já iriam sair e assim fiquei uns 20 mints esperando, fizemos fotos, falamos sobre os componentes das bikes e partimos, ops ia esquecendo comi um pedaço de rapadura que o Jaider estava levando, ele devia ter uns 3 kilos e estava oferecendo para todos, afinal ele queria eliminar peso, saímos, fizemos o retorno em direção ao Pc 2 (330km) no hotel, agora eu fazia parte do 3º pelotão, estava decidido a voltar a fazer a minha media de 25km, pois havia caído para 23.5km, devido o problema do pneu, como a volta tinha mais descida, resolvi aproveitar para recuperar o tempo perdido e acelerei deixando os meus companheiros de reclinadas a ver poeira, alcancei o 2º pelotão, mantive o mesmo ritmo e outra vez deixei o 2º pelotão a ver poeira, eu estava o Maximo, feliz da vida descendo a uns 75km, era demais..., quando começou a aparecer às subidas não me dei por vencido, eu não queria desanimar, porque tinha que alcançar o 1º pelotão continuei forte, foi ai que me aconteceu o inesperado, quebrei o banco, peguei o telefone para ligar para o  Pedro, mas o cel estava dando fora de área, nesse momento parou um carro com um senhor dirigindo e perguntou se eu precisava de ajuda, perguntei se ele tinha algum pedaço de arame no carro , ele disse que não, mas   que havia um posto de gasolina do outro lado da rua, parei um pouco, pensei e falei para mim mesmo que não podia desanimar, nesse momento me veio ao pensamento o M’Gaiver, rapidamente paguei a câmara de ar de reserva e fiz uma amarração na haste do banco, conseguir adiar o problema por mais alguns quilômetros, nisso o pelotão de Niterói passou por mim , mas eles não podiam fazer nada, liguei para o tel do Abel e consegui falar com o Pedro, quando falei que o banco estava quebrado ele falou que viria ao meu encontro, falei de imediato que ele estava proibido de vir porque assim eu seria desclassificado, eles estavam em um PC a 60km de distancia, minha posição era ingrata, estava pedalando com o corpo para frente porque não conseguia encostar as costas no banco, subia e descia sem encosto, minhas pernas começaram a doer e iniciar um principio de cãibra, mas na minha mente, a vontade de completar os 600km era muito maior que a dor, comecei a lembrar da musica e cantar “These eyes” para combater a dor, e assim fui ate o Pc no pedágio do km 58 da 065, cheguei larguei a bike na mão do Pedro e corri para banheiro, na minha bolsa que estava no carro, tinha uns zip- tired, dei Para o Pedro fazer um gatilho, porque o outro banco estava no hotel a 72km, enquanto isso, eu comia melancia e fazia alongamento para relaxar as pernas, que estavam doloridas da posição, já eram 19hs, tinha perdido muito tempo o 2º pelotão estava de saída novamente e eu preocupado com o tempo, porque o banco não ficava pronto, depois de muito tempo, o Pedro liberou dizendo que estava ok, montei na bike e partir, sai  dali feroz, mas foi por pouco tempo, andei uns 08km e novamente o banco quebrou, agora as hastes estavam partidas e não tinha como fixá-las, precisei incorporar novamente o M’Gaiver e conseguir engatilhar o banco de uma forma que não me deixou tão desconfortável, quando dei as primeiras pedaladas, furou o pneu traseiro, parei no acostamento, já estava escuro e falei novamente para mim mesmo, “Muita calma nessa hora Barbosinha” vamos trocar esse pneu que isso não é problema, e assim o fiz, coloquei a lanterna na boca e conseguir reparar o furo, passei a mão pelo pneu e retirei uma farpa de aço responsável pelo furo, dei ar no pneu, mas antes de partir mentalizei novamente, “comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo”. Reiniciei meu pedal mentalizando o PC 2 que era no hotel, lá teria outro banco para ser substituído, ainda na estrada passei por um posto de gasolina e consegui um pedaço de arame, fiz o reforço do gatilho que me fez chegar ate o km330 no hotel, deixei a bike com o Pedro novamente e subi para tomar um banho, eram 23:30 hs, logo depois chegou o Alec que estava completando os 380 km, cumprindo a estratégia conforme havíamos combinados durante a viagem, essa estratégia não valia mais para mim, comecei a ficar confuso, pensei em ir dormir e acordar as 04:00 hs da madrugada para seguir direto, mas algo me dizia que era melhor eu fazer os 50 km para igualar aos 380 km do Alec, Seria muito puxado fazer 270 km direto, ainda mais, eu estava debilitado devido aos esforços que não estavam programados, e assim o fiz, tomei um banho frio , comi um pedaço de pizza, abasteci minhas garrafas com energéticos e partir as 00:00 hs para fazer os 50 km e me igualar aos 380 km com o Alec, montei na bike e encontrei Jaider e Morales chegando, perguntei se eles queriam ir comigo , mas disseram que iriam descansar um pouco, assim que sair do hotel  estava rolando uma festa Rave na esquina, fazia muito frio e as pessoas quando me viram àquela hora com aquele traje pensaram; chegou mais um maluco para a festa, levantei as mãos dando um sinal de maneiro e partir para completar os 50 km  em busca do passaporte para a etapa final, as 02:00 hs da manhã, estava eu de volta passando em frente à festa rave, dando um grito de felicidade trazendo o numero chave 69 com a consciência mais tranqüila,  agora só restavam 220 km , falando assim parece ate uma sacanagem que fizeram com a gente, subir para o quarto, tomei um banho, cair na cama e dormir como uma pedra. As 03:30 hs o tel tocou, o Alec havia pedido para acordar aquela hora, me chamou para sair com ele, mas era impossível, meu corpo não obedecia mais o comando da mente, as perguntas eram freqüente, o que eu estou fazendo aqui?... porque eu estava fazendo aquilo com meu corpo?... o que eu iria ganhar com aquilo?... para quem eu queria mostrar que era um super homem, nunca mais faço isso etc... votei a dormir pensando que tudo era um sonho, quando foi as 04:00 hs  da madrugada  meu relógio começou a despertar, ele toca ai você aperta um botão, mas se você não desligar o alarme, ele continua tocando de 5 em 5 minutos, ele tocava e eu  dormindo apertava o botão para parar, e assim foi ate 04:30, porque o Pedro já não suportava mais o despertador e me fez sair da cama, fiz uns alongamentos na cama , depois tomei um banho frio e desci para tomar café, as 05:30 estava partindo para completar os 220 km que restavam, a madrugada estava fria, o céu estava mudando de cor, um cinza claro partindo para uma cor vermelha de fogo, era o sol que estava surgindo e meus olhos observavam aquela mutação com admiração, meus  olhos nunca tinham vistos coisa mais linda, comecei a cantar minha canção e agradecer a Deus por aquele momento único na minha vida, nesse momento pude perceber o quanto o  ser humano é tão pequeno, eu estava feliz e encantado diante daquela grandeza que  o universo me proporcionava e isso já havia respondido a  todas aquelas perguntas que vieram a minha mente quando o cansaço me envolvia, confesso que senti um pouco de pena daquelas pessoas que ainda estavam na festa rave, porque tudo isso estava ali diante dos seus olhos, mas eles pareciam não ver, assim segui feliz o meu pedal podendo apreciar o percurso de 50 km que havia feito na madrugada, fui pedalando na direção de Holambra, passei por vários campos floridos de lírios,estava pedalando sozinho mas parecia que havia uma procissão me acompanhando fazendo festa, ria, cantava e sempre que os pensamentos desanimadores surgiam (aquele do tipo, será que o banco vai quebrar novamente) eu lembrava logo da minha frase “comece devagar e continue, demore o tempo que for necessário para atingir seu objetivo” , por um momento veio ao pensamento o meu amigo Lara, há uns dias atrás ele havia me dito que estava fazendo Raik, peguei o tel e liguei para ele, chamou e entrou na secretaria, mas não satisfeito, resolvi ligar no tel na casa da mãe dele, de prima atenderam, e era ele, dizendo que estava pensando em mim naquele momento, perguntou onde eu estava, eu disse que estava em Campinas fazendo 600km, falou que eu era maluco e perguntou o nome da rodovia que eu estava seguindo que ele iria mentalizar uma oração e iria ficar tudo bem, fiquei super feliz, porque tudo que eu precisava era  me livrar do fantasma do cagalhão.  Já tinha em mente que só precisava fazer 220 km, 110 km para ir e 110 km para voltar e pronto, não sabia quantos ciclistas estavam a minha frente, queria apenas completar os 600 km dentro do tempo estipulado, lembrei que havia combinado com a Julia para ela me ligar as 06:00 h s, mas como o telefone não tocou deixei para ligar as 07:30, e assim fiz, comecei a contar aquele momento lindo que estava vivendo, ela me perguntou como estava indo e lhe respondi que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, eu jamais  iria lhe dizer que estava difícil, porque não queria deixar ela preocupada comigo, desliguei o tel e acelerei o pedal curtindo uma reta plana, minha media chegou a subir para 25.9 km, e lá vou eu todo feliz, quando entro numa curva, e lá na frente, percebo que minha alegria iria durar pouco, começo a avistar umas subidas, que a principio eu imaginava que seria impossível vencer, parecia um paredão, mas logo fui me adaptando, porque quando você subia e depois descia, a velocidade que a bike atingia chegava a 60 km por hora, e isso ajudava para a outra subida, e assim foi como naqueles tobogãs, sobe e desce, ate a entrada para S. João da Boa Vista, onde completaria os 490 km, nesse momento a paisagem era tão bonita que eu passei a levar a competição como um passeio, parava para tirar fotos com o meu celular, não conseguia captar bem as imagens devido ao sol que era muito forte e a pouca resolução do cel,  assim fui indo, fazendo meu cicloturismo, quando faltavam uns 10 km para chegar no PC 4 em S. João, vejo um ciclista vindo no sentido contrario, descendo num ritmo frenético, era o Alec, já estava de volta com o passaporte carimbado indo para os 100 km finais, quando ele  me disse que só tinha ele na minha frente, aquelas palavras me serviram como uma injeção de animo, acelerei o ritmo, percebir que ainda estava no páreo para chegar entre os primeiros. Cheguei no Pc 4 muito eufórico e pedi para o mecânico fazer um ajuste na bike, fui correndo ao banheiro liberar um pouco de peso, e ai chegou o gaúcho só de camiseta e short reclamando que o percurso tinha sido mal elaborado, era muito pedreira e havia muita subida para 600 km, de certa forma, ele tinha razão, realmente era muita pedreira e todos nós estávamos consciente disso ao ver o gráfico, antes da largada, ao sair do banheiro, tomei uma água de coco,  abasteci as garrafas e sai saindo, nesse momento estava chegando o Tchê e mais atrás a equipe de Niterói, não dava para esperar, meu espírito de competição havia voltado e minha  meta era alcançar o Alec, nesse período fiquei sem receber ligação da Julia, eu tentava ligar mas não conseguia sinal, dava sempre fora de área e continuei descendo, na altura do trecho 344 presenciei um acidente incrível, um pick-up foi fazer uma ultrapassagem e estorou o pneu,  minha sorte foi que na hora da ultrapassagem, ele jogou o carro para o lado esquerdo e andou uns 300 m pela terra e só depois voltou à pista  na direita, eu estava numa subida e fui pedalando bem rápido para saber se alguém precisava de socorro, quando cheguei próximo, tinha dois senhores do lado de fora do carro e a roda  só no aro, como vi que eles estavam bem, eu segui meu caminho ate o km 188 que havia um PC móvel, esse PC ficava no topo da subida, o esforço que eu estava fazendo era muito grande, a bike não saia do lugar, era como pedalar numa esteira rolante, não chegava nunca, pelo tel o Abel e o Pedro havia me dito que tinha uma churrascaria no local, o sol estava muito quente e assim que alcancei o topo avistei o carro embaixo de uma árvore,  tudo parecia uma miragem, cheguei e fui recebido com um pedaço de melancia, minhas garrafas estavam cheias de isotônico que eu não agüentava mais beber, joguei tudo fora e troquei por água, faltavam apenas 65 km, havia bastante descida, nesse intervalo o Pedro ajustou o banco e perguntei se o Alec já tinha partido a muito tempo, o Pedro falou que sim,  + ou – uma hora, ai achei melhor respirar mais, porque seria impossível alcançá-lo, conversamos um pouco e partir com o banco alto, porque o Pedro tinha inflado muito e assim segui para o final, mesmo sabendo que não conseguiria alcançar o Alec, continuei pedalando forte para manter a media que havia caído para 24.5 km devido às subidas, nesse momento toca meu telefone, era a Julia, queria saber se faltava muito para terminar, falei que faltava pouco, uns 50 km e que chegaria por volta das 17:00 hs, naquele momento não passou nada pela minha cabeça, mas quando ela ligou novamente e perguntou o nome da estrada que eu estava pedalando, tive uma leve intuição de que haveria surpresa, continuei firme, outra vez tocou o tel, dessa vez era o Alec para dizer que tinha chegado, fiquei muito feliz e sabia que eu seria o próximo a chegar, meus nervos estavam trasbordando de euforia, porque o percurso era conhecido, já havia passado por ele  duas vez e agora estava passando do outro lado do Pc Virtual Indecoroso 69,  dali para frente era só descida e sabia que tinha apenas 25 km pela frente, lá ia eu levantando poeira, quanto mais perto do hotel chegava, mais energia eu ganhava, estava me sentindo capaz de seguir rumo ao 1200 km, 1500 km, 3000 km, tinha uma maquina incorporada em mim, parecia que eu era a bike!... Quando avistei o hotel, minha adrenalina triplicou, o tel tocou, era a Julia, eu falei tão rápido com ela, que ela não acreditou no que eu disse, falei que depois falava com ela, porque estava chegando para completar os 600 km, e assim que chegasse no hotel iria ligar para ela, foi uma chegada emocionante, a galera do apoio estava toda me esperando, aquela ultima rampa do hotel se transformou num tapete vermelho que me levava a gloria de ultrapassar a barreira dos 600 km as 17:30 hs em 35:30 hs , após isso era flash para todo lado, estava muito feliz recebendo abraços da equipe de apoio e pensando que horas antes, estávamos ali naquele mesmo local, partindo para enfrentar um desafio, que nos era imposto pela nossa simples vontade de vencer o limite de nossos corpos e fazer valer as palavras “Mente Sã e Corpo Sadio” e completar 600km. Quando derrepente, entra um táxi no hall do hotel, a porta se abre, é a Julia que desce brigando comigo porque já havia chegado, ela queria fazer uma surpresa e achou que eu não estava falando a verdade quando falei que já estava chegando, minha alegria era imensa e virou êxtase, corri ao seu encontro e fui lhe abraçar, mas em troca recebi um tapa no ombro, porque cheguei primeiro que o táxi que a trouxe da rodoviária, notei que havia alegria em seu coração, mas seu rosto estava confuso, porque a surpresa que ela iria fazer não saiu como ela queria, para brincar com ela, me equipei novamente e simulei uma outra chegada, para que ela pudesse me fotografar, esse momento foi muito engraçado,  por causa da minha espontaneidade de subir na bike e fazer uma outra chegada, mas falei que ela não tinha culpa de eu ter conseguido pedalar mais rápido que o táxi, depois nos abraçamos e nos beijamos felizes, meu corpo estava sobre efeito da adrenalina, subir para o quarto para tomar um banho quente, só ai dei os parabéns ao Alec, deitado em seu colchão mágico, depois  descemos para o restaurante do hotel e fomos esperar o restante dos atletas chegar, como era de lei, pedir uma cerveja long- nec,  porque precisávamos brindar o grande feito. 
                                               600 km  Campinas-SP
                                                    Cezar A. Barbosa    

8 comentários:

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