terça-feira, 18 de agosto de 2009

Relato Farrapos 1000 km- Saul

Somente ontem á tarde (04-08), quase três dias depois de concluído o BREVET FARRAPOS 1000 consegui caminhar com menos dificuldade, devido aos dois tornozelos inchados, bem como o joelho direito.

Sempre gostei de ler e acompanhar os relatos dos colegas AUDAXIOSOS das diversas provas realizadas. Até não me importo se o tamanho é extenso, ao contrário, a curiosidade aumenta a cada linha.

Também nunca fui capaz de colocar um misero relatinho dentre os diversos breves que participei, mas desta vez não posso deixar passar no anonimato, preciso, não por mim, mas em respeito a todos que participaram destes 1000 KM pedalando e organizando este inesquecível, apocalíptico (dá-lhe Rogerban) e emocionante Brevet!!!

Irei dividir em quatro etapas (assim como a prova) meu relato, para não se tornar cansativo (não tanto quanto 1000 km, com certeza).

Faço Audax desde 2005; segundo ano das provas aqui no estado e se não estou enganado, também no Brasil. É bem verdade que em 2006 e 2007 não participei de nenhuma prova, por diversos motivos, mas nunca deixei de acompanhar a realização das mesmas.
No ano passado fiz o 200 de Lajeado (grande Kieling) e o 300 de Santa Cruz (mestre Faccin).

Este ano já havia decidido fazer toda a série, ainda mais com um Brevet inédito de 1000 km.
Tudo começou com o 200 de Porto Alegre.
Logo após o de Lajeado; 300 em Caxias; 400 e 600 em Santa Cruz.

Creio que não importa muito a quantidade de provas feitas em uma mesma série, mas sim a qualidade e evolução natural conquistadas em cada uma delas, por isso a opção que tenho de apenas um brevet em cada distância (a exceção deste ano foi os 200 de Porto Alegre), sem falar na questão financeira.

Em 2005 completei a série pedalando uma MTB GTS (será que alguém se lembra?). Migrei para uma speed Vicini e tinha expectativa de concluir todas as provas com ela. Apesar de menos confortável, o rendimento do pedal é muito tentador e quando se está bem adaptado à bike, realmente vale a pena.

Bem, chega de enrolação e vamos ao que realmente interessa: o Brevet Farrapos.

A primeira etapa foi bastante intensa, com certeza a temperatura estava negativa logo ao passar pela 290 em direção a Encruzilhada e as subidas nestas condições mantinham o corpo aquecido, fazendo com que as paradas fossem somente para o estritamente necessário (no meu caso apenas para tirar uma "água do joelho"), momento em que o Isac caiu ao bater na roda traseira não me recordo de quem.

Nada de grave aconteceu e seguimos vendo os primeiros raios de sol no horizonte, uma dessas imagens que te dá força e inspiração para seguir em frente. Por volta das 07h20min cheguei no Posto BR que era o PC1 na prova de 400 km, neste caso meu primeiro PA.
A alimentação e hidratação não poderiam ser subestimadas neste momento, pois mais de 100 km com poucos pontos de apoio nos esperava pela frente. Sempre tento ser o mais auto-suficiente possível, por isso levo em minha bagagem muitos itens, dentre eles comida. Poderia pedalar mais leve? Sim, mas não abro mão da segurança de levar comigo tudo que julgo possa ser útil e neste percurso "desértico" isto ajuda muito.

Parti deste PA por volta das 07h50min, sentido mais frio do que no momento da largada, já que geralmente é nesse horário que se registram as menores temperaturas do dia.
Poucos km a frente o visual era de tirar o fôlego (além das subidas). Uma fina camada de gelo cobria os campos fazendo-se entender o verdadeiro significado da palavra GEADA, simplesmente um espetáculo da natureza servindo de combustível e estimulando seguir em frente.

As horas foram passando, os km avançando e o dia naturalmente aquecendo vagarosamente. Logo após a descida da serra fiz minha única parada neste trajeto, novamente para tirar aquela "água do joelho".
De repente, uns 15 ou 10 km antes da BR 392 começo a sentir um forte cheiro parecido com o que sentimos nos arredores de um mercado público em época de semana santa.
Isso mesmo, era o Pexe, subindo e girando sem parar.

Seguimos juntos com um leve vento contra na 392 até o Posto Fita Azul, local do primeiro PC. Chegamos ás 12h12min e disse ao Pexe que pretendia parar no mínimo durante uma hora, pois sabia que suas paradas são meteóricas e que não precisaria me esperar, pois ainda tinha de almoçar e aplicar a famosa e milagrosa pomada hipoglós no "popo" e protetor solar (este no rosto mesmo).

Feito isto, voltei á estrada ás 13h13min, conforme o planejado e agora com o vento á favor, pelo menos até a saída da BR.
Ando alguns km e quem se esborracha novamente no asfalto?
Ele mesmo, o Isac, caindo pela segunda vez no dia.
Atravessei a rodovia e perguntei como ele estava. Disse-me que estava bem. Insisti pra ter certeza, daí ele parecia mais preocupado com o "mico" de ter caído daquela forma do que com a queda em si.
Realmente não era nada grave e por sorte não passava nem um de nossos "amigos caminhoneiros" naquele momento. Logo em seguida o Rogerban passou na mesma direção e também parou para ajudar.

O pedal continuava rendendo bem, até o sono e aquela bobeira característica pós-almoço me pegarem de surpresa. O sono devia ser pelas poucas horas de sono da "meia" noite anterior.
Tive de parar mais vezes pra jogar aquela água no rosto e me alimentar, até que finalmente estava de novo de volta á serra, daí não há sono que insista em prosseguir.

Neste momento senti o peso extra de minhas bagagens na íngreme subida. Isto combinado ao meu pedivela 53x39, dificultavam bastante e aumentavam o esforço.
Com certeza isto contribuiu para as fortes dores que viria a sentir no decorrer da prova.
O entardecer chegou rapidamente e com ele novamente o frio, antes mesmo da noite.
Uma nova parada no PA de Encruzilhada era estratégica, e por volta de 17h45min senti de novo aquele cheirinho ao chegar no posto.
De novo ele, o Pexe estava "atracado" em um prato de massa, recuperando as energias.
Claro que pouco tempo após minha chegada ele já estava saindo.

Novo reforço de pomada na buzanfa, dois copos de café com leite e demais guloseimas calóricas para enfrentar os últimos 90 e poucos km da etapa do primeiro dia e ás 18h30min voltei para a estrada. O bom desta parte é que recuperamos tudo o que havíamos subido na parte da manhã, pois as descidas prevalecem até o trevo de Pântano Grande.
Incrivelmente foi calmo à volta para Santa Cruz após o trevo, apesar do inexistente acostamento, o pouco tráfego de veículos facilitou o retorno.
Cheguei no hotel ás 22:31, cansado mas feliz por poder descansar finalmente desta primeira etapa.

Subi para o quarto, tomei aquele renovador banho, preparei minha janta e arrumei tudo para o dia seguinte. Já passava de 01h quando finalmente "desmaiei" para o merecido e essencial descanso!!!

Números da Primeira Etapa: Canguçu

PC 1 – Posto Fitazul
Hora Chegada - 12:12
Hora Saída - 13:13
ODO – 210,910 km
Velocidade Média – 26,28
Velocidade Máxima – 60,22
Cadência Média – 79
Tempo de Pedal – 08 h 01 m
Tempo de Prova – 08 h 42 m

PC 2 – Hotel Antonios
Hora Chegada – 22:31
ODO – 422,280 km
Velocidade Média – 25,78
Velocidade Máxima – 60,82
Cadência Média – 76
Tempo de Pedal – 16 h 22 m
Tempo de Prova – 19 h 01 m

SEGUNDA ETAPA: VOLTA NA QUADRA

O celular desperta: 5:00 h da manhã é o horário. As poucas, porém merecidas e revigorantes menos de 4 horas de sono pedem apenas mais alguns minutos de descanso.
Mas a cabeça já está na estrada, para mais uma etapa: a VOLTA NA QUADRA!!!
Procuro não pensar muito, apenas me levanto rapidamente da cama e desço para o café.
Encontro, completando a etapa de Canguçu e repondo as energias, o Erich e o Dacivaldo. Detalhe para a camisa do Erich, do PBP (alguém precisa de visão mais otimista para seguir pedalando; além é claro de ver os amigos concluindo uma difícil etapa da prova).

Conversamos não me lembro o quê enquanto tomávamos o café e logo descia eu do quarto para mais uma jornada. Do nada apareceu o Faccin, também despertando para mais um dia. Lembro-me de dizer pra ele que começava a sentir o joelho. Com todo experiência em longa distância que possuí, me disse que deveria girar mais e forçar menos, algo que pode parecer óbvio, mas que realmente faz muita diferença e deve ser levado muito á sério e aplicado, como realmente tentei colocar em prática.

Digo que tentei, pois também havia as assaduras, que já incomodavam um pouco e quanto mais se gira, mais se assa. O diclofenaco a partir desde momento também passou a ser item obrigatório na bagagem.
Eram 06h10min quando da partida para mais uma fria manhã e 220 e poucos km em uma "voltinha na quadra". Com certeza este era o trajeto, ao menos em minha opinião, de maior tensão de toda a empreitada, por diversos motivos (movimento grande e péssimo acostamento em várias partes, possibilidade de vento na BR 290 [que se confirmou], segunda maior distância, cansaço acumulado... )

Rapidamente o dia amanheceu e com ele uma companheira indesejável, porém dificilmente inevitável e oculta: a dor. Até que ponto somos capazes de suportá-la?
Cada um tem seu grau de percepção e tolerância para diferentes intensidades de um mesmo mal, além do fator psicológico, que pode ser desicivo em momentos delicados e de superação.

Apenas segui em frente, pensando que o melhor seria tentar respeitar todas as reações e sinais que nosso corpo emite, com muita força de vontade e espírito guerreiro, como um verdadeiro Farrapo no campo de batalha, com sangue correndo apenas nas veias, impulsionando metro após metro e materializando um final de superação.

Depois de uns 45 km encontro "o casal barriga verde" de Criciúma, Maico e Rogério (perco o amigo mas não perco a piada, hehehehe). Muito legal o companheirismo desta dupla, pois sempre fazem junto o Audax. Admiro isto porque acho difícil andar sempre no mesmo ritmo durante longos trechos, mas eles ao contrário, ou como muitos, estão do inicio ao fim da prova juntos.

Logo veio o acesso á Cachoeira do Sul, e embora a obra de recapagem do asfalto por alguns km, foi à parte mais calma e tranqüila da volta na quadra. Ao passar a barragem do Fandango, após o centro de Cachoeira, o vento lateral se intensificou e era uma pequena amostra das dificuldades que me esperavam na BR 290, combinado com motoristas raivosos e maldosamente mal educados, sedentos em passar a poucos centímetros da bicicleta.

A chegada no Posto Papagaio deu-se ás 11h23min e a fome também pedia passagem, sendo facilmente dominada com o bom e velho café com leite, pastel e croquete de carne mais o que havia em minha mochila e bolsa de guidão.
O papo rendeu com o responsável por este PC, (não lembro o nome dele, mas estava com uma jaqueta do flamengo e era muito gente boa, deixo aqui meu abraço, mesmo ele tentando me tirar da prova, pois no momento de assinar meu passaporte o mesmo voou de sua mão para baixo do carro. Ainda bem que conseguimos resgatá-lo).
Quando voltei para a estrada já passava do meio-dia, mais precisamente 12h10min.
Minha companheira oculta ainda se fazia presente, a esta altura do dia de forma mais controlada, acho que estava me acostumando com ela; devia ser o efeito do diclofenaco e a vontade em continuar, mesmo com o outro inimigo invisível e não menos difícil, o vento totalmente contra.

Nesta parte as longas retas predominam durante 50 km e o sobe e desce constante acabaram ajudando a vencer o vento no rosto. Até esperava maior dificuldade, afinal vento contra é até pior do que muitas subidas. Não pense que foi barbada, pois foram mais de 2h e meia até o Posto Raabelândia (PA) mais uma parada obrigatória para hidratação e alimentação.

Feito isto, restavam apenas 50 km para Santa Cruz, estressantes 50 km.
Pode até ser repetitivo e chato ficar sempre relatando a conduta de nossos "amigos" motoristas, porém é extremamente desgastante dividir a atenção entre o ato de pedalar, os buracos da estrada, o péssimo (ás vezes inexistente acostamento) , caminhões, ônibus, carros, e todo tipo de veículo motorizado sem noção do que é andar de bicicleta e que por isso se acham no direito de brincar com nossa segurança das maneiras mais variadas e costumeiramente conhecidas por todos nós.

Lá pelo meio do caminho me passa o Miguel, anjo da guarda de todos os ciclistas na estrada e fora dela, sempre com seu jeito simples, humilde e cativante.
Paramos pra trocar uma idéia e logo após ele seguiu na direção de Pântano Grande, afinal estava fazendo por merecer o honroso cargo de Diretor de Prova, totalmente merecedor e justificado.

Chegando ao Hotel mais uma vez, PC 04, pontualmente ás 17h14min, quem eu encontro saindo para Encantando? Ele mesmo, o audaxioso "cheroso", Pexe.
Trocamos breves palavras e comentei de minhas dores nos tornozelos e joelho e para minha surpresa ele me disse que também estava sentindo o joelho.
Me recomendou o uso de um spray para dores e inflamações, o qual apenas deu tempo de carimbar meu passaporte e fui correndo, ou melhor, caminhando até a farmácia, já que até pra caminhar começava a ficar difícil, comprar o dito "mascarador de dor".

Na hora em que cheguei ao hotel estava o Graxa, (figura folclórica desde o inicio da modalidade aqui no estado desde o ano de 2004) como mais novo voluntário da prova, já que um problema em sua roda o impediu de continuar ainda no retorno da noite anterior, senão me engano entre Encruzilhada e Pântano.

Subi para o quarto e começou a correria. Antes disso, logo que sai do PC 03 no Posto Papagaio, vinha pensando em mudar minha estratégia que inicialmente era um tanto quanto ambiciosa para o dia de hoje. Se tudo ocorre-se perfeitamente a idéia era concluir as etapas 2 e 3 ainda neste segundo dia, nem que o retorno de Encantado ocorre-se de madrugada, ficando apenas a etapa de General Câmara para o sábado.
Porém, devido aos acontecimentos desta etapa, tinha a dúvida entre ficar descansando até o meio da próxima madrugada e tentar fazer as duas últimas etapas seguidas (seria bastante cansativo, pois deixar quase 400 km para pouco mais de 24 horas poderia ser extremamente desgastante) .
A segunda opção seria ir somente até Encantado e pernoitar no hotel do PC 05, dividindo assim as distâncias finais entre a sexta e o sábado, estratégia altamente recomendável e que acabou se revelando a decisão acertada.
Acompanhe no relato da terceira etapa, de Encantado, sabe-se lá quando...

Números da Segunda Etapa: Volta na Quadra

Data: 31-07-09
PC 3 – Posto Papagaio
Hora Chegada – 11:23
Hora Saída – 12:10
ODO – 547,140 km
Velocidade Média – 25,57
Velocidade Máxima – 60,82
Cadência Média – 76
Tempo de Pedal – 21 h 23 m
Tempo de Prova – 31 h 53 m

Data: 31-07-09
PC 4 – Hotel Antonios
Hora Chegada – 17:14
ODO – 649,590 km
Velocidade Média – 24,95
Velocidade Máxima – 60,82
Cadência Média – 75
Tempo de Pedal – 26 h 01 m
Tempo de Prova – 37 h 44 m

TERCEIRA ETAPA: ENCANTADO

Já no quarto do hotel, cozinhando mais uma vez meu macarrão, continuo com a
dúvida entre seguir para Encantado neste mesmo dia ou descansar um pouco (isso
inclui principalmente algumas horas de sono). A luz do dia recém começava
desaparecer no horizonte, dando lugar á uma noite de incertezas.

Porém eu sabia que mesmo com o cansaço acumulado do dia este não era o melhor
horário para descansar e dormir assim tão cedo seria uma eterna luta contra a
cama, pensamentos mil e a expectativa do restante do caminho.

Por tudo isso decidi partir neste mesmo dia para a terceira etapa, ENCANTADO.
Já alimentado e com tudo pronto na bicicleta, sai ás 19h25min para quase 100 km,
mais precisamente 96 km. Logo de inicio tive a certeza da decisão ter sido a
mais correta possível, já que o vento não mais se fazia presente deixando o
clima muito bom para pedalar, apenas atrapalhado pelo grande movimento na RSC
287 até o trevo de acesso á Venâncio Aires.

Rapidamente já ingressava na RSC 453 para comprovar o bom rendimento mesmo com
as inseparáveis dores. A noite estava perfeita (até demais), já que até mesmo o
frio havia amenizado bastante na comparação com o dia e noite anterior.

Tudo tem uma explicação e esta aparente calmaria climatológica não fugiu a
regra, pois lá pela metade do caminho, com cerca de uns 45 km, começou a
chuviscar, bem de leve e sem a necessidade de uma parada para proteger toda a
bagagem da bike.

Conforme fui me aproximando de Lajeado, o asfalto foi ficando cada vez mais
molhado, porém misteriosamente não se podia classificar aquilo como uma
verdadeira chuva, pois não passava de pingos espaçados apenas molhando de
verdade o asfalto.
Ainda assim aquela parada agora se fazia necessária, a menos que quisesse eu ver
tudo molhado em minha mochila.

Com toda a tralha devidamente empacotada (protegida) a cidade de Encantado
estava a cada minuto, ou a cada km, cada vez mais próxima. Após as 22:00 h o
movimento de veículos caiu consideravelmente, fazendo um silêncio ensurdecedor
prevalecer em meio ao leve sobe e desce e as diversas curvas até finalmente o
tão esperado hotel hengu.

Destaque para o Pexe, que cerca de uns 2 km antes do hotel já passava de volta
para Santa Cruz. Não paramos para conversar, foi tudo apenas no grito, no que
ele me pergunta: "Tu vai voltar ainda hoje?".

Respondi que não, obviamente, pois para o dia de hoje eu já estava por demais
satisfeito. Tudo o que precisava e pensava durante estes últimos km antes do
hotel eram um bom banho, uma cama quentinha e comida para recuperar as energias.
Cheguei pontualmente á meia-noite neste que, além de hotel, era o PC 5 e
rapidamente subi até o terceiro andar juntamente com minha companheira de
jornada, é claro.

Um banho quente, comida que trazia na mochila e cama.
Deitei a 01:00 h da manhã e ainda assim demorei um pouco pra pegar no sono,
cerca de 20 minutos. Acho que a "pedaloína" ainda agia nas veias, mas foi
preciso apenas um pouco de paciência para o cansaço predominar.

Acordei as 04h30min com o som característico do "toc toc" das sapatilhas no
chão. Apenas virei para o lado e em mais um breve cochilo o celular desperta ás
5:00 hs.
Não se pode pensar muito, apenas levantar rapidamente e descer para o café já
incluído na diária.
Ao descer encontro dormindo (cochilando é a melhor definição) o Udo e o Claiton.
Falei sobre alguma coisa com o Claiton enquanto tomava o café e ás 06h20min
peguei o caminho de volta a Santa Cruz do Sul.
O asfalto estava praticamente seco e a pouca chuva da noite anterior não mais se
fazia presente e nem parecia querer voltar, prenunciando um ótimo final de
Audax.

Logo começaram a aparecer os primeiros audaciosos no sentido contrário.
Segui num bom ritmo, já com o dia claro e logo estava na subida das sete curvas.
Lá pelo meio dela encontro o Cícero e seguimos num bom papo até o hotel Antonios
(PC 6) para mais uma etapa concluída.

No exato momento em que chegávamos ao hotel os catarinenses Maico e Rogério
iniciavam sua viagem de volta a Criciúma, infelizmente antes da hora.
Desta vez tinha até "equipe de apoio" na chegada.
Além do graxa, sempre prestativo (obrigado pelas pilhas do farol), o Osvaldo fez
questão de limpar e lubrificar a relação de minha bicicleta (sem palavras para
agradecer, a não ser um humilde muito obrigado).

Números da Terceira Etapa: Encantado

Data: 01-08-09
PC 5 – Hotel Hengu
Hora Chegada – 00:00
Hora Saída – 06:20
ODO – 745,270 km
Velocidade Média – 24,69
Velocidade Máxima – 60,82
Cadência Média – 74
Tempo de Pedal – 30 h 10 m
Tempo de Prova – 44 h 30 m

Data: 01-08-09
PC 6 – Hotel Antonios
Hora Chegada – 10:26
ODO – 840,940 km
Velocidade Média – 24,67
Velocidade Máxima – 61,43
Cadência Média – 74
Tempo de Pedal – 34 h 05 m
Tempo de Prova – 54 h 56 m

QUARTA ETAPA: GENERAL

O prenúncio de terminar o audax de 1000 km e aproveitar ao máximo possível o dia
para pedalar fez desta última passagem no hotel (PC 6) uma tentativa de ficar
parado o menor tempo possível.

Ainda assim, a saída em direção a última etapa, General Câmara, se deu apenas ás
11h50min. Sempre depois de uma parada estratégica, (como todas as paradas no
hotel antonios) o corpo reagi muito bem e a pedalada flui com vontade extra,
ainda mais com o pensamento sempre constante da chegada.

Tudo transcorria perfeitamente, até mesmo em relação ao clima, pois o frio dos
dois dias anteriores não mais se fazia presente com tamanha intensidade.

O mesmo não posso falar em relação a minha inseparável companheira, que logo
depois do trevo de acesso para Passo do Sobrado se manifestou de forma intensa
como até então nunca antes havia feito.

No odometro o acumulado já estava em 869 km e o ritmo caiu de forma assustadora.
Aquela "maravilhosa" subida do cerro da boa esperança se aproximava, mas eu
sabia que não devia parar, pois já estava aquecido e ao mesmo tempo que a dor me
incomodava, ma dava força pra seguir em frente.

E assim fui subindo, girando roda até o topo e depois a descida.
Cheguei até em pensar que naquele ritmo conseguiria apenas ir até o PC 7 durante
o dia, pois a idéia inicial era chegar neste PC e voltar até o Pesque e Pague
ainda durante o dia, restando apenas 62 km para a última noite.

Uma coisa é certa: "Não existe felicidade eterna e nem mal que dure para
sempre". E desta forma, ainda um pouco antes do Pesque e Pague Panorama,
recuperei a alegria em girar os pedais.
Pensei até em não parar, mas era impossível, a fome me consumia e um bom
alongamento também era necessário.

Eu chegava e o Pexe já estava saindo para os últimos 62 km.
Trocamos algumas palavras e logo ele se foi.
Ainda era cedo, cerca de 14h40min.
Percebi que minha idéia inicial poderia se tornar realidade, então logo já
retornei para a estrada em um belo dia de sol.

O que as duas últimas etapas tinham de estressantes em relação ao trânsito, esta
estrada tem de tranqüilidade, pois o tráfego de veículos é quase nulo.

Isto mostrou ser acertada a decisão de deixar esta parte como a última do
trajeto, diminuindo as chances de acidentes que ainda bem, não ocorreram.

Pontualmente ás 16:18 cheguei ao PC 7 e tive a honra de ser o primeiro (se não
estou enganado) a provar a sopa do Holf e do Guilherme, já que pelo que me
disseram o Pexe passou tão cedo que ela ainda não estava pronta.

Sem comentários a receptividade neste último PCC (posto de controle e caminhão)
A sopa então, deliciosa e por demais especial !!!
O papo estava bom mas ainda faltavam quase 90 km para a chegada e pouco mais de
uma hora da luz do dia.

Entre este PC e o Pesque e Pague vários audaxiosos passaram e tive a certeza de
que da mesma forma como havia sido muito difícil chegar até este ponto, também
era quase certa a chegada e conclusão do desafio tanto de minha parte como por
parte de todos que ali estavam.

Mais feliz cheguei ao Pesque e Pague, para saborear um belo prato de macarrão.
Não posso dizer que estava com fome, porém isto já era incluído no pacote e era
melhor estar bem alimentado e prevenir do que deixar a fome chegar.

Neste ponto as assaduras queimavam e o hipoglós foi a salvação (aliás, durante
todo o Audax).

Feita pela última vez a aplicação, já é noite quando os últimos 62 km abrem a
contagem regressiva para o fim deste primeiro Audax 1000.
Antes de chegar mais uma vez ao cerro da boa esperança, me aparece o Miguel,
sempre atencioso e na expectativa com a noite e madrugada deste último dia.

Vencida a subida, logo veio a descida e o cuidado com os buracos, que deste
ponto até o acesso á RSC 287 se fazem presente em grande número.

Quando lembro da imagem da movimentada RSC 287 se aproximando penso que somente
17 km estão faltando, mas a atenção deve ser mantida até o fim e um filme passa
na mente sobre estes três intensos dias.

A última subida (sete curvas), última descida (e que descida), entrada para
Santa Cruz e últimos 5 km.

Dor?

Que dor?

Anestesiado pela satisfação da chegada e uma mistura de sentimentos neste
singular momento em que 1000 palavras não seriam capazes de expressar o quanto
valeu cada minuto deste Audax.

Números da Quarta Etapa: General

Data: 01-08-09
PC 7 – Posto ABS
Hora Chegada – 16:18
Hora Saída – 16:45
ODO – 930,400 km
Velocidade Média – 24,44
Velocidade Máxima – 61,43
Cadência Média – 74
Tempo de Pedal – 38 h 03 m
Tempo de Prova – 60 h 48 m

Data: 01-08-09
CHEGADA – Hotel Antonios
Hora Chegada – 21:28
ODO – 1019,900 km
Velocidade Média – 24,28
Velocidade Máxima – 61,43
Cadência Média – 73
Tempo de Pedal – 42 h 00 m
Tempo de Prova – 65 h 58 m

AGRADECIMENTOS:

A todos que participaram deste Audax, seja pedalando, no apoio, com o pensamento
positivo e boas vibrações.

Como falei durante a entrega das medalhas:

"Os verdadeiros vencedores não foram os que completaram o desafio, mas aqueles
que tiveram a coragem de tentar e não se deixaram levar por pensamentos
pessimistas ou a opinião de quem não acredita ser capaz do impossível".

O impossível não existe, somos a prova viva, quando queremos muito alguma coisa
e canalizamos toda nossa energia para este objetivo, tudo podemos.

Para aqueles que ficaram pelo caminho, fica a experiência adquirida para o
futuro, pois em todas as situações podemos observar e aprender sobre o que deu
certo ou não.
Parabéns a todos os brevetados que com alma e garra de verdadeiros farrapos
enfrentaram todas as dificuldades do caminho e concluíram esta importante etapa
rumo a até mesmo conquistas ainda maiores (1200 ???)
Obrigado a cada um dos voluntários em cada PC, que de maneira especial estavam
sempre prontos para ajudar no momento de nossa chegada e durante nosso
"descanso".
Que maravilha a maneira familiar como fomos recebidos por toda equipe e
proprietários do hotel antonios, sempre dispostos a ajudar em qualquer hora, sem
falar o café sempre á disposição.
Ao Graxa (mais uma vez, obrigado pelas pilhas), que todos sabemos, abandonou a
prova por problemas na roda de sua bicicleta e ficou no apoio até o fim.
Ao Osvaldo, que lubrificou a relação de minha bike numa das passagens pelo hotel
(mais uma vez, sem palavras).
A família, pela paciência, compreensão e tranqüilidade transmitida durante os
treinos longos com várias horas de duração.
Ao Faccin, que possibilitou esta magnífica, única e inesquecível oportunidade e
realizou o sonho de todos nós.
Ao Rafael, o Cláudio e o Edson, companheiros de viagens, grandes pessoas e
sinceros amigos.
Enfim, á todos que nem mesmo sei o nome, mas que fizeram a História deste grande
Audax!!!
Abraços e muito obrigado a grande família de Audaxiosos, valeu!!!

3 comentários:

Luiz M. Faccin disse...

Parabens Saul.
Realmente um belo relato.
Vai valeu muito reler este texto no futuro e lembrar das façandas do passado!
Abraços

Saul A. Rodrigues disse...

Obrigado Faccin, mais uma vez!!!
Demorei uns dias para concluir e ficou um pouco longo, mas é como você falou: "Já que pedalaram 1000km, não custa fazer um relato de umas duas páginas..."
Levei á sério e exagerei um pouco, mas finalmente tá pronto.

udo.map disse...

Buennnas!
Teu relato, COMPRIDÃO? Esperem o meu...
Parabéns, a você e a todos APENAS pela idéia de achar que o nosso limite não está mais na quilometragem, mas nas nossas cabeças.
Parabéns em especial a vc por pedalar sem reclamar de vento, trânsito, frio, etc. Afinal isso tudo não é mais do que parte de um muro baixinho que nos separa do pomar carregado de... Medalhas! Hahaha!
Bah! Meu relato tem as 4 etapas, mas não me lembro com quem eu pedalei, além do Bughera até o Posto BR em Encruzilhada, no retorno... Acho que foi o Vitor...
Abraço do Paiudo