O brevet 1000 km iniciou em julho de 2008 quando pedalava o brevet 400 km de Curitiba. O David Dewaelle me falou que poderíamos conseguir a medalha de Randonneur 5000 pois havíamos concluído o Paris Brest Paris 2007. Para isto precisávamos para isto também o brevet 1000 km.
Em outubro de 2008 fiz viagem de mais de 500 km de carro para vistoriar estradas e definir o percurso do brevet 1000 km.
Em janeiro de 2009, eu e o Udo, fomos a Canguçu ver o percurso recém inaugurado da RS-471.
Para pedalar o brevet 1000 km eu tinha um grande trabalho extra, organizar os brevets de 400, 600 e o próprio brevet 1000 km. A organização dos brevets roubou o meu tempo livre e treinei menos do que pretendia. Fiz uma boa base em 2009, pedalando 6 brevets de 200 km, 3 brevets de 300 km e ainda uma Fleche Velócio de 385 km.
O brevet de 400 pedalei adiantado uma semana antes do brevet original, poren em dia bem mais frio.
O brevet de 600 também pedalei em outra data e também com muito frio e para dificultar estava com uma virose que me deixou muito debilitado.
Dia 29
Sem muito sucesso eu tentei dormir até mais tarde na manhã deste dia e também tentei descansar após o almoço. Após a reunião técnica na noite deste dia eu ainda tinha muito o que fazer, mas precisava jantar. Eu, o Miguel e a Sandra fomos no restaurante Centenário, por lá estavam vários outros ciclistas de saída para o hotel para tentar algumas horas de descanso.
Depois da janta fui para casa. O material do brevet estava quase todo pronto,mas eu precisava tomar banho e organizar as minhas coisas para a pedalada. Muita coisa eu havia deixado no quarto do hotel, mas o material da bicicleta estava todo por conferir. Fui deitar apenas às 23:30 para tentar dormir até às 2:30. Estava preocupado com a organização do brevet e cheio de detalhes na cabeça. Provavelmente cochilei umas 2 vezes por alguns minutos, mas estava muito longe de descansar o que precisava. Às 2:30h levantei, vesti a roupa para pedalar, comi alguma coisa, coloquei a bike no carro, me despedi da esposa e fui para o hotel.
No hotel fui rápido, larguei as coisas, montei a bike, entreguei o material para o Miguel e coloquei o equipamento. Agora c’est comme as, que seja como tem que ser. Que Deus nos proteja e que ninguém se machuque gravemente no primeiro brevet 1000 km do Brasil.
Na hora da largada eu sai do hotel para a rua e estava bastante frio ( 2 graus). Eu estava bem protegido e usava: meias Assos Winter, cobre botas impermeável Thermo, calça de lycra, bermuda Assos, blusa Solo X-thermo, jaqueta inverno impermeável forrada Sport Full, touca solo embaixo do capacete, luva de plástico e luva forrada impermeável, alem de óculos, sapatilha, protetor solar, creme contra assaduras, protetor labial,... No alforje eu estava levando alguns itens para se o frio apertasse ainda mais, calça impermeável e mais um corta vento Wind Stopper Scott Gore. Na rua senti que mesmo com esta roupa eu sentia frio nos braços e peito. Abri o alforje e vesti também o corta vento Scott.
A largada foi realizada no posto de combustível ao lado do hotel para evitar barulho aos demais hospedes. Largada 3:30h em uma quinta feira gelada. Largamos sem muita afobação. No Distrito Industrial começou a se formar o pelotão da frente com mais de 10 ciclistas onde eu também estava. Andávamos a mais de 25 km/h, mas não muito mais do que 30 km/h, um ritmo bom. O frio depois de esquentar estava suportável. Em Rio Pardo o Rubens Gandolfi deixou cair a garrafa e eu aproveitei a oportunidade para urinar. O pelotão seguiu. Muito perigo em cima da ponte sobre o Rio Jacui ( 700 m) com movimento de veículos mesmo antes das 5h. No morro da antena, antes da fonte, alcancei o pelotão novamente. O Rubens ficou com mais alguém e o pelotão estava com uns 7 ciclistas. Em Pantano Grande entremos no freezer, estava muito úmido e o frio deixou o rosto dolorido, o verdadeiro frio de doer. Resolvemos não parar no PA- ( Ponto de Apoio) da Raabelândia e, para ganhar tempo, seguimos no asfalto novo, percurso mais longo. O termômetro que estava com o Miguel marcou zero grau. Depois de Pantano chegamos no trevo de acesso a cidade e avistamos dois ciclistas mais a frente. Era a dupla Zézo e Maico de Urussanga, SC. O Pexe aumentou o ritmo e foi atrás da dupla, deixando os demais. O pelotão estava mais disperso e realizamos um parada rápida. O Isac se enroscou com o Vitor e caiu o suporte de guidão da bike soltou e perdemos algum tempo ali. O pelotão se separou, pois com aquele frio não era possível ficar parado.
O dia foi clareando e chegamos no PA de Encruzilhada. Hora de comer para enfrentar os próximos 110 km. Massa, arroz e molho, mas e que molho, como disse o Claiton, molho de graxaim. Comer por necessidade e não por vontade. Não demoramos muito e seguimos. Os companheiro de pedalada e conversa foram trocando. Ao lado de Encruzilhada do Sul, nos locais mais altos do percurso, quando o sol já brilhava anunciando um bonito dia, começamos a avistar a geada. Uma geada realmente forte que congelou até as folhas mais altas e as pedras. Podíamos avistar algumas arvores isoladas no campo. O sol derreteu o gelo no campo amarelado, mas não na sombra e a imagem era muito bonita do campo amarelo iluminado pelo sol e as arvores com a sombra branca de geada.
A decida gelada de 4 km até o Arroio Peixoto, a igreja com a caixa d’água e ainda um local muito bom de pedalar, local quase plano em um percurso de aproximadamente 10 km com vista bonita para os dois lados. Decida do Abranjo de mais de 4 km, o rio Camaquã e o Bar do Neto, ponto de parada onde haviam alguns ciclistas.
Avistei a viatura da Policia Rodoviária Estadual e parei para conversar. Os policiais queriam tirar duvidas sobre o andamento dos ciclistas. Eu e o Isac ficamos por lá conversando por algum tempo enquanto eles verificavam os documentos vencidos de um caminhão. O pelotão de São Jerônimo tem mais de 1000 km de estradas sob sua jurisdição para fiscalizar e apenas uma viatura, mas estava lá para dar apoio aos ciclistas do brevet 1000 km. Muito obrigado e por favor, estes policiais merecem melhores condições de trabalho a viatura estava falhando!
Seguimos em um dos trechos mais cansativos do percurso até chegar na Coxilha do Fogo. O meu celular tocou e eu precisava atender, poderia ser o Miguel com alguma noticia ruim, ou sei lá, mas não era, UFA! Era o Leandro Bittar de revista Vo2max querendo saber informações sobre o brevet para colocar no site Prólogo, Segui pedalando e conversando. Pedi desculpa porque o nosso esquema de divulgação do brevet estava falhando. O Leandro ficou um pouco surpreso quando eu disse que estava pedalando o brevet no km 200. Descobriu que havia um organizador pedalante.
Chegamos no PC-1 depois das 13:30. Almocei muito e reabasteci a água. Segui com mais dois ciclistas. O retorno até o Rio Camaquã é mais fácil e o sol ajudava. Queria subir o Abranjo de dia e havia tempo para isto. No Bar do Neto havia uma turma parada por lá, resolvi seguir logo após uma rápida parada no asfalto para alongar. O Oswaldo vinha logo atrás e o Rogério Bernardes eu avistava mais a frente. Busquei o Rogerban no inicio da subida a subi conversando ( sozinho como ele mesmo disse em seu relato). No final da subida a noite estava chegando e paramos para alongar e colocar mais roupa. O Oswaldo nos alcançou e seguimos juntos por algum tempo até que fui me distanciando e segui sozinho por mais de 30 km até o próximo PA. Na subida um caminhão passa tirando fininho de min, com o pneu para dentro da linha branca. O acostamento é estreito e eu já estava com os pneus da bike quase no mato. Que motorista ........... Nas subidas próximo a Encruzilhada eu esquentei e estava feliz por que a noite não estar tão gelada. Cheguei o Posto Br ( PA) e o Miguel estava lá dizendo estar muito frio: “são 20 horas e já está apenas 3 graus”. E eu achando que estava melhor! Mais massa, arroz, molho e um copinho de café. Próxima parada em Pantano a 40 km de percurso fácil. Segui com o Cícero e o Trevisan.
Em Pantano Grande comi um pão e tomei 2 xícaras de café com medo de não dormir quando chegasse no hotel. Não senti sono, mas seguimos em um ritmo mais lento. Depois de Rio Pardo o Trevisan não estava bem e começou a reclamar do sono. Eu que incrivelmente estava quieto, comecei a conversar, bobagem é claro, para manter-lo acordado. O movimento da veículos é maior e cada vez que um veiculo vinha no mesmo sentido nosso precisávamos descer da pista para o acostamento. Em alguma destas descidas o Trevisan caiu, não se machucou, mas deixou cair um pouco da motivação que estava no bolso da camisa. O pedal estava lento e poderia ser melhor.
Chegamos no PC-2 aproximadamente às 2h. Pretendia dormir 3h no mínimo, mas perdi tempo, comendo, tomando banho- será mesmo que precisava?- escovando os dentes- coisa boa- e verificando detalhes da organização do brevet. O Edimar ( Graxa) havia desistido devido a um aro quebrado e estava no hotel, pedi para ele permanecer no hotel, controlando, ajudando a apoiando os ciclistas na saída e chegada nos PCs. Dei algumas orientações sobre o brevet e mostrei onde estava todo o material para os Pcs separado em caixas. Resumindo, dormi 2h e 30 minutos e acordei com dificuldade ás 5h. Tomei café e estava me preparando para sair e encontrei o Rodrigo Cortese, saímos juntos para a segunda etapa e o movimento na rodovia era grande. O acostamento como sempre, apesar do pedágio, muito ruim. Os motoristas, alguns mais educados, outros nem tanto. O Rodrigo andava na frente e eu atrás controlando no espelho- caminhão, desce! Carro, desce! Ônibus, desce!... O vento estava favorável e estávamos bem, mas não conseguíamos render muito devido às condições.
Em Candelária encontramos a Rosane Gomes, voluntária a torcedora controlando a apoiando os ciclistas. Depois realizamos uma parada rápida em frente ao Parque Witeck, local onde as obras na rodovia, e seguimos. O dia estava nublado, frio e o vento lateral tornava tudo difícil. Chegamos em Cachoeira do Sul e estava cansado. Paramos no posto de combustível para comer algo. Encontrei o ciclista local Marcelo Gazzaneo que passou por lá e perguntou: o que tu está fazendo aqui? E eu respondi: sabe que eu não sei! Ah! Lembrei, sofrendo um pouco, mas iremos sofrer mais para pedalar os 1000 km. Seguimos com o Cícero que estava passando.
Vento lateral e fome, mas chegamos no PC-3, são 8 pontos de controle, incluindo a chegada, andamos tanto e só tinha 3 carimbos no passaporte. O Pexe, Saul, Maico e Zezo estavam na nossa frente. Comer, comer, reabastecer a água e criar coragem para enfrentar o vento contra em uma reta de 47 km. Pretendia chegar de dia em Santa Cruz, mas esta etapa foi a mais difícil e demorou mais do que o esperado. Quase 3 horas para chegar em Pantano Grande. O Miguel estava por lá e fez algumas fotos e deu noticias dos demais ciclistas no brevet. Um senhor perguntou para o Rodrigo de onde estávamos vindo e ele, já sem muita paciência, começou a explicar a concluiu dizendo que faríamos 1000 km. O senhor olhou e disse: agora tu está me gozando, eu faço 1000 km de moto e fico cansado e tu me diz que vai fazer mil de bike? Eu disse para o Rodrigo: deixa, nem perde tempo explicando e vamos embora. Fizemos um lanche e saímos para mais 50 km até o pc-4 no hotel.
Novamente acostamento ruim e estrada com muito movimento de veículos. Os motoristas de caminhão não aceitam que o ciclista pedale em cima da linha branca. Fazem o ciclista sair, ou cruzam por cima, mesmo que não venha veiculo algum no sentido contrário. Este percurso é onde isto fica mais nítido e freqüente. O vento parou, sorte de quem estava atrás. Chegamos em Rio Pardo na tardinha de uma sexta feira. Que lugar horrível de pedalar neste horário. Na ponte sobre o Rio Jacui tivemos que parar para esperar os veículos, depois tivemos que andar contra mão, retornar, voltar para a mão certa, parar e descer da bike para nos manter vivos. No trevo um caminhão da empresa Cone Sul que transporta lixo nos ultrapassa a mais de 100 km/h ignorando os ciclistas, pedestres, demais veículos,.. Fiquei pensando: será que o tipo de carga tem alguma relação com a ignorância e prepotência do motorista? Caminhão boiadeiro, que transporta lixo e madeira não os piores, mas e os ônibus que transportam pessoas? Uma coisa é certa! A prepotência e ignorância do motorista tem relação com a ganância do dono da empresa que explora o serviço deste profissional que nem sempre é assim. Quando saímos do trecho de estrada com tachões no eixo da pista (a colocação destes tachões parece ser a maior obra da Concessionária Santa Cruz Rodovias) me senti mais aliviado. Perdemos mais de ½ hora para pedalar um percurso de pouco mais de 3 km, mas estou vivo para escrever este texto.
Em Santa Cruz do Sul passamos em frente a loja Faccin Bicicletas, loja apoiadora do brevet Farrapos 1000 km, e havia uma pequena torcida para nós, nem paramos e apenas gritei: 650 km! Chegamos no hotel com vontade de ficar para dormir, mas era muito cedo e queríamos cumprir o planejado, ou seja dormir no PC-5. Reabastecemos os estoques e seguimos. Antes de nós apenas o Pexe e o Saul haviam saído do PC-4. O Cícero resolveu dormir 1h antes de seguir. A dupla Maico e Zezo estava dormindo e pediu para serem acordados a ½ noite. Pensei: estes catarinas vão acabar ficando aqui e desistindo. Recebi noticias de outros desistentes: Erich, Érika e Oswaldo. A previsão era de chuva forte em todo estado, mas caramba! Está frio e ainda vai chover? Seguimos para jantar em Venâncio no restaurante Casa Cheia que atende até a ½ noite. Chegamos lá quase na hora de fechar e o restaurante estava vazio! Estávamos em 4 ciclistas: eu, Udo, Claiton e Rodrigo, mas o Rogério Bernardes chegou depois.No Restaurante ficamos um tempão conversando e rindo. O Carlos Calvete, mais um voluntário no brevet, também chegou por lá. Eu estava com fome, mas não conseguia comer e estava com dificuldade para mastigar e parecia estar cheio.
Saímos os 4 ciclistas e fomos juntos até o PC-5. O Rogério ficou por lá. A chuva ameaçava vir e não vinha. O asfalto até que estava molhado, mas ela não veio. Valeu São Pedro! A gente agradece, mas o Pexe não pode fazer o mesmo já que foi atingido por uma chuvarada, mas o Pexe é peixe!Estava frio, mas era suportável. O nosso ritmo era lento e o sono, mas que sono? Eu não sentia nada de sono, não dava muito tempo pois eu e o Rodrigo conversávamos besteira o tempo todo.
Antes de Lajeado encontramos o Pexe que já estava retornando do PC-5. Eu disse aos demais: vem comigo e confirma tudo o que eu disser. Fui contra mão e parei o Pexe: é o seguinte, você sabe a questão da distribuição das 10 medalhas ACP1000 km- agora mudou, a entrega vai ser por ordem de chegada dos ciclistas no brevet e vale tudo para garantir uma medalha destas. Então, como você está na frente e a gente não está entre os 10 primeiros ciclistas, nós iremos te tirar do brevet agora! O Udo disse que iríamos cortar os pneus de bike do Pexe e ele não sabia se ria, ou fugia. Depois de muita risada ficamos um tempo conversando e nem lembrava que estávamos no brevet Farrapos 1000 km.
Em Arroio do Meio tinha um bailão movimentado. Um Passat azul ( dos antigos) vinha rápido acelerado na contra mão e no acostamento, ou seja, em nossa direção. A adrenalina foi a mil e o susto foi muito grande. Não sabíamos para onde ir até que o desgraçado estacionou ao lado de outros carros, que alivio! As pernas cansadas estavam bambas. Uma mulher estava no centro da pista gritando: Seu desgraçado! Tu não me ama! Eu gastei dinheiro... Um caminhão vinha embalado na descida e a continuação da sena seria terrível, mas o motorista conseguiu frear a tempo de evitar o pior. Ufa!
Do restaurante Casa Cheia até o PC-5 são 70 km com varias subidas e levamos quase 4 h para fazer este percurso. Subida e mais subida, corpo dolorido, fome e chegamos às 4h no PC-5 do Hotel Hengu de Encantado, RS. O Daniel e o Henrique estavam lá. Acordamos o dono do hotel e pedimos a sopa. Cansado combinamos de dormir por 2 horas, sem banho para evitar perda de tempo. O dono do hotel começou a servir a sopa em um tacho grande, mais um, outro. Eu estava na sexta servida de sopa e disse: chega de trazer sopa senão a gente não vai ter tempo de dormir. Fomos dormir às 4:30h. Deitei com roupa, apenas tirei a sapatilha, meia e corta vento. Antes de dormir de dormir eliminei o peso dos intestinos.
Duas horas depois o telefone tocou. Eu deitei agora, deve estar errado! Que nada era 6:30h. Levantei logo e estranhei. Não sentia dor alguma, era como se eu tivesse tomado um potente remédio para a dor. Eliminei mais um pouco de peso, comi mais alguma coisa, reabasteci a água, paguei a conta.
Comi, dormi e eliminei peso= estou novo, ou quase!
Saímos gritando Arebaba! Arebaba! O Udo e Claiton já haviam saído. O meu telefone toca, era o Udo querendo saber se eu não tinha encontrado nada em cima da mesa na frente do PC que estava em frente ao hotel. Menos mal que não era nada pior. Cruzávamos pelos demais ciclistas que se dirigiam para o PC-5. Fiz a lista da ordem em que os 17 ciclistas estavam no brevet. Queria postar no blog estas informações. O dia estava bom e com nuvens e estava esquentando. Calculei o horário que chegaríamos no PC-6 novamente em Santa Cruz do Sul. Liguei para casa e falei com a minha esposa. Encomendei a massa para 2 ciclistas, mas não precisava fazer muito porque não queria sair muito pesado para a ultima etapa. Alcançamos o Udo e Claiton. O Udo levava uma sacola com bergamotas ( mexiricas ) pendurada no guidão e foi oferecendo para reduzir o peso. Não paramos no Restaurante Casa Cheia e seguimos para Santa Cruz.
No pedágio avisei os demais ciclistas e fui na frente abrindo caminho na pista exclusiva para motos. Coloquei os cones mais para o lado permitindo que os ciclistas cruzassem sem ser por cima dos tachões da pista. O funcionário do pedágio veio na minha direção, mas eu ignorei e continuei colocando os cones para o lado, ele não sabia o que fazer e nem o que dizer, nós seguimos.
Depois do pedágio encontramos o Rogério Giron Claumann ( Zézo) e o Maico Bez Birolo, os dois estavam retornando para casa e haviam parado para fazer algumas fotos dos ciclistas. Parei rapidamente, larguei a minha bike e falei: o que vocês estão fazendo aqui? Vocês merecem levar um tombo por terem desistido. Cheguei ao lado do Rogério e empurrei ele que não resistiu e caiu deitado na grama ao lado do acostamento. O Maico ria e não parava e eu disse: Você também. Empurrei ele já foi se largando para deitar no chão. Pior que não conseguia levantar de tanto rir. Acho que esperava encontrar um grupo de ciclistas muito cansados, mas teve uma surpresa com a minha brincadeira. Ficamos ali conversando algum tempo. O Miguel chegou por ali e fez algumas fotos do grupo.
Chegamos no Pc-6 próximo ao ½ dia. Troquei a blusa, reabasteci a água, esperei um pouco o Rodrigo e fomos almoçar lá em casa. Puder ver a família, almocei a ainda fiz uma postagem no blog.
Seguimos para a ultima etapa. O dia teve alguns momentos de sol e nublado, mas esquentou e estava abafado. No percurso até Pinheiral cruzamos por todos os demais ciclistas do brevet, entre eles estava a Lidiane que subia girando bem.
Na subida do Cerro da Boa Esperança senti muito calor. O Miguel nos alcançou e ficamos conversando por algum tempo enquanto ele fazia algumas filmagens. O vento estava fraco, mas contra. Na subida já não tínhamos a mesma força. Depois da ponta sobre a ferrovia encontramos o Pexe que já vinha retornando e queria completar o brevet ainda de dia. Algum tempo depois encontramos o Saul também retornando.
Eu e o Rodrigo, desde o PC-3 estávamos projetando o nosso horário de chegada. Apesar do ritmo lento na madrugada anterior, estávamos dentro do planejado. Pensamos em chegar ainda de dia ao PC-7 ( até 18h) e resolvemos não parar no Pesque e Pague Panorama. O Claiton estava por lá e também havia algum outro ciclista.. O percurso de Pinheiral até General Câmara tem mais subidas, mas acho que foi a primeira vez que notei isto pois nas pedaladas anteriores sempre estava mais descansado.
Enquanto pedalava, se não estava conversando eu pensava, deixava os pensamentos correrem soltos. Durante várias vezes pensei na conquista e de como seria receber a medalha de Randonneur 5000. Lembrei das palavras do David que disse ter lido que receber esta medalha é mais emocionante do que receber a medalha do Paris Brest Paris. Lembrei de todos os brevets pedalados desde 2004, das corridas de aventura, dos momentos difíceis e também dos bons momentos, mas do enorme trabalho que tive para chegar até aqui. Pensei nos poucos quilômetros que ainda restavam para concluir o brevet e me separavam desta medalha. Tentava planejar o futuro e pensava na organização de algum brevet Audax em 2010.
As forças estavam acabando e estava faltando energia. Comia alguma coisa do meu estoque, mas representava não fazer efeito. Chegamos no Pc-7 antes das 18h e ainda era dia, mas estava esfriando novamente. O PC estava muito legal com caminhão, mesa com toalha, frutas, sopa, café, cadeira de praia e lembrava um piquenique. O atendimento dos voluntários nota 11. Deu vontade de ficar ali conversando, mas a intenção era chegar antes da ½ noite.
Depois da sopa o rendimento melhorou e até o retorno ao Pesque e Pague o percurso mais fácil ajudou. Conversamos sobre o nosso tempo na chegada e decidimos completar o brevet em menos de 70h, mas poderíamos tentar completar em menos de 68 horas. Resolvemos tentar. Começamos a encontrar os demais ciclistas que seguiam para o PC-7. No escuro era difícil identificar cada um. Chegamos no Pesque e Pague e parei para conferir como estava a programação para os pratos de massa. O pessoal do PPP, sempre prestativo me avisou que estariam atendendo até a chegada do ultimo ciclista no retorno o que deveria ser depois de ½ noite. Acertei detalhe do pagamento e etc. O Rogério Bernardes estava lá, dormindo com a cabeça em cima da mesa. Acordei ele que me perguntou se o Isac e o Mogens já haviam passado. Seguimos e logo depois encontramos o Isac que disse ter abandonado o Mogens que estava muito lento e pediu para a gente conversar com ele e ver como estava pois havia caído um tombo. Disse para ele não se assustar que o Mogens estava acostumado a cair. Disse para o Isac seguir. Alguns metros depois encontramos o Mogens que vinha muito lento na subida, mas pedalando e disse estar bem.
Agora a única preocupação era chegar e a chuva que vinha chegando. O cerro da Boa Esperança subimos com dificuldade e descemos com cuidado. Quando chegamos em Pinheiral no km 1000 a chuva veio com força. Teoricamente já estávamos com o brevet de 1000 km, mas ainda faltavam 17 km até a chegada. Estava com a calça impermeável no alforje, mas nem quis parar para colocar. Descemos com cuidado e andamos rápido na cidade.
Chegamos no hotel às 23h e 29 minutos com o tempo de 67h e 59 minutos. Depois de guardar as bikes tentei ligar para a minha esposa que não atendia a ligação. Tomei banho e coloquei roupa seca e fiquei conversando com o Pexe e Edimar. Comi e tomei algo. O Giovane e família estavam no Hotel e saiu para levar o Claiton para casa logo após a sua chegada. Próximo a 1h eu consegui conversar com a mulher. Eu estava feliz por ter chegado, mas com sono e sem o carro. A chuva estava muito forte e resolvi dormir no hotel mesmo contra a vontade da esposa. Se acontecesse algo de imprevisto no brevet eu estaria em local melhor para poder ajudar.
Quando acordei fiquei sabendo que todos haviam chegado bem. Tomei café, peguei o carro e fui para casa, mas logo retornei para a premiação. Se conquistei alguma medalha ou brevet, a minha família tem uma boa parcela de méritos e provavelmente o meu filho seja o que mais tenha sofrido com isto.
Hora da premiação.
Ciclistas cansados, parentes amigos. Imprensa? TV? Radio? Claro que não, só se fosse campeonato de futebol, mesmo que da 4º divisão da liga citadina de futebol de várzea para veteranos. A imprensa não estava, mas este foi um trabalho que não tive tempo de fazer. Sempre preferi me preocupar com as muitas outras tarefas para se organizar um brevet, a imprensa ficou como se possível, mas teria e trabalho e disposição para conseguir uma reportagem na melhor revista especializada em ciclismo do Brasil. Lembram do telefonema que recebi antes de chegar no PC-1?
Todos os participantes do brevet 1000 já haviam pedalado também os brevets de 400 e 600 de Santa Cruz neste mesmo ano. Ao contrário dos brevets menores, quando o ciclista chega e quer pegar a medalha para sair correndo para casa, a partir do brevet de 400, eles aprenderam a aproveitar o momento de celebrar a vitória, ou seja, a cerimônia de premiação. Isto ficou mais evidente a partir do brevet de 400 km. Talvez porque eu tenha conduzido a cerimônia de forma mais descontraída e informal, por vezes até irônica, sempre que possível anunciando detalhes e curiosidades de cada participante. Vale lembrar que conheço todos e já pedalei com muitos deles.
No brevet Farrapos 1000 km todos os participantes brevetados e voluntários se conheciam dos brevets anteriores, nas mais do que isto, eram amigos e isto transformou os brevets em encontros muito agradáveis. Não sei se algum dia teremos outra oportunidade de ter um clima assim em outros brevets. A esperança é que este clima de amizade permaneça e que as experiências vividas na série até 1000 km do Santa Ciclismo sirvam de motivação e bagagem para conquistas maiores. Agora quando escrevo este texto, depois de ter participado do brevet Audax de 100 km de Santa Maria, afirmo que os ciclistas participantes do brevet 1000 km não são mais os mesmos, agora são muito mais amigos.
Na premiação eu não estava com pressa e ninguém parecia estar. Cada ciclista recebia a sua medalha e certificado, posava para as fotos e depois tinha que fazer algum discurso ou comentário sobre a sua participação. A premiação iniciou às 11h e só acabou depois das 14h. Alguns ciclistas estavam muito emocionados em seus discursos, inclusive eu. Alguns destes discursos podem ser vistos nos vídeos realizados e que foram colocados no You Tube ( Farrapos 1000 km).
Fui o ultimo a receber a minha medalha e fazer o meu discurso quando falei sobre a minha possível medalha de Randonneur 5000 e li o regulamento que havia traduzido ainda em 2008. Depois iniciamos uma conversa sobre a possibilidade de organizar um brevet de 1200 km aqui no Brasil e até hoje ainda não dei como encerrada a cerimônia de premiação do primeiro brevet de 1000 km do Brasil. Este brevet foi o mais longo evento ciclístico realizado de forma ininterrupta no Brasil no ano de 2009.
A premiação do brevet Farrapos 1000 km continua com a divulgação dos relatos, com a reportagem sobre o brevet na revista Vo2 Max, com as lembranças, vídeos e fotos, ....
Depois eu ainda tinha que guardar o material do brevet no hotel, recolher as minhas coisas no quarto etc.
Só cheguei em casa para almoçar depois das 16h
Luiz Maganini Faccin
Paris Brest Paris 2007
Fleche Velócio 2009
Serie até 1000 em 2009
5000 km em outros brevets pedalados desde 2007
Lutando por uma medalha Randonneur 5000 em 2009..
Frases do livro Tempestades e Calmarias
Diogo Guerreiro, Editora Marco Zero
Nossa mente nos leva por caminhos traiçoeiros, preguiçosos e comodistas. Foi preciso enfrentar verdadeiras dificuldades para perceber que a antiga situação não era tão ruim.
- Vocês devem sempre esperar por condições boas para decidir sobre a desistência. Quando o vento está forte e o dia está nublado e frio, ai é fácil desistir. Nas, prestem atenção, se mesmo com um dia bonito de sol e bons ventos vocês quiserem abandonar a viagem, então é porque realmente devem.
A inércia e o comodismo são os atributos que mais retardam a nossa evolução.
..., afinal, o que seria da viagem se não fosse a superação dos desafios?
Fiquei grato por ter sentido isso. Que vida maravilhosa podemos ter se nossos desafios são desejados.
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