A realidade é mais real, e cruel, do que se quer imaginar.
Alguém disse:
"todo o ciclista que
pedala estes eventos longos e muito longos, um dia sofre um acidente
grave". Obs: isto não foi dito por um brasileiro.
Alguém escreveu:
O que acontece nos
brevets é que muitos ciclistas não sabem e nem percebem o risco que estão
correndo.
Algumas vezes penso que
muitos ciclistas não sabem o que estão comprando. Algum pode pensar que estará
seguro enquanto pedala um brevet, mas a segurança é algo efêmero e o que pode
te salvar é a sorte, Deus, tua experiência, teu cuidado e talvez o resgate mais
rápido.
Algumas vezes penso que
alguns organizadores não sabem o que estão vendendo quando oferecem o evento
mais alegre, mais divertido. Talvez fosse melhor oferecer o mais seguro, ou o
com menor perigoso o que provavelmente não seja o que mais interessante.
Em
2005 o ciclista Alexandre Luz morreu ao ser atropelado durante o Brevet
Randonneur Mundial 400 km de Campinas, SP.
Neste
último sábado dia 15 de março de 2014 o ciclista Egon Koerner faleceu ao ser
atropelado por um motorista bêbado e sem habilitação durante a realização
de um Brevet Randonneur 400 km no Paraná.
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2014/03/procurador-regional-do-trabalho-de-sc-morre-atropelado-no-parana-4447730.html
Seria
bom organizar apenas a lista de brevetados, lista de ciclistas que são Super
Randonneur, Randonneur 5000, Randonneur 10000, ciclistas que completaram brevets
de 1200km ou mais. Agora teremos que manter uma lista de vítimas e acidentados?
Não
penso que deveremos banalizar ou esquecer os acidentes;
Como
ciclista e organizador, com ainda um pouco de consciência, neste momento é difícil
de pensar na possibilidade das próximas noites na estrada.
Imaginar
a dor dos familiares e a tristeza dos organizadores, que como nós perdemos um
amigo, mas e o futuro? Vamos pedalar para esquecer!
As lembranças dos momentos em que estivemos com o Egon estão na memória. O que nos resta é trabalhar para que a sua morte não tenha sido em vão.
Já não sei se penso exatamente o mesmo como pensava em 2005, mas segue abaixo o texto que escrevi na época:
Brevet Randonneur X Morte
Brevet Randonneur X Morte
1-
Como todos devem saber: durante o Brevet Randonneur 400 km, realizado no final
do mês de maio de 2005 em SP o Presidente em exercício do Clube Audax Brasil foi atropelado por um caminhão falecendo no
local.
Fiquei muito triste com o que aconteceu, alem
de ser mais uma vida que se foi, temos mais o que analisar e refletir.
O Alexandre estava
praticando o esporte que gosto, estava pedalando a modalidade ciclística que
mais pratico e era um representante da modalidade ciclística que também represento!
Se o vice
presidente do Clube Audax Brasil, que era o
representante nosso a nível internacional, de uma modalidade ciclística, morre atropelado
durante um evento, o que dizer do cidadão comum, trabalhador, que não usa
sequer refletor na bike, que não tem farol, que não
sabe as regras de transito? Quando vamos conseguir fazer uma prova de 1200
km aqui? nunca? quem vai
querer vir de outro país pedalar aqui nestas condições? Que
segurança poderemos dar?
O que aconteceu lá
poderia ter acontecido aqui em Santa Cruz, em Caxias, em Porto Alegre! Poderia
ter acontecido comigo no brevet 400, poderia ter
acontecido com alguém no brevet de SCS, poderia a
pode acontecer com qualquer um!
Que mundo besta, animal
que vivemos! Não podemos esquecer que vivemos no terceiro mundo e que por mais
que possamos sonhar temos pouco como
mudar isto!
2- Quem não lembra do Morte do Airton Sena? O que existe de semelhança? Naquela
época a imprensa noticiou de quase todas as maneira
possíveis à morte do piloto. Ninguém que eu fiquei sabendo escreveu que: se o
melhor piloto de Formula 1, competindo em uma pista exclusiva, utilizando toda
a tecnologia possível, sofreu um acidente e morreu. Qual a
possibilidade de isto acontecer com o cidadão comum, utilizando um veiculo
qualquer, em pistas cheias de defeito e mal sinalizadas, sem utilizar
equipamentos de segurança, em estradas cheias de pedestres, ciclistas, animais etc? Se o melhor
piloto do mundo morre em um acidente em alta velocidade, o que dizer do
motorista comum que ultrapassa os limites aceitáveis de velocidade? A morte tem
que ser utilizada como uma forma de conscientização, uma lição e não apenas
para aumentar o Ibope dos meios de comunicação!
Com a morte do Alexandre
devemos fazer o mesmo! Se o presidente do Clube Audax
Brasil, utilizando equipamentos de segurança, transitando no acostamento de uma
das melhores rodovias do país, pedalando no acostamento, morreu! O que dizer do
ciclista imprudente que pedala sem equipamentos, que pedala em cima da pista de
rodovias de mão dupla ou na contra mão?
3- Tem ciclista que
reclamou das exigências da organização das provas no RS, que deveríamos ser
mais liberais com os ciclistas, que os amigos com quem pedala são responsáveis.
Tem ciclista que reclamou de ter que levar a bike
para a vistoria, que reclamou de ter que levar pilhas reservas nas provas, de
ter que utilizar o farol nas provas com largada no inicio do dia, que reclamou
da penalidade por estar transitando no centro da pista etc.
A morte do Alexandre é a
resposta para todos estes ciclistas! A resposta é uma interrogação: Você
quer ser o próximo?
Reclamem da falta da
segurança nas provas, mas não reclamem das exigências? Pedalem sabendo que Audax e Brevet Randonneur é um passeio muito bom, um
desafio, mas que deve ser realizado com responsabilidade, que exige mais do que
preparo físico, exige cultura, exige conhecimentos.
Pedalem sempre sabendo que o risco
existe e em algumas situações somente o teu Anjo da Guarda poderá te ajudar!
4- Acho que a
morte do Alexandre não pode ter sido em vão e temos a obrigação de lutar ainda mais para
fazer o Randonneuring crescer, para tentar mudar ao
menos um pouquinho deste mundo, nem que seja o mundo ciclístico!
O Alexandre morreu
fazendo o que gostava, pedalando longa distancia em um BRM.
Este fato tem que ser motivo de inspiração, de reflexão, mas não de
desistência. Temos que seguir o exemplo dos alpinistas que chegam ao come da
montanha em homenagem ao colega que morreu na tentativa.
Quem sabe em um futuro
não realizamos um prova Audax 1200 km com o nome
Alexandre Luz.
Outros ainda poderão
morrer, mas é melhor morrer lutando do que viver derrotado!
Quantos ciclistas,
quantas provas realizadas e quantos km percorridos na soma total de todas as
participações? Quantos que venceram doenças, vícios, sedentarismo, stress para,
e com, as participações nas provas de longa distancia?
Quantas provas ainda iremos realizar? quantos ciclistas ainda irão participar? Quanto bem o Randonneur já fez? Quantos que saíram do sofá para pedalar?
Quantos sobreviventes do Randonneur?
Não podemos pensar apenas no que
morreu e esquecer os que ficaram! Por isto digo: O Randonneur
não pode parar!!!
As pessoas vão, mas os BRM ficam!
Luiz Maganini Faccin
Junho 2005
2 comentários:
Na semana passada comentei com um colega ciclista que ainda bem que aconteciam poucos acidentes graves nos Audax. Infelizmente tivemos esta péssima noticia de uma morte. Este tipo de acidente acontece todo dia, e algum dia fatalmente iria chegar a atingir nós. Deixou todos nós tristes, mas a vida tem que seguir.
As nossas estradas estão péssimas tem condutores andando nos acostamentos, e para eles o ciclista ali na beira da estrada é um estranho a qui não é teu lugar¨veículos de passeio com famílias dentro no domingo da AUDAX ele arrisca a vida dos familiares para tirar uma fina ou jogar o carro por cima do ciclista, aqui no sul infelizmente é assim em todo o AUDAX acontece.
A nossa legislação de trânsito é FRACA e não vai mudar, PEDESTRES e CICLISTAS no BRASIL é isso ai poucas ciclovias etc.
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