A 11 anos atrás foi realizado o primeiro Brevet Randonneur Mundial (BRM) no Brasil.
Dia 02 de fevereiro de 2003
Brevet 200km de Queluz organizado pelo então Clube Audax Brasil.
Para ler mais:
http://asbicicletas.wordpress.com/2013/01/30/queluz-10-anos-de-audaxes-no-brasil/
Parabéns pela iniciativa dos pioneiros do BRM no Brasil
Texto
devidamente copiado abaixo:
A coisa era assim. no final dos anos 90 todo mundo que
pedalava e tinha acesso à internet estava ligado numa lista de discussão no
yahoo, a bikeonelist.
nessa época ainda a internet era
discada e não tinha a praga do gmail que agrupa os e-mails em “conversas”.
assim, todo mundo recebia cada e-mail separado. e demorava a receber cada
e-mail, ocupando a linha telefônica. se alguém enchesse um e-mail de fotos,
demorava a baixar todos os e-mails.
assim, gente sem noção logo adquiria
a percepção do quê era importante escrever, por quê era importante escrever. e
era comum simplesmente se imprimir os e-mails, ler em casa, rascunhar resposta
em lápis, digitar tudo no dia seguinte. não tinha aquela de mandar e-mail só
escrito “ok”, “wow” “vtnc”. logo, as discussões eram boas, de alto nível, eram muito, mas muito legais.
em 1999, ano em que o kayo oliveira
se tornou o primeiro brasileiro a fazer o paris-brest-paris, o thierry roldan
publicou seu TC sobre cicloturismo, ao se formar em educação física pela
unicamp. nesse TC, thierry falava dos audaxes.
discutíamos na bikeonelist esse
assunto, discutíamos quando pedalávamos. era um assunto normal entre a gente: “cara,
tem umas provas, onde não tem competição, você tem que só fazer o percurso
dentro dum tempo, de média 15 kms por hora” , “que legal, então vamos fazer”
‘mas peraí, a brincadeira começa com 200 kms” “como assim?” é”, 200kms, depois
300kms, depois 400kms, depois 600kms” “nossa, que doido!” - pergunte ao
rogéio polo, até hoje organizando audaxes em são paulo, como eram essas
conversas.
aí a questão. tivemos que desenvolver
a forma de organizar os audaxes. e também de completá-los!
esse foi um trabalho conjunto de
muita gente. o cristiano cordeiro e o manuel terra fundaram o Clube Audax
Brasil, cujo estatuto eu assinei como advogado, lá pelo final de 2002, e em
2003 tivemos a série completa, na qual o manuel terra brevetou e se tornou em
2003, o primeiro brasileiro a completar um paris-brest-paris tendo feito os
brevets no brasil.
mas o fato é que não sabíamos nada de
longa distância. nada! hoje, quanto conhecimento acerca disso não há? e o
detalhe, conhecimento desenvolvido pelos randoneiros. pois nãodá pra usar muito
conhecimento dos profissionais. eles fazem provas de até 200 kms em média. o
conhecimento deles é voltado no desempenho máximo dentro desses limites. o
nosso, além desses limites.
eu sempre converso com um antigo
profissional, vizinho de bairro. ele colecionou títulos no brasil e afora. no
começo ele coçava a cabeça quando via minhas bicicletas. mas depois de achar
esquisito uma bicicleta que eu preparei para 400kms, passou a trocar figurinhas
comigo. como ele diz, ele não sabe o que é pedalar 400kms num dia, e
ainda mais sem pelotão, com a cara no vento.
com a cultura randonneur, não
competitiva e exploradora dos limites do corpo, o único parentesco com a
cultura ciclística competitiva possível é com os pedalantes da Race
Across America e eventos parecidos. por exemplo, o bike-fit de uma bicicleta de
competição pode garantir um desempenho ótimo. mas matará suas costas se você
tiver que ficar 25 horas pedalando essa bicicleta.
o ciclismo de longa distância pede
geometrias diversas, fits diversos, pneus diversos, rodas diversas, selins
diversos! e pede faróis….
o primeiro audax do brasil foi em
queluz. cujo trajeto será refeito nesse sábado agora, dia 02 de fevereiro de
2013. gente, é um evento histórico esse audax!
é uma pedreira? é! mais de 3.000 mts
de altimetria acumulada! logo, as médias serão baixas. então, co mmédias
baixas, temos que ser espertos e evitar problemas na bicicleta. use os melhores
– entenda-se mais resistentes a furos – pneus que puder. use fita anti-furo, se
está acostumado a usá-las.
além de todo o equipamento
obrigatório constante dos regulamentos – que você deve ler – leve de forma
organizada e prática de pegar e usar: pelo menos duas câmeras de ar, espátulas,
e um jogo de ferramentas simples. se você não sabe trocar uma câmara sozinho,
aprenda rápido!
vá com uma bicicleta em ordem, cuja
corrente não abra, não quebre.
não deixe de se alimentar bem antes
da prova: um café da manhã reforçado: café, café, café, pão, pão, pão, banana,
banana, banana. alguns preferem um bom prato de macarrão antes dum pedal
longo.
café da manhã de audax não é aquele
café da manhã de quem tá de regime: granola, mamão, sucrilhos, suquinho de
laranja, iogurte… tudo o que solta os intestinos vai fazer você procurar uma
privada nos arredores da estrada…
não esqueça de encher suas
caramanholas. duas, no mínimo! em todo PC, coma algo. bananas,
preferencialmente. suaremos muito naqueles morros, logo perderemos muito sal. é
também a hora de tomar gatorade, aquele troço que se tomarmos no dia-a-dia nos
dá pedras nos rins, mas num pedal longo e cansativo nos repõe eletrólitos
necessários.
sexta-feira à noite não se entupa de
proteínas. entupa-se de carboidratos. durma cedo. não consegue dormir cedo? há
um truque: remédios para alergia dão um sono desgraçado, e não dão efeitos
colaterais no dia seguinte. eu tomo um comprimidinho de polaramine, durmo cedo,
no outro dia estou ótimo: não terei os efeitos da minha rinite atrapalhando o
pedal, e estarei descansado…
sua bicicleta tem que ter marchas
adequadas às subidas. a não ser que você seja um escalador nato de nível do
pelotão profissional, evite subir pedalando em pé pelo menos na primeira metade
dos 200 kms. pedalar em pé é muito eficiente, mas gera um aumento dos
batimentos cardíacos em cerca de 20%, a longo prazo, extenua. então, guarde
essa técnica para o final, onde até lombada você quererá escalar pedalando em
pé…
pela precisão, o dia estará
relativamente quente e com eventuais pancadas de chuva. se sua bicicleta tiver
pára-lamas, ótimo. se não tiver, paciência com os respingos. use óculos, pois
podem os respingos vir nos olhos.
use um capacete arejado.
se você é friorento, não se preocupe
em carregar grandes jaquetas e etc. lembre, pode estar fresquinho de manhã, mas
logo esquentará, e muito. toda roupa a mais fará você suar em demasia.
e há um equipamento especial para
completar um audax difícil: bom-humor. seja bem humorado. isso facilitará em
muito transpor os obstáculos.
no mais, estude o trajeto, estude as
planilhas que a organização já enviou a você, deixe sua bike nos trinques...
e sobretudo, faça tudo o que Herr
Richard P. Dunner mandar. se ele mandar você rolar na lama, role, pois algum
motivo tem, e será para melhorar o seu pedal. se ele mandar você, que odeia
multinacionais e odeia refrigerantes tomar uma coca-cola, é por quê você está
precisando daquela bomba de açúcar e sódio.
bom, nos vemos lá. sofreremos os
morros. e completando ou não, participaremos dum evento histórico!
Já
segue a dica para baixar o trabalho de conclusão de curso de Thierry Roldan
Boas
pedaladas
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