domingo, 2 de fevereiro de 2014

Onze anos de Brevet Randonneur Mundial no Brasil

Um pouco de história do ciclismo de longa distancia não competitivo no Brasil

A 11 anos atrás foi realizado o primeiro Brevet Randonneur Mundial (BRM) no Brasil.

Dia 02 de fevereiro de 2003
Brevet 200km de Queluz organizado pelo então Clube Audax Brasil. 


Para ler mais:
http://asbicicletas.wordpress.com/2013/01/30/queluz-10-anos-de-audaxes-no-brasil/

Parabéns pela iniciativa dos pioneiros do BRM no Brasil

Texto devidamente copiado abaixo:
A coisa era assim. no final dos anos 90 todo mundo que pedalava e tinha acesso à internet estava ligado numa lista de discussão no yahoo, a bikeonelist.
nessa época ainda a internet era discada e não tinha a praga do gmail que agrupa os e-mails em “conversas”. assim, todo mundo recebia cada e-mail separado. e demorava a receber cada e-mail, ocupando a linha telefônica. se alguém enchesse um e-mail de fotos, demorava a baixar todos os e-mails.
assim, gente sem noção logo adquiria a percepção do quê era importante escrever, por quê era importante escrever. e era comum simplesmente se imprimir os e-mails, ler em casa, rascunhar resposta em lápis, digitar tudo no dia seguinte. não tinha aquela de mandar e-mail só escrito “ok”, “wow” “vtnc”. logo, as discussões eram boas, de alto nível, eram muito, mas muito legais. 
em 1999, ano em que o kayo oliveira se tornou o primeiro brasileiro a fazer o paris-brest-paris, o thierry roldan publicou seu TC sobre cicloturismo, ao se formar em educação física pela unicamp. nesse TC, thierry falava dos audaxes.
discutíamos na bikeonelist esse assunto, discutíamos quando pedalávamos. era um assunto normal entre a gente: “cara, tem umas provas, onde não tem competição, você tem que só fazer o percurso dentro dum tempo, de média 15 kms por hora” , “que legal, então vamos fazer” ‘mas peraí, a brincadeira começa com 200 kms” “como assim?” é”, 200kms, depois 300kms, depois 400kms, depois 600kms” “nossa, que doido!”  - pergunte ao rogéio polo, até hoje organizando audaxes em são paulo, como eram essas conversas.
aí a questão. tivemos que desenvolver a forma de organizar os audaxes. e também de completá-los!
esse foi um trabalho conjunto de muita gente. o cristiano cordeiro e o manuel terra fundaram o Clube Audax Brasil, cujo estatuto eu assinei como advogado, lá pelo final de 2002, e em 2003 tivemos a série completa, na qual o manuel terra brevetou e se tornou em 2003, o primeiro brasileiro a completar um paris-brest-paris tendo feito os brevets no brasil.
mas o fato é que não sabíamos nada de longa distância. nada! hoje, quanto conhecimento acerca disso não há? e o detalhe, conhecimento desenvolvido pelos randoneiros. pois nãodá pra usar muito conhecimento dos profissionais. eles fazem provas de até 200 kms em média. o conhecimento deles é voltado no desempenho máximo dentro desses limites. o nosso, além desses limites.
eu sempre converso com um antigo profissional, vizinho de bairro. ele colecionou títulos no brasil e afora. no começo ele coçava a cabeça quando via minhas bicicletas. mas depois de achar esquisito uma bicicleta que eu preparei para 400kms, passou a trocar figurinhas comigo.  como ele diz, ele não sabe o que é pedalar 400kms num dia, e ainda mais sem pelotão, com a cara no vento.
com a cultura randonneur, não competitiva e exploradora dos limites do corpo, o único parentesco com a cultura ciclística  competitiva possível é com os pedalantes da Race Across America e eventos parecidos. por exemplo, o bike-fit de uma bicicleta de competição pode garantir um desempenho ótimo. mas matará suas costas se você tiver que ficar 25 horas pedalando essa bicicleta.
o ciclismo de longa distância pede geometrias diversas, fits diversos, pneus diversos, rodas diversas, selins diversos! e pede faróis….
o primeiro audax do brasil foi em queluz. cujo trajeto será refeito nesse sábado agora, dia 02 de fevereiro de 2013. gente, é um evento histórico esse audax!
é uma pedreira? é! mais de 3.000 mts de altimetria acumulada! logo, as médias serão baixas. então, co mmédias baixas, temos que ser espertos e evitar problemas na bicicleta. use os melhores – entenda-se mais resistentes a furos – pneus que puder. use fita anti-furo, se está acostumado a usá-las.
além de todo o equipamento obrigatório constante dos regulamentos – que você deve ler – leve de forma organizada e prática de pegar e usar: pelo menos duas câmeras de ar, espátulas, e um jogo de ferramentas simples. se você não sabe trocar uma câmara sozinho, aprenda rápido!
vá com uma bicicleta em ordem, cuja corrente não abra, não quebre.
não deixe de se alimentar bem antes da prova: um café da manhã reforçado: café, café, café, pão, pão, pão, banana, banana, banana. alguns preferem um bom prato de  macarrão antes dum pedal longo.
café da manhã de audax não é aquele café da manhã de quem tá de regime: granola, mamão, sucrilhos, suquinho de laranja, iogurte… tudo o que solta os intestinos vai fazer você procurar uma privada nos arredores da estrada…
não esqueça de encher suas caramanholas. duas, no mínimo! em todo PC, coma algo. bananas, preferencialmente. suaremos muito naqueles morros, logo perderemos muito sal. é também a hora de tomar gatorade, aquele troço que se tomarmos no dia-a-dia nos dá pedras nos rins, mas num pedal longo e cansativo nos repõe eletrólitos necessários.
sexta-feira à noite não se entupa de proteínas. entupa-se de carboidratos. durma cedo. não consegue dormir cedo? há um truque: remédios para alergia dão um sono desgraçado, e não dão efeitos colaterais no dia seguinte. eu tomo um comprimidinho de polaramine, durmo cedo, no outro dia estou ótimo: não terei os efeitos da minha rinite atrapalhando o pedal, e estarei descansado…
sua bicicleta tem que ter marchas adequadas às subidas. a não ser que você seja um escalador nato de nível do pelotão profissional, evite subir pedalando em pé pelo menos na primeira metade dos 200 kms. pedalar em pé é muito eficiente, mas gera um aumento dos batimentos cardíacos em cerca de 20%, a longo prazo, extenua. então, guarde essa técnica para o final, onde até lombada você quererá escalar pedalando em pé…
pela precisão, o dia estará relativamente quente e com eventuais pancadas de chuva. se sua bicicleta tiver pára-lamas, ótimo. se não tiver, paciência com os respingos. use óculos, pois podem os respingos vir nos olhos.
use um capacete arejado.
se você é friorento, não se preocupe em carregar grandes jaquetas e etc. lembre, pode estar fresquinho de manhã, mas logo esquentará, e muito. toda roupa a mais fará você suar em demasia.
e há um equipamento especial para completar um audax difícil: bom-humor. seja bem humorado. isso facilitará em muito transpor os obstáculos.
no mais, estude o trajeto, estude as planilhas que a organização já enviou a você, deixe sua bike nos trinques...
e sobretudo, faça tudo o que Herr Richard P. Dunner mandar. se ele mandar você rolar na lama, role, pois algum motivo tem, e será para melhorar o seu pedal. se ele mandar você, que odeia multinacionais e odeia refrigerantes tomar uma coca-cola, é por quê você está precisando daquela bomba de açúcar e sódio.
bom, nos vemos lá. sofreremos os morros. e completando ou não, participaremos dum evento histórico!

Já segue a dica para baixar o trabalho de conclusão de curso de Thierry Roldan

Boas pedaladas

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