História ciclística
Quando tinha aproximadamente 5 anos de idade o meu pai me disse= pode
pedalar até a esquina, até lá onde termina a calçada. Não é para passar dali! No
final da calçada estava uma valeta, uma rua que acabava no mato do quartel, e um
terreno com terra preta e o o pavilhão da igreja ao fundo. Eu não teria noção
disto, mas o meu pai pareceu ter dito= daqui para a frente inicia o restante do
mundo. O que existiria dali para frente, não demorei para levar a minha
bicicletinha Odomo aro 14 até a esquina do sapataria do seu Assmann. Algumas
centenas de metros depois, mas a curiosidade para descobrir o
desconhecido, leia-se prazer pela aventura, estava lançada.
No ano de 1981, já quase com 11 anos de idade eu pedalava uma aro 20. Depois
de uma manhã desenhando um mapa de geografia, nos mínimos detalhes, sai
pedalando atrasado para a educação física. Logo após a educação física conversei
com os colegas= daqui até em casa levo 1 minuto, ahhh duvido, eu sai, cruzei o
viaduto sobre a rua Paul Harris e segui tranquilamente, do outro lado seguia
outro rapaz com uma Monareta verde. Era uma quarta feira e acordei no sábado de
manhã no hospital. O que eu estou fazendo aqui mãe? Tu não lembra? Caiu de
bicicleta, bateu a cabeça em uma arvore e caiu de costas no chão, quebrou a cabeça, quase
perdeu a língua e quase morreu! Os teus colegas estiveram aqui, tu conversou
com eles. Uma vaga lembrança dos colegas sentados no chão do quarto. Foram 53
dias sem aula, repeti de ano por conta da matemática e mais, tive uma mudança
grande de comportamento. O aluno quieto e nota 10 em quase tudo, virou o mais
conversador e o maior agitador da sala de aula. Muito tempo depois, descobri que
a minha mudança com certeza foi devido a ter batido a parte frontal do crânio. Minha
vida foi forjada a frio pela bicicleta.
Com bicicleta Monareta e Barra Circular foram alguns pedais até Rio
Pardo, Porto Ferreira e Venâncio. Algum tempo depois o meu pai comprou uma Caloi
10 velha, que estava dependurada em um banheiro. Passei a pedalar mais longe
com o único ciclista da cidade, o Paulo Lopes, mas que todos chamavam de Paulo
Louco. Louco ele não era, nem louco e
nem um grande ciclista, mas uma grande pessoa que amava a bicicleta e não tinha
maldade alguma no coração. Com ele foram vários pedais, e, ai sim passei a ser
um louco, mas por fazer a incrível distancia a Santa Cruz do Sul até Rio Pardo
pedalando, uns 30 km. Na época éramos chamados assim. Os tempos dos pedais, não eram muito bons,
mas acho que o Paulo gastava muita energia gritando, sempre aumentava o
percurso e gritava que estava indo para mais longe do que na verdade iriamos.
Conhecido por sua plantação de sagu e brincadeiras, Paulo foi uma referência
inicial que, no mínimo, tinha um bom ritmo de pedal e me deixava para trás nas
subidas. Depois conheci o Miguel e Inácio Lawish que contavam que tinham ido
até Santa Maria pedalando. Mais companheiros para os pedais.
Já estávamos no tempo do bicicross e eu era um afortunado de ter uma Caloi
10 e mais uma bike e mais uma Caloi Cruiser Tk sem câmbios. Com esta bike
iniciei os primeiros pedais para o interior. Subir o morro da pedreira (hoje Morro
da Cruz) o bairro Monte Verde não existia, mas tinha uma trilha que terminava
na pista de motocross. Diversão era subir o morro e descer a trilha, melhor se
fosse no barro. Miguel e Inácio nos apresentaram ao Jorge que foi quem nos
convidou para pedalar até Boa Vista e descer para Rio Pardinho. Mais distancias
e mais percurso a descer. A Caloi cruiser passou a ter 3, depois 4 marchas com
peças adaptadas das Ceci e Peri. Depois conseguimos aros de alumínio azuis.
Pensa em um bike top, parava o transito para ver aquelas bikes com guidão de
moto e aros anodizados. Já pedalávamos mountian bike antes de existir este
termo por aqui. Ida até Boa Vista e retorno por Rio Pardinho, com direito a
banho de rio, era a diversão de todo o domingo a tarde. Chegava em casa à
tardinha parecendo um pastel à milanesa de tanta poeira, a estrada não tinha
asfalto.
No final do ano de 1984 a minha mãe incentivada por uma tia resolveu
abrir uma loja de vestuário, mas era ela quem atendia na pequena loja de peças
de bicicletas que ficava em uma garagem ao lado da borracharia. Eu iria iniciar
aos estudos a noite e ela me perguntou= tu cuida a loja? para eu vou abrir uma
loja de roupas. Sim, porque não? Trabalho infantil? Antes dos 15 anos eu era o responsável
pelo atendimento do balcão da D Faccin ( Faccin Peças). A busca por
conhecimento vinha através de revistas e catálogos de bicicletas e peças. Somente
depois de algum tempo surgiram as oportunidades de curso de mecânica em
fabricas de bicicletas. A ida a São Paulo para o curso na fábrica da Monark (1995) foi
uma aprendizado e uma aventura.
Surgiram as primeiras bikes mtb, fabricas de quadro de alumínio e aos
poucos surgiram mais alguns ciclistas. Com os primeiros faróis de bicicleta,
realizamos um primeiro pedal noturno, descer a linha Travessa entre seis
ciclistas, com apenas dois faróis, bem fraquinhos. Depois realizamos o
tradicional pedal a Boa Vista e Rio Pardinho a noite. Em 1086 realizei o
primeiro pedal Faccin Bicicletas de Mountain Bike, aproximadamente 40 ciclistas
com suas incríveis bikes aro 26 de aço com ou sem marchas. Depois o primeiro
pedal fora da cidade, com muito medo e duvidas, consultar cópias apagadas de
carta topográfica, fomos de carro até próximo a cidade de Muçum para descer o
percurso da Ferrovia do Trigo.
No ano de 2001 apareceu um maluco falando em Eco Chalenger em corrida de
aventura. Que será que é isto? Logo depois descobri a primeira corrida de
aventura do RS que seria realizada de Gramado a Nova Petropolis. Tem que ser em
equipe, tem que remar nas corredeiras, rapel já era tranquilo. Bora fazer
equipe, curso de canoagem, treinar, correr. Primeira prova a 40 graus com boa
classificação, a segunda equipe gaúcha a completar evento. Até 2004 foi a diversão, mas neste
ano surgiu a maior prova ciclística do mundo em Porto Alegre. Um tal de Audax
200 km e lá se foi o 200, 300. A prova de 400km foi realizada em Campinas, SP.
A esquina da Av.Euclides Kliemann já estava bem longe de Campinas. O ano
de 2005 chegou com decisão de abandonar as corridas de aventura, para ficar
participando apenas das provas de Audax, também organizar o primeiro Breve 200km
aqui em Santa Cruz do Sul. Surgiu o interesse por aprender mais, a internet
estava mais presente na fonte de informações. Surgiu a descoberta sobre uma
prova de 1200km na França, Paris Brest Paris 1200k Randonneur, a maior e mais
famosa prova de modalidade. O que eu preciso para poder ir? Dinheiro, a juntar,
saber falar francês, a aprender, estar classificado, e ter experiência. O Próximo
Paris Brest Paris seria só em 2007. Economizar, estudar e ter experiências para
em 2007 completar o Paris Brest Paris 2007 e ser o terceiro brasileiro a
completar este desafio. Em 2008
participando de um breve de 400 km realizado em Curitiba, descobri que poderia
conquistar o titulo de Randonneur 5000, conquista que nenhum brasileiro havia
nem sequer tentado. Novamente a pergunta: o que precisava? Organizar a primeira
fleche e o primeiro breve de 1000 km no Brasil, além destes, pedalar a lista de eventos necessários.
O ano de 2009 foi épico, organizei 7 eventos, entre eles os primeiros
brevets AUDAX da União Audax Franceses aqui no Brasil, e pedalei 19 brevets.
Quase 5 mil km só em eventos pedalados atingindo a meta para conquistar o
titulo de Randonneur 5000. Precisava as homologações do Audax Club Paris para conseguir
este titulo, mas a situação estava ½ parada. Recebi o convite para assumir a
função de representante do Clube para o Brasil. Titulo conquistado e agora muito
trabalho a fazer, até o ano de 2011, quando poderia ir participar novamente do
Paris Brest Paris, o que não fiz, e deixei o cargo de representante. A minha
função estava realizada.
Depois do ano de 2014 com mudança na
empresa o foco deixou de ser os Audax, até mesmo os de caminhada que havia me
dedicado, inclusive realizando os breves de 100 km Audax Marcha. O ciclismo
retornou para mais próximo do ponto original de curtir a descida e o passeio. Novas
possibilidades além da esquina surgiram. O gosto pela aventura, e conhecer novos
locais, esta me levando para outros países e possibilitando conhecer novas
culturas.
Novas possibilidades: surgiram pedais no Peru, Uruguai, Italia e outros. O gosto pela aventura continuara movendo os sonhos para conhecer novos locais com o uso deste veiculo abençoado que é a bicicleta. Alem do nos conduzir, nos trás amizades e conhecimento.
Novas possibilidades: surgiram pedais no Peru, Uruguai, Italia e outros. O gosto pela aventura continuara movendo os sonhos para conhecer novos locais com o uso deste veiculo abençoado que é a bicicleta. Alem do nos conduzir, nos trás amizades e conhecimento.
Luiz Maganini Faccin= dezembro de 2019.
Históri
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