Paris Brest Paris 2007.
Relato
Luiz Maganini Faccin
Largada às 21h e 30 minutos do dia 20 de agosto. Larguei no primeiro grupo. As largadas de cada grupo aconteciam a cada 20 minutos. O Erich e o David largaram no mesmo grupo e os demais brasileiros nos posteriores. Não conseguimos largar todos juntos porque dividimos o grupo, uns foram jantar e outros ficaram cuidando as bikes. A fila para a janta estava muito grande e demoramos para voltar.
A emoção da largada. Estávamos na rua em
frente ao ginásio para o tão esperado momento, caia uma chuva fina, fogos de
artifício, discurso em francês com orientações aos participantes, contagem
regressiva, buzina. Lentamente os ciclistas mais a frente vão se movendo até
que chegou a minha vez de girar os pedais e passar em baixo do pórtico para
poder falar a min mesmo: aconteça o que acontecer, agora já pedalei um PBP, já
é uma coisa grande e boa estar aqui, espero poder pensar o mesmo na
chegada. Um misto de alegria e de
esperança, eu estava lá, depois de tanto tempo, eu estava lá. Pude ver o
Lacerda, a Nadia e a Elvira entre as centenas de pessoas que estavam na calçada
e gritei alguma coisa para eles. Não estava preocupado,nem com medo, mas
preparado para enfrentar 4 dias difíceis e uma primeira noite longa. Larguei
gripado e a cada PC ou sempre que possível eu mastigava uma pastilha de
vitamina C 120 mg, ao todo foram 24 unidades.
Primeira noite com
chuva, mas sem muito frio, como tinha dormido pouco nas noites anteriores,
fiquei com sono das 5h ate as 16h deste dia. Choveu muito ao meio dia. Pedalei
mais com o Jorge, português que pedalou o quinto PBP e a Silvie que é francesa
e também estava com a camisa do Brasil.
O Jorge com o seu sotaque inconfundível sempre estava orientando, conversando e
localizando eu e a Silvie. As orientações eram interessantes e serviam para
dizer a melhor posição no pelotão conforme o lado do vento, a quantidade e o
tamanho dos ciclistas a frente, estratégias para economizar energia. Não
andávamos rápido demais, mas em um ritmo bom, um ritmo para ir longe.
Alcançamos o David que estava mais a frente, andamos alguns minutos juntos, mas
logo nos perdemos de vista na escuridão e nas centenas de luzes da imensa fila
de ciclistas. Depois o Erich nos alcançou e andamos juntos durante algum tempo
e não sei onde nos desencontramos.
Gostei muito de passar
Paramos para almoçar no PC e quando fui
descer uma escada molhada caí, bati o cotovelo esquerdo, braço direito e as
costas. Sorte que eu estava com gel, luvas e carteira no bolso da camisa e
protegeu um pouco. Saí na rua, no estacionamento de bike, na chuva, com dor e
pensei em ir para a enfermaria do PC, mas iria perder tempo, melhor nem olhar,
até o final do “Audax” devia estar curado. No estacionamento, veio um casal
francês falar comigo. Eles perguntaram de onde eu era, etc. e pediram o meu
autografo. Estavam com um cartão postal com assinaturas de tudo que é tipo,
inclusive em japonês, escrevi meu nome, o país e dei um adesivo do Brasil para
eles. Saí mais animado depois desta conversa, mas perdi o contato com o Jorge e
a Silvie.
No começo pedalávamos sempre no vácuo dos
outros ciclistas e se forma uma fila interminável. Mesmo depois você sempre
encontra outros para andar junto, se for o caso reduz o ritmo e fica em outro
grupo. Nos PCs tem comida boa e barata, mas um pouco de fila. O pior são os
japoneses que não entendiam nada a atrasavam um pouco, no retorno e dependendo
do horário quase não existiam filas, ou
uns 2 ou 3, e as filas eram para banho. Só tomei banho um em Loudeac na
volta.
Sai do
PC de Tinteniac, km 365, andei uns 8km e o núcleo do k7 começou a falhar, até
que não pegou mais. Bati e ele funcionou. Andei mais de
Só iria desistir depois de comer e de
dormir, e mesmo com o atraso eu tinha tempo, foi o que fiz. Dormi 3h e 30
minutos no carro. O Erich que tinha dormido me acordou, dizendo para não
desistir e para irmos, mas eu tinha que acertar a bike! Disse: vai indo que eu
vou decidir o que fazer. Comprei uma roda traseira por 58 euros, instalada na
bike, peguei as coisas rapidamente, tomei café e sai para continuar na prova.
Na realidade queria desistir mesmo, mas era muito legal passar por cada vila medieval
linda e ver cada igreja, ver as pessoas torcendo na beira da estrada, lembrei
do casal do autografo, de um senhor tocando gaita para os ciclistas na beira da
estrada, das crianças abanando, das famílias com a mesa com queijo e vinho
fazendo festa na frente de casa para ver os ciclistas. Não queria perder isto,
e isto foi o que me motivou a sair em direção a BREST= só isto!
Cheguei no carro de
apoio e o Lacerda estava dormindo com o carro chaveado e os vidros fechados.
Queria deixar a roda substituída da bike, mas não consegui acorda-lo, acabei
deixando a roda do lado do carro. Depois fiquei sabendo que a roda foi
roubada!!
Estava chuviscando e escuro e eu sai, andei
3km e furei o pneu traseiro, troquei a câmara de ar, não tinha nada no pneu.
Andei mais
Depois de Loudeac andei um tempo
sozinho e ainda estava escuro. A lanterna de cabeça não funcionou mais. Um dos
faróis caiu, o mecânico deve ter retirado e preso mal, juntei o farol para usar
as pilhas para o outro, mas por incrível que pareça, ele funcionou.
Pedalai com um grupo de espanhóis que andava
bem, tinham ate treinador, equipe de 6 e tudo, eu andava só no vácuo, o trajeto
tinha muita subida a andávamos a
Chegamos no próximo PC (Carhaix) faltando 45 minutos para o fechamento e não
demorei muito, os espanhóis ficaram lá furando a fila, conversando e comendo. O
dia melhorou ( segundo dia) mas o
vento muito forte e muita subida, vento de frente ou lateral. A previsão do
tempo falava em vento de até
Lia nos relatos do PBP que o pessoal caia e
ficava dormindo na beira da estrada antes de chegar ao final do Paris Brest
Paris, mas vi ciclista caído antes de Brest, que e a metade do caminho. Estava
chegando a mais uma vila medieval, Sizun que tem uma igreja linda, uma subida,
bares e lojinhas. Estava quente e os bares estavam cheios de ciclistas
famintos, cansados, fedidos, alegres... Furei o pneu traseiro, mas desta vez
foi um arame.
Parei no café, compre 2 sanduíches de baguete, água e café, sentei na escada em
frente e fiquei comendo e observando tudo. Fui na lojinha do lado e comprei
alguns postais da cidade, já que estava sem maquina fotográfica. Estava saindo
quando lembrei que tinha que trocar a câmara de ar. Para chegar a Brest ainda
era longe, sempre e longe depois de ter pedalado tanto, mais longe com vento
contra.
Estava chegando no Finistere e tinha muita
subida. Alcancei um casal em uma tanden e perguntei se ainda faltava muita
subida, pois via que a mulher tinha um gráfico com as altimetrias da prova e
ela me respondeu: falta
A chegada em Brest com calor, vento
foi emocionante, mais emocionante foi ver um senhor tocando gaita de fole da
Bretanha para os ciclistas que passavam em uma esquina. Deu vontade de chorar e
eu chorei mesmo, nem sei porque, foi de
emoção e foi bom. A ponte de Brest e linda, mas tem um vento lá em cima! Na
chegada a Brest também vi um ciclista acidentado sendo atendido por uma
ambulância.
Em Brest, comi massa, molho, arroz, e
deitei um pouco na grama e sol para descansar, enquanto o aro traseiro da bike
era centrado. Antes de Brest o vento era tão forte que nem percebi que as
sapatas do freio estavam encostando na lateral do aro traseiro torto. Paguei 5
euros pelo serviço e sai, mas nem andei e percebi que o aro estava torto como
antes. Tinha pago por um serviço não realizado. Estava voltando para reclamar,
mas iria perder tempo e soltei o freio traseiro e segui. Na saída de Brest e
também em outras cidades enfrentei um engarrafamento de carros e com as ruas
estreitas não conseguia ultrapassar. Como estava descansado queria aproveitar a
andar mais rápido, mas o pior é que os carros estavam lentos devido a outros
ciclistas que estavam pedalando na pista mais a frente. Alcancei os ciclistas
com dificuldade, cruzei por eles e xinguei, em português é claro: se vocês
estivessem no Brasil estariam perdidos! Ninguém deve ter entendido nada, ainda
bem.
Falando em transito agora faço um
intervalo. Pedalar onde o ciclista é respeitado chega a ser estranho. Mesmo que
os ciclistas estivessem ocupando toda pista, nenhum veiculo buzinava, salvo em
raras exceções. Em muitos trechos, principalmente próximo a Brest pedalávamos
em estradas sem acostamento e com transito de caminhões. A distancia de mais de
1m ao ultrapassar um ciclista sempre era respeitada. Algumas vezes havia
ciclistas pedalando nas duas direções e havia encontro de veículos. O veiculo
que vinha atrás freava e praticamente parava esperando o veiculo do sentido
contrário passar, para somente depois, ultrapassar os ciclistas respeitando a
distancia lateral. Só por isto é que é
possível realizar um evento de
Agora só faltava voltar, só isto?
Parece fácil? O vento era a favor, ou lateral e eu andava no meu ritmo e o meu
ritmo no plano era de mais ou menos
Rendia bem, tinha muita subida
pela frente, mas não era tão forte e o
vento a favor. Só no final a subida era mais forte. No final da subida (
Avistei um ciclista inglês, estava pedalando com uma bike de 1920,
pedalava para trás e levava cebolas e alho preso ao guidão. Ele estava subindo
mais a frente, dormiu pedalando e caiu na grama ao lado da estrada. Lembrava um
saco da batatas no chão. Quando alguém gritou, ele acordou, levantou, sorriu, se
limpou, subiu na bike e continuou pedalando, uma sena indescritível, engraçada
e surreal.
Cheguei novamente em Sizun e parei para tomar
um glace ( sorvete) e uma Coca Cola no Café du Centre. Gostei muito de Sizun,
acho que foi também porque foi um dos poucos lugares no PBP que consegui fazer
paradas para descanso com sol. O clima do lugar era de PBP.
Cheguei a Carchaix, a chuva voltou. Fui na oficina de bikes e perguntei
quanto custava para centrar o aro traseiro da bike, o senhor respondeu: rien!
(nada em francês) perguntei novamente e ele respondeu: 2000 euros, disse para
centrar a roda e fui comer. Jantei e comi o cardápio básico: sopa, arroz, molho
e massa. Comprei café e uma lata de Coca Cola e coloquei no bagageiro da bike.
Voltei para retirar a bike e perguntei quanto custava e o senhor respondeu:
rien! Não paguei nada e o aro estava bem
centrado. Foi a salvação dos mecânicos de bikes franceses no PBP.
Conversei com um senhor francês que estava
pedalando o oitavo PBP, ele disse que este foi o mais difícil, devido a chuva e
o vento; ele estava no mesmo local que eu onde fomos nos esconder um pouco para
passar creme contra assaduras nas partes mais afetadas.,
Falando em assaduras vou abrir um parênteses aqui sobre o assunto. Neste
momento, um dia depois do PBP, estou com a minha dolorida, mas não esta assada.
Usei muito creme, troquei de bermuda uma vez, mas, principalmente, usei uma
bermuda que comprei especialmente para o PBP. O valor de uma, no Brasil, é 400
reais, mas acho que para uma prova tão longa vale o investimento.
Depois de Carchaix, de comer eu segui para o próximo PC e para enfrentar
a noite. Estava motivado, mas consciente, sempre conseguindo chegar com um
tempo de sobre nos PCS, conseguindo
pedalar bem e sem dor. O que sentia as vezes era a pressão baixa e a
tortura/sono, mas aprendi a lidar com isto. A noite estava chegando, seria a
terceira noite no PBP. A chuva forte veio antes do escurecer. Com a chuva e o
frio o meu tendão de Aquiles da perna esquerda começou a doer, mas doía pouco é
só quando estava mais frio. Avistei um carro de apoio andando no trajeto do PBP,
o que é proibido.Provavelmente estava dando assistência a algum ciclista que
talvez tivesse ligado pedindo um agasalho. Cheguei perto do carro de apoio e
guardei o numero que era 0915. Pensei em denunciar, mas não é uma competição e
fica na consciência de cada um saber como pedalou. Cheguei ao lado do carro e o
passageiro olhou, mas não sei se era para ver o meu numero, ou pensando que eu
fosse outro ciclista. Pensei que eles poderiam querer me prejudicar de alguma
forma, reduzi a velocidade e deixei que fossem a frente. Na próxima vila o
carro de apoio estava parado na praça.
Cheguei em Loudeac não sei exatamente o
horário, mas devia ser quase 23h, pois só escurece as 22h e escureceu mais cedo
devido a chuva forte. Chovia! Eu tinha tempo para dormir, mas aonde? Era
aconselhável tomar um banho, mas até nem sentia tanta necessidade. Eu deveria
comer. Estava precisando escovar os dentes novamente e isto sentia mais falta
do que do banho. Cheguei no carro de apoio que estava lá no mesmo lugar. O
Lacerda estava dormindo. Peguei o material para banho, a calça impermeável para
uso no restante da prova, meias, etc.
O
banho era em uma espécie de vestiário da escola e estava quente. Eu comecei a
sentir mais sono e os movimentos não estavam mais tão rápidos. Demorei para
tirar a roupa. Na minha frente um canadense quase dormindo em pé, balançava,
mas não caia, fechava os olhos, mas não dormia. O chuveiro era do tipo
economize água, você tinha que apertar na válvula na parede e a água caia por
um minuto e depois era preciso apertar novamente. O canadense escolheu
justamente o chuveiro mais no centro da sala, mas a válvula ficava na parede.
Ele apertava a válvula a voltava lentamente até chegar em baixo do chuveiro a
água parava de cair. Ele fechava os olhos, abria e voltava até a válvula,
apertava, chegava em baixo do chuveiro e a água parava de cair. Repetia
novamente, sem deixar de fechar os olhos, balançar quase dormindo caindo e
seguia para apertar a válvula. Eu estava quase terminando o meu banho quando
ele resolveu escolher e trocar de chuveiro. Coloquei a roupa que iria pedalar
no(s) outro(s) dia(s), escovei os dentes em uma pia imunda, voltei para o carro
de apoio na chuva fria, mas vestia abrigo e calça impermeável. O carro de apoio
estava na rua em frente ao pc que ficava a uns 400m do restaurante, chuveiros e
dormitórios.
Fui para o restaurante comer alguma coisa. O
restaurante estava lotado de gente dormindo. Comi algo a sai a procura de lugar
para dormir. Dormitório cheio, sem vagas. Bancos, e qualquer outro local mais
abrigado estavam ocupados. Eu e o Lacerda fomos até o restaurante novamente e
ele fez várias fotos de gente dormindo. Não tinha outra opção e o melhor era
dormir no carro novamente. Não sei o horário exato que dormi, mas pretendia
acordar às 4h para sair com alguma folga de tempo. Coloquei o celular para
despertar e apaguei.
Acordei para o terceiro dia de
PBP. O Lacerda, disse, tu tem tempo dorme mais uma hora e não se preocupa
que eu te acordo. Acho que nem respondi e dormi. Acordei novamente, ou fui
acordado, e está uma hora fez muita diferença, me sentia melhor. Fui para o
café, comi algo, peguei a bike no estacionamento, ainda bem que deixei bem em
um canto, senão não saberia onde estava entre as centenas de bikes. Chuviscava
a estava escuro, passei creme gelado contra assaduras e sai.
Estava motivado e
concentrado. Limpei os pensamentos e a única coisa era pedalar, ver a paisagem,
curtir pequenos momentos e conversas no caminho. Estava bom estar pedalando o
PBP. Não tinha noção exata do tempo, continuava sem olhar as horas e não me
preocupava com a chegada, mas com pedalar no ritmo que seguia sem estar
cansando, ver lugares de dia que não
havia visto antes, por ter passado durante a noite. Não sabia se era antes de ½
dia, ou de tarde, se era mercredi, jeudi ou vendredi. As minhas preocupações
eram: não perder a concentração, não perder tempo, não estragar a bike
novamente e não cair de sono com a chegada da noite. Também me preocupava em evitar as assaduras. Já
tinha quase uma rotina nos pcs e inclui mais algumas.
Estava chegando em uma vila, mais uma vila
medieval, está sei o nome, Lassay Les Châteaux. Pedalava e pedalava e olhei
para o lado. Do outro lado de um lago estava um lindo castelo com 4 ou 5 torres
redondas com telhados cônicos. Pensei: porque não peguei a maquina fotográfica?
Atravessei uma ponte, entrei em uma vila com ruas de pedras, casas lindas,
olhei a direita e havia uma lojinha de Souvenirs. Parei e enquanto olhava os
cartões postais chegou uma senhora, perguntando de onde eu era, perguntando se
era do Rio de Janeiro, desejando boa sorte. O dono da loja veio me atender e
fazer perguntas, fiquei alguns minutos conversando. Disse que ali era lindo,
que iria levar alguns cartões para mostrar a minha família por onde eu havia
passado durante o PBP. Ganhei alguns cartões a mais de brinde, deixei mais
alguns adesivos do Brasil e sai lembrando aquela parada. Como foi bom ter
parado e como seria menos bom apenas ter apenas fotografado. Como estava cada vez mais fácil falar francês. Como
entendia melhor os franceses nascidos na França do que os imigrantes de Paris.
Estava acrescentando emoção e não apenas pedalando. Estava chegando onde eu
queria, estava cada vez mais perto do km 900 sem estar com dores e sem estar
desmotivado.
Estava sempre atento ao que estava sentindo e
acontecendo. As vezes tinha quedas de pressão e em uma destas quedas eu resolvi
parar e o Richardt me alcançou. Motivado e feliz gritou para eu pedalar. Ele
estava motivado e consciente das dificuldades, mas não tão bem fisicamente
quanto eu. Foi muito bom pedalar com ele por algum tempo, me motivei, falei
alguma coisa em português e tinha um companheiro. Também foi muito bom os
apoios do Denis e o Costa que nos pcs ajudavam , melhorando a moral, o que e importante.
Chegamos e saímos juntos do PC de Tinteniac. Estava pedalando no meu ritmo, as
vezes seguia algum grupo como um da Suécia. Antes de Fougeres deixei o Richard
para trás quando ele parou em uma vila e eu segui com 2 espanhóis, 2 italianas,
2 franceses e um bando que foi se juntando atrás; As italianas pedalavam bem e
ate puxaram a frente um pouco. Conversei
um pouco com elas, mas era difícil de falar italiano quando estava cansado. Não
consegui trocar a língua. Passei pelo Jorge em alguma vila, mas não vi a
Silvie. Disse para ele seguir junto que eu estava aproveitando a carona do
grupo, mas ele ficou e não vi mais.
Em
Fougeres, comi bem, novamente não tomei café durante ou depois de comer, e
deitei um pouco antes de sair, isto ajudou muito! Tinha medo de deitar a beira
da estrada, dormir e não acordar, coisa muito comum neste PBP!!!! Deitando dava
um tempinho para a digestão, descansava e deixava mais sangue ir para a cabeça. Comprei café e uma lata de coca cola, levava o café na
garrafa de água no bagageiro.
Usei
muito pouco gel de carboidrato e apenas 2 doses de proteína/ hiper-calórico em
Loudeac, na ida a na volta, um pouco de guaraná, suplemento alimentar normal; 3
comprimidos para dor, água só no reservatório da bolsa do quadro e mascava chicle
para ajudar a evitar o sono.
Em Fougeres estava chovendo e depois disto
também, mas confesso que as coisas ficam um pouco confusas. A sensação agora é
que foi tudo tão pouco, ou tudo se limitou a repetição das pedaladas. Em um
controle perguntei para uma senhora o horário que fechava o pc e depois
perguntei que dia era hoje.
O importante era o seguinte, a noite estava
chegando. Uma pedalando, outra dormi em Loudeac, mais uma em Loudeac novamente
e eu estava na quarta noite de PBP,
a ultima! Para dormir tinha que chegar com folga de tempo nos pcs. Para pedalar
mais lento tinha que ter folga de tempo. Para ter folga em caso de pane na bike
o mesma coisa. Estava mantendo, mais ou menos, o meu planejamento e os
principais itens eram chegar com folga de tempo nos pcs, não parar muito tempo,
evitar paradas desnecessárias, comer bem, beber, economizar energia, estar com
a cabeça em dia,....
Pedalei, pedalei, encontrei uma ciclista da Dinamarca
que já tinha conversado comigo e com o Jorge no primeiro dia, havia encontrado
ela no PC de Tinteniac, conversei um pouco com ela, mas segui na frente no meu
ritmo. Parei em alguma vila, onde estavam muitos ciclistas dormindo tomando
café em um bar, tomei o meu café e Coca Cola, alonguei, comi um chocolate que
tinha comprado no caminho em alguma das paradas do dia a segui. Muito legal
parar no meio da madrugada, na chuva e ficar vendo os ciclistas passando, em
fila, em silencio só o barulho das bikes e da chuva.
Muita subida e escuridão antes de Mortagne au Perche.
Antes de alguma vila, depois de uma curva, em um lugar escuro, em frente a um
casarão, avistei algo estranho, mas inacreditável. Havia muitos ciclistas
parados, calculo uns
Deitei no chão perto da entrada ao lado de outros malucos. Não deitei dentro do restaurante porque estava muito quente a na rua estava frio. Não deitei no tapete e preferi o chão.
Liguei o
celular e pela primeira vez falei com a minha esposa durante o PBP, disse que
faltavam só
Dormi 15 minutos e acordei com frio, mas sem sono e bem mais descansado. Tomei café, comi algo e segui. Tinha folga de tempo, poderia dormir mais, mas peguei mais café e Coca Cola e fui.
Tinha muita subida novamente, chuva, e escuridão. O corta vento que comprei por 44 euros funcionou muito bem. Calça impermeável contra a chuva servia para me proteger do frio que na ultima noite representava ser mais intenso, não sei se eu não estava mais fraco, ou o local mais alto era realmente mais frio. Sai de Mortagne praticamente sozinho, mas não demorei e alcancei alguns ciclistas e pedalávamos a alguns metros uns dos outros. Em um local com subida com poucas casas e muitas arvores e estrada escura cheguei a um grupo de mais ou menos 50 ciclistas que estava parado. Pensei: o que será agora? Um casal de franceses, que pedalavam com uma bike reclinada tanden, onde um ficava de costas para o outro, estava segurando os ciclistas para avisar que nos próximos quilômetros havia óleo sobre o asfalto e que poderia ser perigoso. Eles avisavam os ciclistas que estavam chegando. A mulher que era alta, bonita e tinha uma voz grave e suave. Para falar a verdade ela perecia um anjo dando alguma orientação divina, ou melhor dizer, era muito bom escutar uma conversa e acordei um pouco. Perguntou se havia algum francês e alguém se identificou como tal. Pediu para que ficasse ali por algum tempo segurando e orientando o pessoal e ele respondeu que sim. O grupo saiu em um pelotão, que logo foi se espalhando e formando a tradicional fila de luzes na escuridão. Era estranho pedalar perto daquele objeto pedalante não bem identificado. Bom que o casal conversava bastante e eu acordava. Quando pedalava atrás a luz do meu farol dava bem no rosto da ciclista que vinha na traseira da tanden. Andei mais rápido e segui mais a frente.
O sono! Muito sono na ultima noite. Em alguns
momentos, enxergava coisas na estrada que não existiam. Um poste
branco e eu avistei um policial francês. Uma sombra no asfalto e eu avistei uma
mulher. Balançava a cabeça e as imagens sumiam.
A luz da bike formava uma imagem redonda, as
coisas cruzavam por este circulo como em um túnel, o túnel do tempo, um túnel
de sono, algumas vezes desliguei o farol, mas o sono continuou. O café, a Coca
Cola e a guaraná pareceram sem efeito, mas deve ter ajudado.
Antes de Bressoles havia uma bifurcação e eu
e outros ciclistas paramos por duvida de por onde seguir. Na carta dizia seguir
para Bressoles, mas não havia placa indicando este local. Não havia placa
indicativa do PBP. O casal da tanden
reclinada chegou e o grupo já estava com uns 20 ciclistas, se eles conheciam o
caminho, eu não sei, mas indicaram e fomos no caminho certo.
Na
realidade é possível pedalar o PBP somente seguindo as placas com as setas. No
inicio quando a velocidade é maior as vezes você não vê as placas, mas é só
seguir a grande fila de ciclistas. Depois é só seguir as placas, se não tem
placa em um cruzamento é só seguir em frente até encontrar a próxima placa. Não
tive problema com isto até este ponto. Alguém deve ter furtado a placa para
levar de lembrança. Eu mesmo havia pegado uma placa destas, mas peguei a placa
de Aller (ir) que não era mais útil e não a placa de Retour ( retorno) que é
necessária para os ciclistas que ainda estão pedalando o PBP.
Estava chegando no horário do sono, para min
o mais critico que é entre 5 e 6h da manhã, na ultima noite de um pbp. Algumas
vezes fiz um zigue zague na pista, parei onde havia luz, bebia água, caminhei,
mas não melhorei muito, mas segui. Um italiano de 46 anos, que eu nunca vi, me
perguntou se não tinha alguma coisa ou se o PC era longe, não lembro, mas
entendi bem e respondi em italiano e consegui. Acho que quem estava respondendo era a minha alma! Andamos
algum tempo perto um do outro, mas não tanto já que ele andava em zigue-zague
bem maior que o meu.
Cheguei em DREUX, ultimo PC era cedo e tinha tempo suficiente para fazer os mais 78km até a chegada. Era dia e era o ultimo dia do PBP, o quarto dia!
Dormi 15 minutos com a cabeça em cima da mesa e
acordei com alguns franceses que estavam
comentando sobre algo pouco comum, ver a camisa do Brasil no PBP. Muito
simpáticos estavam pedalando juntos o terceiro PBP. Conversei um tempo com eles
e me avisaram que tinha mais 3 subidas fortes até a chegada. Tomei café, comi
e estava lento, perdi um tempo comendo,
mas perdi mais tempo na fila do banheiro. Um ciclista ficou 15 minutos ocupando
lugar apenas para passar creme contra assaduras, poderia ter feito isto na rua!
Segui pedalando rápido por uns
Cheguei a uma
planície chata e sem graça, mas talvez sem graça estivesse eu, mas não tinha
muito o que ver.
Nesta planície
faltavam placas, que foram roubadas com
certeza, alguns ciclistas seguiram em direção errada. Eu parava e olhava e
carta e as placas nas outras direções.
A emoção da
chegada: estava acabando mesmo?
Faltavam uns 25 ou
Próximo a chegada choveu de novo e eu me molhei,
estava com a camisa do Brasil e queria chegar com ela, sem colocar o corta
vento. Muitos semáforos fechados, gente torcendo a gritando e cheguei as 12h e
26minutos. O Lacerda e o César Barbosa estavam lá. O César me alcançou bandeira do Brasil que eu fui segurando.
Cheguei com outros ciclistas, alguns eram amigos do Jorge e estavam perguntando
por ele, mas eu não tinha informações.
Fiquei um tempo no ginásio conversando com o pessoal,
encontrei a Dinamarquesa e o marido, as italianas, outros italianos perguntando
da prova, do Brasil, alegres. Que chulé naquele ginásio! Muitos ciclistas
dormindo nas arquibancadas, descalços e com pés brancos. O Lacerda me levou de
carro para o hotel, poderia ter ido pedalando, mas deixei a bike para o
César.
Trecho do texto original escrito dois dias depois do PBP:
... muito comum ver ciclista em qualquer canto
dormindo; a esta altura estou bem cansado de escrever e me desculpem os erros
neste teclado francês. Não tenho certeza do nomes dos pcs e vou encurtar um
pouco.
: acho que a ficha do que e fazer o pbp so vai cair quando chegar no Brasil; O Marcelo Lucca me ligou e avisou que o Erich estava perto e fiquei feliz em saber que o Formiga e o Lazary tb tinham brevetado:
Cheguei no Hotel, tomei banho, comi algo e dormi algum
tempo. Depois chegou o Lacerda com mais o Erich e outros foram chegando.
Arrumei as tralhas.
O dia seguinte:
Depois do café fomos devolver o carro alugado para o
apoio. Na volta avistamos 3 ciclistas. Uma mulher chorando, um outro arrumando
a bagagem e um outros saindo. Eles ainda estavam na estrada retornando para
Saint Quentin. Eles ainda estavam no Paris Brest Paris, devem ter dormido no
caminho, ou simplesmente não haviam chegado a tempo, mas como a prova é sem
apoio estavam na estrada.
Outros comentários rapidos
- Lixo na
estrada jogado por ciclistas, inclusive roupas e calçacos;
- Avistei
várias vezes carros de apoio escondidos nas estradinhas;
- Alguns
trechos da asfalto são ásperos e não são tão bons, como por exemplo, as
estradas do audax 600 de Campinas. As estradas não são tão sujas como as do Brasil,
mas independente disto vi muitos ciclistas com pneus furados.
-
Avistei muito
ciclista parado telefonando na beira da estrada;
-
O Paris Brest Paris
tem muita subida e dizer que o percurso é plano não é 100% certo!
Outros!
Seqüelas:
Dia seguinte:
Pés inchados, fiquei deitado apenas uns 45 minutos
durante todo o PBP.
Perda de peso, dias depois estava me alimentando normalmente, mas perdi
peso e barriga. Durante o PBP não senti isto porque me alimentei bem.
Inchaço das mãos nos dias seguinte, principalmente a
mão esquerda;
Perda de sensibilidade/tato nos dedos da mão esquerda,
hoje dia 08 de outubro, ainda não estou com a sensibilidade normal em 3 dedos
da mão esquerda que doem com água fria ou quente.
Bursite no cotovelo do braço esquerdo, devido ao tombo
na escada no almoço do primeiro dia. Em tratamento com anti-inflamatório e
gelo.
Dor nos joelhos, principalmente no esquerdo e mais no
final do dia quando fico muito tempo
desgaste normal;
genética
carregar excesso de peso e esforço nos joelhos;
provavelmente de subir muita escada e de ficar muito
tempo em pé;
Talvez por ter participado de corridas de aventuras e correr com tênis sem amortecedor de impacto, ou subir pedalando e forçando muito, usando marchas mais pesadas e girando pouco.
Idéias para 2011
-para participar de um PBP precisa;
-dicas para quem pensa em ir:
traduzir texto italiano-
Para quem quer ir ao PBP 2011
1-
Faça uma poupança e
deposite um valor mensal. Economize para a viagem. Faça isto mesmo que você
tenha condições de ir sem precisar fazer
economias. O dinheiro continuará sendo seu e depois você poderá decidir se vai.
2-
Pedale os eventos
Audax. Adquira experiência. Pedale no mínimo até o audax 400 em 2008 e nos anos
seguintes o maior numero de eventos possíveis.
Sempre que
possível participe dos eventos longe da sua cidade;
Pedale as
provas mais difíceis;
Tente
pedalar pensando como se estivesse pedalando
Não desista.
Se você desiste em um avento de
3-
Leia muito e estude
tudo o que precisa saber para pedalar um 1200. Se possível fale com quem já
pedalou, anote o que ele falou
4-
Cuide da saúde.
Comece agora fazendo o que precisa, cuidando da alimentação, redução de peso se
for o caso, etc.
Faça o
Paris Brest Paris 2011 ser um objetivo que sirva para melhorar a tua qualidade
de vida, que sirva de estimulo para melhorar de saúde. Você vencerá mesmo sem
ir, mas não desista, persista.
5-
Não anuncie que
você pretende pedalar o PBP 2011, não torne isto uma obrigação, ou objeto de
cobrança dos companheiros de pedalada. Você não é obrigado a ir, ninguém é!
Você não
precisa dar satisfação aos pessimistas e aqueles que nunca irão pedalar 1200,
mas por isto pensam que você também não vai.
6-
Acredite em você
mais do que os outros acreditam, mas saiba dos seus limites. Os treinos para o
1200 não são para pegar preparo físico, mas para criar confiança e para poder
planejar a longa jornada.
7-
Planeje o 1200 com
mais de 2 anos de antecedência. Descubra o que você precisa para pedalar o 1200
e o que ainda falta para você conseguir.
8-
O Paris Brest Paris
de 2011 está muito longe e até lá você poderá estar: casado, separado, com
filhos, grávida, apaixonado, trabalhando em outra empresa, morando em outra
cidade. Ter uma vida estável pode ser importante.
9-
Se você não tem
certeza de que quer completar o PBP. Se você está confuso, doente, cheio de
problemas pessoais, familiares, depressivo, prepare-se para passear
10-Para pedalar
Tempo de até
90 horas;
Tempo para
treinar;
Tempo para
viajar;
Tempo em
cima da bike.
É tudo uma questão de tempo, você tem?
Relatos anteriores;
Treinamentos, expectativa e tendinite. Fator
psicológico e espera.
1-Agradecimentos
/objetivo do
relato/
Exemplo da Italia
2-Semana antes da
ida e expectativa
3-Em Paris
4- Sobre o extravio
da bike
Como comentado anteriormente. A minha bike, melhor
dizer, mala bike, foi extraviada, no vôo de ida para Paris, provavelmente no
aeroporto de Milano. Chegamos a Paris dia 12 de agosto e a minha bike só chegou
no dia
Não fiquei tão
preocupado porque:
1- Tinha lido em algum
guia que: nos aeroportos da Europa, quando uma bagagem é extraviada geralmente
é encontrada. Só me preocupava que ela não chegasse a tempo do Paris Brest
Paris;
2- Tinha seguro de
viagem de até 1000 euros. Quase o suficiente para comprar outra bike lá na
Europa;
3- Porque comprei
outra bike. O Jorge se ofereceu no dia 14 para ir comigo comprar uma bike em
uma loja na sua cidade. Dia 15 era feriado na França. Dia 16 teria que ir de
trem ou ônibus e teria muita dificuldade para encontrar uma boa loja de bikes.
Aproveitei a oportunidade e para qualquer coisa teria uma bike garantida.
4- Com a nova bike,
que foi a mais semelhante com a minha que encontrei, teria algumas
preocupações. Todas as dicas para se pedalar longa distancia dizem que o
ciclista deve estar bem adaptado e acostumado com a bicicleta.
-
Tinha
salvos na outra bagagem, os pedais, sapatilhas, bar ends, espelho, selim e
canote, bolsa de selim, bagageiro, pneus e faróis;
-
Tinha
pedalado um Audax
Com uma outra bike provavelmente seria mais difícil, mas as minhas
possibilidades de concluir o Paris Brest Paris seriam praticamente as mesmas.
O maior transtorno de estar sem a bike foi a perda de tempo para comprar outra, para pedalar com a bike a fim de se acostumar com ela, para transferir as peças para a bike original novamente. Deixei de pedalar em Paris, deixei de visitar mais vezes Paris, mas ao mesmo tempo conheci melhor o Jorge Martins e a esposa Mamete. Também foi bom porque aprendi a lidar com mais uma situação adversa, e ainda, porque não precisei carregar o mala bike por estações de trem e metro, já que recebi lá no hotel.
Luiz Maganini Faccin- Outubro de 2007.