Primeiro Brasileiro a fazer 1200km
A origem do desafio
Em 1964, o mexicano
Carlos Garcia Zacateca esteve em Santa Cruz do Sul e realizou um Desafio na Praça
Getulio Vargas pedalou 50 horas ininterruptas ao redor desta mesma praça.
Na época, eram mais comuns estes eventos/
desafios ciclísticos. O ciclista conseguia alguns patrocinadores na cidade a
fim de obter algum rendimento financeiro. Em data e local marcado, geralmente
uma praça ou rua no centro da cidade, onde fosse possível conseguir mais público,
realizava um desafio de ficar pedalando ininterruptamente, sem colocar o pé no
chão, sem desembarcar da bicicleta durante o maior tempo possível. Uma estrutura de apoio simples era montada. Não
eram poucas as dificuldades a serem enfrentadas, entre elas a monotonia de
estar sempre girando em um curto percurso, muitas vezes, em ruas sem calçamento
ou pavimentação com paralelepípedos irregulares. Chuva, frio, problemas
mecânicos, sono eram desafios extras a serem vencidos. Não existiam informações sobre os Brevês
Randonneurs Mundiais ou o Audax que eram realizados na França e Europa. Naquele tempo não havia acesso tão fácil as
informações, se fosse o caso, com certeza a modalidade “Audax” já teria se desenvolvido
desde então aqui no Brasil.
Acima um cartão de recordação do desafio.
Abaixo uma foto do evento realizado em Sobradinho, RS
O
santa-cruzense Lothário Waechter
Nas
décadas de 1950 e 1960, foram realizadas algumas provas ciclísticas em Santa
Cruz do Sul e região. Alguns ciclistas se destacavam entre estes podemos falar
dos irmãos Edemar ( Polaco) e Lothário Waechter ( Whechtão como era conhecido
na Brigada Militar).
Após o desafio
realizado na cidade por Zacateca, o santa-cruzense Lotário Waechter resolveu
fazer um desafio maior com o objetivo de superar a marca do mexicano.
Primeiros Desafios
Primeiro desafio foi
de 48horas quando desmaiou após beber conhaque com café quente;
Segundo desafio foi
de 60 horas e assim foi realizando vários desafios:
50h em Candelária,
RS
60h em Rio Pardo, RS
60h em Sobradinho,
RS
O recorde de 82 horas e os 1200km.
Na época, diziam que
o recorde mundial de tempo pedalando sobre uma bicicleta era de 80 horas
realizado por um ciclista Colombiano chamado Zuluaga. Lotário motivado pelo
sucesso dos eventos anteriores e confiante em sua capacidade resolveu superar
este recorde.
Realizou o desafio
de 82 horas, no ano de 1964, em Santa Maria, pedalando ao redor da Praça
Saldanha Marinho. O evento foi
devidamente registrado e validado pela Federação Gaúcha de Ciclismo, conferido
e vistoriado por fiscais.
Durante o desafio,
utilizou um odômetro colocado no eixo dianteiro com uma pequena engrenagem que
girava com o contato com os raios da roda, uma espécie de desmultiplicador. Não
era um equipamento preciso como o ciclo computador ou o GPS de hoje, mas dava
uma noção aproximada da distância percorrida. No final das 82 horas de prova, a
distância que o Lotário havia percorrido foi de 1207 km
82 horas em Santa
Maria, RS.
24h + 24h+24h+ 10=82h
1207/82=14,71 km/h
Os números acima nos
dão uma noção para a comparação com um brevet de 1200km onde o tempo máximo é
de 90 horas para pedalar 1200km o que assemelha o desafio realizado a um brevet
1200km.
O recorde era
reconhecido pela Federação Gaúcha de Ciclismo, mas as informações foram
perdidas com um incêndio que ocorreu na sede da FGC.
Se foi um recorde,
se foram realmente 1200km, não vem a ser o mais importante. O certo é que foram
82 horas e um grande desafio que teve muitos méritos. Certo é que vale resgatar
um pouco da história do nosso esporte e o feito deste randonneur santa- cruzense.
Em pesquisa na
internet foram encontrados registros copiados de jornais antigos referindo-se a
desafios maiores realizados por Célimo Antônio Montez Zuluaga e também por
Zacateca, mas todos eles após o realizado por Lotário o que não contradiz o
feito do recorde até a data de sua então realização. Também vale lembrar que
tanto Zuluaga quanto Zacateca eram estrangeiros o que torna o feito de Lotário exclusivo
entre brasileiros
Fim da carreira
Troféus, medalhas,
álbum de fotos, dinheiro, bicicleta, sapatos e todos os seus pertences foram
roubados pelo seu empresário em São Pedro do Sul, logo após a realização do Desafio de 82
horas. Após este fato, Lotário ficou desanimado e não realizou mais desafios,
praticamente, abandonando o esporte.
A bicicleta
Nos desafios
utilizava uma bicicleta marca Caloi, sem cambio e com roda livre ( single
speed), utilizando selim de duas molas e sem utilizar para lamas. Para as
competições possuía uma bicicleta com marchas.
Participou de provas
ciclísticas de 1958 até 1965.
Participou de prova
ciclística em Porto Alegre 1963 patrocinado pelas Lojas Artezan, ficou na
décima quarta colocação entre 58 ciclistas. A prova foi realizada nos arredores
da Praça da Alfandega ;
Foto da Prova da Semana da Pátria com largada no centro de
Santa Cruz do Sul realizada em 1962. Circuito pelas ruas do centro da cidade:
Primeiro colocado: Edemar Witze de Vera Cruz, Segundo foi Lotário Waechter e
terceiro Sergio Horn de Estrela.
Nos anos de 1967 e
1968, quando Lotário já não participava mais de eventos ciclísticos foram realizadas
algumas competições ciclísticas com largada em Rio Pardo e chegada em Santa
Cruz do Sul. Os cerca de 30 quilômetros eram percorridos na atual estrada
velha, ou seja, em estrada de chão.
Somente após esta
época que tivemos acesso a algumas informações repassadas por Paulo Lopes, o nosso ciclista mais
antigo, e já falecido. Desta forma foi possível recuperar um tempo esquecido e não registrado do
ciclismo de Santa Cruz do Sul, RS.
Outros Ciclistas da
época:
Edemar Witze- Vera
Cruz
Sergio Leopoldo Horn de
Estrela- Ver Informações
Aldomar Job de Santa
Cruz do Sul
Chaves também de
Santa Cruz do Sul
Edemar Waechter, seu
irmão mais novo, também conhecido pelo apelido de Polaco que faleceu em 1994 em
um acidente de carro. Seu irmão era mais rápido e conseguia melhores resultados
nas provas. Lotário se dava bem em provas mais longas.
Outros
Lotário Nasceu no dia 03 de janeiro de 1941
Trabalhava na
extinta fabrica de Balas Sulina onde muitos dos seus troféus ficaram guardados;
Algumas de suas
premiações possivelmente poderão ser encontradas na sede do Clube União-
Sociedade Cultural e Recreativa União.
Após abandonar o
ciclismo dedicou-se por muitos anos a pescaria. Confesso que passei a admirar
mais o Lotário após ele me dizer isto.
Pesquisado por Luiz
M. Faccin maio de 2013.
reportagem do Jornal Gazeta do Sul do dia 28-08-2017
Segundo contato com a viuva de Sr Lotário ele faleceu no ano de 2014 e suas fotos não foram encontradas. Este texto passou a ser um dos poucos registros dos seus feitos.
Fico feliz por ter tido a oportunidade de conhece-lo, que se estivesse conosco estaria feliz em ver a sua reportagem no jornal.
reportagem do Jornal Gazeta do Sul do dia 28-08-2017
Segundo contato com a viuva de Sr Lotário ele faleceu no ano de 2014 e suas fotos não foram encontradas. Este texto passou a ser um dos poucos registros dos seus feitos.
Fico feliz por ter tido a oportunidade de conhece-lo, que se estivesse conosco estaria feliz em ver a sua reportagem no jornal.