Brevet
600KM
Um relato de como vi e senti o audax de 600km, organizado pelo Luiz Faccin do Santa ciclismo, nos dias 19 e 20 de maio de 2013 , um brevet zero, ou seja, sem custos e também sem infraestrutura para os participantes, já havia participado de um 600 ano passado organizado pela Ninki em Porto Alegre, foi quando conheci um pessoal que admiro muito da cidade de Teutônia, pessoas simpáticas, humildes e com um senso de camaradagem elevado, que são eles Bruno, Susana, Muki e o Ruimar, a partir daí pedalamos juntos uma parte do audax 200 de Bagé, íamos pedalar o fleche juntos, mas devido questões de trabalho não pude ir com eles, pedalamos o 400km em abril também organizado pelo Faccin, acredito que se tratando de audax seu sobrenome deveria ser Dificcin.
Estava bem apreensivo para este audax, pois a altimetria prometia, na região onde treino não tem lombas fortes e em consequência não sou bom nelas, saímos do hotel Antonius em Santa Cruz do Sul ás 3h38min, estava frio, mas comentei com o Aires que parecia um frio diferente de nossa região, estava melhor de pedalar. O Aires é de Pelotas, conheci a pouco tempo e tive a feliz oportunidade de pedalar o fleche de Pelotas até Santa Cruz, 370 km na companhia dele e do Osório, companheiros bem legais, aprendi muito com eles, também pedalamos juntos boa parte do 400 do Faccin.
No começo já fui ficando para trás e muito ofegante estava até meio preocupado com a situação, mas em seguida normalizou e fui indo junto com o Muki, próximo ao viaduto da 287 estavam nos esperando o Bruno a susana e o Aires, o Ruimar já havia sumido na frente a ideia dele era dormir em Santa Cruz com 400km do audax, a nossa previsão era dormir em Teutônia na casa do Bruno, como tinha previsão de chuva no sábado à noite comentava com ele que talvez estaríamos em Teutônia quando começaria a chuva, mas na esperança das previsões estarem erradas e a dita cuja não viesse.
Comecei a pedalar audax em novembro de 2011, incentivado por um cara que é um verdadeiro amigo, o Renato da Casa sutil, pelo que sei foi ele o primeiro a brevetar aqui da região, quando descobri que ele já havia feito audax comecei a colher informações de como era e gostaria de tentar um 200, então pedalamos junto o audax 200 que a Ninki fez que saia de Cachoeirinha passando por taquara até Novo Hamburgo e voltando pelo mesmo percurso, fiz toda a série 2012 com a Ninki, vendo o relato da Susana vi que meu histórico em audax é o mesmo dos Teutônicos, estávamos prestes a se tornar super randonneurs apenas meio ano após a primeira vez. 2012 mais fleche e audax em 2013 e nunca havia pego chuva.
Seguimos o pedal com aquela pressão da Susana para irmos um pouco mais rápido pois as lombas que estavam nos esperando iriam comer nosso tempo, não damos muita importância já que nosso tempo estava bom, numa subida damos uma paradinha para o Aires trocar as pilhas daquela lanterna boa dele, mas que come uma pilha federal, a Susana tomou um remédio e seguimos para encarar a subida de não lembro mas acho que são 14 km, os demais membros do pelotão haviam passado por ali seja de bike ou de carro e comentavam que era uma região muito linda, eu era o único que não conhecia, como ainda estava escuro só via as silhuetas dos morros a frente e ao nosso redor, ainda brinquei dizendo que ao terminar o audax no domingo iria até ali novamente de dia para ver o lugar, chegamos no final dela amanhecendo o dia e olhei para trás e me apavorei pois já dava para ver os riscos de asfalto lá em baixo e as vezes também via os faróis dos carros entre um morro e outro, realmente o lugar é lindo mesmo.
Ás 7h45min chegamos no hotel serrano para tomarmos um café, dar uma descansada, abastecer as caramanholas com água 0800 do posto, acho que o cara que nos atendeu também estava pedalando e seu cérebro não oxigenava mais, ele conseguia inverter todos os pedidos que fazíamos a ele.
Saímos para a próxima parada que seria na lancheria do Carlão, o Muki atualizou os dados no face book dizendo que estava 2 graus arrancando gargalhadas de todos pois na verdade a temperatura era de 8 graus, tomamos mais um café com leite, uns comeram torrada, como fazia pouco tempo que tinha comido só belisquei um salgadinho, tudo pronto saímos com o destino restaurante Dona Adélia em Soledade onde seria o almoço, o terreno ficou um pouco mais plano o que ajudou a melhorar nossa média, andamos alguns km, conversando e fazendo alguns planos para o desenrolar do audax, após o trevo para Barros Cassal furou o pneu da bike da Susana, o Bruno trocou rapidamente, parecia a troca de pneu na fórmula um, pneu trocado seguimos e começou a me dar uma fome e sentia que o rendimento estava caindo, fiquei para trás, dei uma paradinha e peguei dois bombons que quase engoli eles, me arrependi não ter comido uma torrada, segui e logo alcancei o Muki que estava parado e comentou que também estava com fome, acho que essa fome foi devido estar frio e as subidas haviam consumido nossa energia, o Bruno comentou que até o km 250 seria assim, descidas o suficiente para não descansar e subidas íngremes.
Chegamos ás 12h32min no restaurante Dona Adélia PC 1 para o almoço, me chamou a atenção como fomos assediados pelo pessoal que estava almoçando, toda hora vinha alguém e perguntava de onde estávamos vindo e para onde iríamos, ao ouvirem a resposta a reação era de espanto e ao mesmo tempo nos davam aquele incentivo que sempre é bom nessas horas, outro fator que notei foi a excelência no atendimento dos funcionários e proprietários do restaurante, sempre dispostos e com alegria para nos servir.
13h20min saímos para enfrentar o trecho de 100km que o pessoal de Teutônia já conhecia, logo já paramos para tirar um pouco de roupa pois havia esquentado um pouco, seguimos naquele sobe e desce, parecia que mais subia do que descia, 15h10min chegamos no Mercado Guerini PC 2, comemos um abacaxi patrocinado pelo Bruno e 16min depois já seguimos em seguida passamos por Arvorezinha, tanto que via nos pacotes de erva esse nome agora estava eu ali com minha bike, conhecendo mais um pedaço do Rio Grande do Sul, muitas árvores de erva mate pude ver, até pensei em pegar um galho de recordação, preferi não parar para terminar de uma vez com aquele trecho e na ansiedade de chegar nas tais descidas cheias de curvas, ao chegar nelas confesso que até senti um medo de desce-las, menos mal que descemos a última ainda com um pouco de dia, logo a noite chegou perguntei ao Bruno se não tinha algum lugar para comer pois a fome já estava pegando, aí ele disse que já íamos chegar no hotel Hengu onde era o PC 3 e tinha lancheria, logo depois o Aires teve a infelicidade de entrar num buraco em plena ciclovia, deu um estouro, resultado, quebrou o raio e entortou a roda dianteira, sem condições de seguir, no primeiro instante nos abalamos, mas não adiantava ficar lamentando e o Aires deu uma tapeada e fomos até o PC que estava perto, chegando no hotel estava o Eduardo também de Teutônia, ciclista que havia feito conosco o 400 em abril, se via nos olhos dele que também queria estar pedalando, mas tinha outro compromisso e não pode ir.
A ideia inicial era o Eduardo ir a Teutônia e buscar uma roda para o Aires, então o Bruno lembrou de um ciclista de Encantado que não lembro o nome, no hotel o pessoal conhecia ele só que não sabiam o contato, mas se empenharam e logo descobriram e já ligaram para esse ciclista salvador da pátria, que não demorou muito e veio com a roda para emprestar ao Aires, resumindo não perdemos tempo nenhum com essa situação adversa, e o tio Aires voltou a sorrir sabendo que não terminaria ali seu audax.
Ás 19h11min saímos do hotel com destino a Teutônia, trecho bem movimentado porém mais plano, passamos por Lajeado e a entrada de estrela, 21h50min chegamos no hotel União PC 4 na terra dos Teutônicos, para jantar e logo ir dar uma dormidinha, jantamos o Bruno e a Susana saíram na frente até a casa deles onde estava planejado dormirmos um pouco, logo eu o Muki e o Aires chegamos, o Muki disse que nem ia tomar banho devido ao cansaço, antes eu e o Aires pedimos uma camiseta emprestada ao Bruno, inclusive não devolvi a ele, ao chegarmos parecia vestiário de jogador de futebol, tudo arrumado, roupa, colchão e cobertores, era só tomar banho e cama, nessas horas se pensa como é bom de termos amigos nesse Rio Grande a fora, nos acomodaram da melhor maneira possível. Me deitei e fui colocar o celular para despertar e ele caiu 3 vezes no meu peito porque cochilava antes de finalizar a operação.
Não demorou muito acordamos e tomamos um café que também já estava preparado, 1h15min saímos em direção a Santa Cruz, tudo tranquilo até às 2h quando começou a chuva, por sorte estávamos bem na frente de um posto de combustíveis, a minha previsão e a do Bruno quase deu certo, erramos por 45min, colocamos as capas e saímos para um trecho que foi bem demorado, andamos pouco devido a chuva, o Bruno se ameaçou cair no degrau do acostamento mas conseguiu se escapar ileso, paramos num pedágio para adaptar uma capa de chuva no Aires, parecia o robocop com um papel laminado que teimava em se rasgar, seguimos e logo adiante furou o pneu da minha bike, o Bruno enquanto iluminava para eu trocar a câmara foi comendo uns amendoins, quando pronto para voltar o Bruno se sentiu mal, mas logo se recuperou e seguimos, alcançamos os outros num posto de combustíveis em Venâncio Aires e resolvemos tomar e comer algo, até chimarrão foi oferecido, quando fomos voltar ao pedal o Muki estava meio deprimido e queria desistir ali mesmo, ele nem bem fechou a boca e todos caíram em cima dele não deixando desistir, falamos que já tínhamos passado a pior parte do audax que eram as subidas até o km 250 da prova e a última parte agora seria bem mais plano, resolveu seguir e agora tinha um barulho estranho na sua bike, paramos algumas vezes e não descobrimos nada, dali até Santa Cruz o Bruno foi amadrinhando o Muki que parou umas 8017 vezes para urinar.
Chegamos no hotel Antonius PC 5 no km 400 da prova achando que não conseguiríamos concluir esse brevet, pois a pedalada não estava fluindo, O pelotão de Floripa estava indo para a parte final e o Ruimar saindo da combi onde havia dormido umas sete horas, esse guri quando crescer vai pedalar bem. Ficou nos esperando para nos ajudar nos 200 km finais, começamos a fazer cálculos e eu achava que faltavam 10 horas para o final, acho que o cérebro não estava mais oxigenando, quando descobri que na verdade faltavam 12 horas aí me encorajei mais ainda, combinamos tomar um café e tentar pedalar 50km em 3horas contando o tempo das paradas, retomamos às 7h50min.
Saímos e já em seguida o Muki é surpreendido por uma porta de carro, tombo na certa, o Ruimar quase passou por cima dele, menos mal que não foi nada grave, subimos aquela lomba na saída de Santa Cruz na esperança de melhorar a média depois dela, quando deixamos a 287 a coisa ficou melhor, menos movimento, mais plano, o Ruimar dava uma puxada no pelote, volta e meia eu ia para frente para ele descansar um pouco, mas notava que caía um pouco o ritmo, não demorou muito e resolvemos parar num mercadinho antes do PPP, a fome voltou a nos assombrar, comemos rapidamente e a próxima parada que também foi rápida no PPP, onde encomendamos para a Dona Irma uma massa para comer na volta. Seguimos eu, Aires, Ruimar e Susana, o Bruno e o Muki estavam um pouco desgastados e resolveram descansar um pouco mais, andamos 26 km e chegamos no posto Ramé para pegar água e logo voltar a pedalar, nem saímos e já chegaram o Muki e o Bruno que continuaram conosco até a próxima parada para colocarmos as capas, pois a chuva a partir daí seria nossa companheira até o final, ou seja, nos próximos cento e poucos km. Como eu já estava com o corta vento que é impermeável segui sozinho na frente aproveitei e dei uma conversada com o Pai velho lá de cima, agradeci por ter chegado até ali bem e pedindo forças principalmente para o Bruno e o Muki, já havíamos passado por tanta dificuldade juntos e não gostaria que nenhum membro de nosso pelotão não concluísse a prova.
Chegando em São Jeronimo PC 6 fizemos uma foto no rapidão e voltamos para encarar os últimos 100 km, ainda na dúvida se daria o tempo, o Bruno comentou que nos primeiros 100km não tínhamos ganhado muito tempo, mesmo assim a vontade de brevetar era tamanha que seguimos, nós seis e mais a chuva.
A partir de São Jeronimo o Bruno e o Muki continuaram numa garra muito grande, era visível o desgaste deles, passamos na ponte do Rio Jacuí onde a visão é muito linda, lembrei de que em outro audax parei ali para fazer algumas fotos na maior tranquilidade e hoje teria que passar batido devido o tempo estar se esgotando, chegamos no PPP para almoçar às 15h15min, a proposta do Ruimar era almoçar em 15min e seguir, concordamos. Não tínhamos terminado o almoço e o Muki com o Bruno chegaram e já foram pedindo 2 pratos de massa para cada um, queriam recuperar as calorias perdidas até então.
O frio era tanto que achei que ia encarangar, me associei no café quente do Aires que por instantes amenizava o frio, Faltavam 10 min para as 16h saímos do PPP, para os 65 km finais, o tempo do relógio então estava bom, só perderíamos o brevet se Deus deixasse, pois no restante, estava praticamente tudo dominado. O Ruimar e a Susana já foram saindo do PPP, saí logo atrás e em meio a chuva ouvi o Aires pedir pra eu esperar ele, esperei meio minuto e saí pedalando pois não estava aguentando de tanto frio, na primeira descida que pegamos a bike tremia mais que vara verde, e quem diria, sou ruim de subidas e não via a hora de pegar uma pra ver se aquecia o corpo, no plano até coloquei uma marcha mais pesada e fui me aquecendo aos poucos, logo encontramos o Faccin e sua esposa que vinham de carro sentido contrário, embora ser um audax zero o Faccin foi para o percurso para ver como estava o pessoal, lembro que no 400 também fez todo o percurso para resgatar um ciclista, no final da subida em Vale Verde ele nos parou e alertou de como estava perigosa a 287 com o fluxo muito elevado de veículos mais a chuva e quando chegaríamos lá estaria noite, pediu para o Aires ir atrás do pelote, pois seu colete estava mais visível que os demais.
Às 18h15min entramos na 287 e realmente o movimento a chuva e a noite fez este trecho mais perigoso, fomos com muita cautela, ao chegar no trevo dos bonecos fota cruia da oktuberfest paramos e combinamos que íamos descer a parte final bem devagar, era muita chuva e o acostamento mal cabia uma bike, felizmente chegamos bem e ao entrar na cidade via o Aires vibrar muito, eu estava com tanto frio e só conseguia gritar num misto de euforia e desabafo por ter concluído um audax tão difícil.
Às 19h chegamos no hotel Antonius onde estavam o Faccin e sua esposa, o Faccin bem agasalhado nos perguntava qual o motivo de estarmos tremendo de frio e molhados, nos abraçamos e cada um agradeceu pela parceria, pedi ao Ruimar um apoio do Motora da combi deles para me levar até o hotel onde estava instalado, cheguei no hotel liguei pra nega véia em casa e disse que tinha chegado bem (bem com frio) e fui tomar um banho quente, mas em mente não tinha terminado o audax ainda, me lembrava do Muki e do Bruno que tinham ficado para trás e não sabia de suas condições, liguei para a Susana e fiquei feliz e tranquilo ao saber que eles tinham chegado bem.
Pode até parecer masoquismo para muitos, saímos para uma pedalada que é o que gostamos de fazer, o que enfrentamos foi consequência, mas tenho certeza que saímos fortalecidos após esse desafio, aprendemos a dar valor ao que é importante na vida, aprendemos a viver com o suficiente.
E agora? Encarar os 1000 km de Floripa em outubro?
“Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, o SENHOR, teu Deus é contigo por onde quer que andares”. Josué 1:9
Obrigado galera pela parceria.
Um relato de como vi e senti o audax de 600km, organizado pelo Luiz Faccin do Santa ciclismo, nos dias 19 e 20 de maio de 2013 , um brevet zero, ou seja, sem custos e também sem infraestrutura para os participantes, já havia participado de um 600 ano passado organizado pela Ninki em Porto Alegre, foi quando conheci um pessoal que admiro muito da cidade de Teutônia, pessoas simpáticas, humildes e com um senso de camaradagem elevado, que são eles Bruno, Susana, Muki e o Ruimar, a partir daí pedalamos juntos uma parte do audax 200 de Bagé, íamos pedalar o fleche juntos, mas devido questões de trabalho não pude ir com eles, pedalamos o 400km em abril também organizado pelo Faccin, acredito que se tratando de audax seu sobrenome deveria ser Dificcin.
Estava bem apreensivo para este audax, pois a altimetria prometia, na região onde treino não tem lombas fortes e em consequência não sou bom nelas, saímos do hotel Antonius em Santa Cruz do Sul ás 3h38min, estava frio, mas comentei com o Aires que parecia um frio diferente de nossa região, estava melhor de pedalar. O Aires é de Pelotas, conheci a pouco tempo e tive a feliz oportunidade de pedalar o fleche de Pelotas até Santa Cruz, 370 km na companhia dele e do Osório, companheiros bem legais, aprendi muito com eles, também pedalamos juntos boa parte do 400 do Faccin.
No começo já fui ficando para trás e muito ofegante estava até meio preocupado com a situação, mas em seguida normalizou e fui indo junto com o Muki, próximo ao viaduto da 287 estavam nos esperando o Bruno a susana e o Aires, o Ruimar já havia sumido na frente a ideia dele era dormir em Santa Cruz com 400km do audax, a nossa previsão era dormir em Teutônia na casa do Bruno, como tinha previsão de chuva no sábado à noite comentava com ele que talvez estaríamos em Teutônia quando começaria a chuva, mas na esperança das previsões estarem erradas e a dita cuja não viesse.
Comecei a pedalar audax em novembro de 2011, incentivado por um cara que é um verdadeiro amigo, o Renato da Casa sutil, pelo que sei foi ele o primeiro a brevetar aqui da região, quando descobri que ele já havia feito audax comecei a colher informações de como era e gostaria de tentar um 200, então pedalamos junto o audax 200 que a Ninki fez que saia de Cachoeirinha passando por taquara até Novo Hamburgo e voltando pelo mesmo percurso, fiz toda a série 2012 com a Ninki, vendo o relato da Susana vi que meu histórico em audax é o mesmo dos Teutônicos, estávamos prestes a se tornar super randonneurs apenas meio ano após a primeira vez. 2012 mais fleche e audax em 2013 e nunca havia pego chuva.
Seguimos o pedal com aquela pressão da Susana para irmos um pouco mais rápido pois as lombas que estavam nos esperando iriam comer nosso tempo, não damos muita importância já que nosso tempo estava bom, numa subida damos uma paradinha para o Aires trocar as pilhas daquela lanterna boa dele, mas que come uma pilha federal, a Susana tomou um remédio e seguimos para encarar a subida de não lembro mas acho que são 14 km, os demais membros do pelotão haviam passado por ali seja de bike ou de carro e comentavam que era uma região muito linda, eu era o único que não conhecia, como ainda estava escuro só via as silhuetas dos morros a frente e ao nosso redor, ainda brinquei dizendo que ao terminar o audax no domingo iria até ali novamente de dia para ver o lugar, chegamos no final dela amanhecendo o dia e olhei para trás e me apavorei pois já dava para ver os riscos de asfalto lá em baixo e as vezes também via os faróis dos carros entre um morro e outro, realmente o lugar é lindo mesmo.
Ás 7h45min chegamos no hotel serrano para tomarmos um café, dar uma descansada, abastecer as caramanholas com água 0800 do posto, acho que o cara que nos atendeu também estava pedalando e seu cérebro não oxigenava mais, ele conseguia inverter todos os pedidos que fazíamos a ele.
Saímos para a próxima parada que seria na lancheria do Carlão, o Muki atualizou os dados no face book dizendo que estava 2 graus arrancando gargalhadas de todos pois na verdade a temperatura era de 8 graus, tomamos mais um café com leite, uns comeram torrada, como fazia pouco tempo que tinha comido só belisquei um salgadinho, tudo pronto saímos com o destino restaurante Dona Adélia em Soledade onde seria o almoço, o terreno ficou um pouco mais plano o que ajudou a melhorar nossa média, andamos alguns km, conversando e fazendo alguns planos para o desenrolar do audax, após o trevo para Barros Cassal furou o pneu da bike da Susana, o Bruno trocou rapidamente, parecia a troca de pneu na fórmula um, pneu trocado seguimos e começou a me dar uma fome e sentia que o rendimento estava caindo, fiquei para trás, dei uma paradinha e peguei dois bombons que quase engoli eles, me arrependi não ter comido uma torrada, segui e logo alcancei o Muki que estava parado e comentou que também estava com fome, acho que essa fome foi devido estar frio e as subidas haviam consumido nossa energia, o Bruno comentou que até o km 250 seria assim, descidas o suficiente para não descansar e subidas íngremes.
Chegamos ás 12h32min no restaurante Dona Adélia PC 1 para o almoço, me chamou a atenção como fomos assediados pelo pessoal que estava almoçando, toda hora vinha alguém e perguntava de onde estávamos vindo e para onde iríamos, ao ouvirem a resposta a reação era de espanto e ao mesmo tempo nos davam aquele incentivo que sempre é bom nessas horas, outro fator que notei foi a excelência no atendimento dos funcionários e proprietários do restaurante, sempre dispostos e com alegria para nos servir.
13h20min saímos para enfrentar o trecho de 100km que o pessoal de Teutônia já conhecia, logo já paramos para tirar um pouco de roupa pois havia esquentado um pouco, seguimos naquele sobe e desce, parecia que mais subia do que descia, 15h10min chegamos no Mercado Guerini PC 2, comemos um abacaxi patrocinado pelo Bruno e 16min depois já seguimos em seguida passamos por Arvorezinha, tanto que via nos pacotes de erva esse nome agora estava eu ali com minha bike, conhecendo mais um pedaço do Rio Grande do Sul, muitas árvores de erva mate pude ver, até pensei em pegar um galho de recordação, preferi não parar para terminar de uma vez com aquele trecho e na ansiedade de chegar nas tais descidas cheias de curvas, ao chegar nelas confesso que até senti um medo de desce-las, menos mal que descemos a última ainda com um pouco de dia, logo a noite chegou perguntei ao Bruno se não tinha algum lugar para comer pois a fome já estava pegando, aí ele disse que já íamos chegar no hotel Hengu onde era o PC 3 e tinha lancheria, logo depois o Aires teve a infelicidade de entrar num buraco em plena ciclovia, deu um estouro, resultado, quebrou o raio e entortou a roda dianteira, sem condições de seguir, no primeiro instante nos abalamos, mas não adiantava ficar lamentando e o Aires deu uma tapeada e fomos até o PC que estava perto, chegando no hotel estava o Eduardo também de Teutônia, ciclista que havia feito conosco o 400 em abril, se via nos olhos dele que também queria estar pedalando, mas tinha outro compromisso e não pode ir.
A ideia inicial era o Eduardo ir a Teutônia e buscar uma roda para o Aires, então o Bruno lembrou de um ciclista de Encantado que não lembro o nome, no hotel o pessoal conhecia ele só que não sabiam o contato, mas se empenharam e logo descobriram e já ligaram para esse ciclista salvador da pátria, que não demorou muito e veio com a roda para emprestar ao Aires, resumindo não perdemos tempo nenhum com essa situação adversa, e o tio Aires voltou a sorrir sabendo que não terminaria ali seu audax.
Ás 19h11min saímos do hotel com destino a Teutônia, trecho bem movimentado porém mais plano, passamos por Lajeado e a entrada de estrela, 21h50min chegamos no hotel União PC 4 na terra dos Teutônicos, para jantar e logo ir dar uma dormidinha, jantamos o Bruno e a Susana saíram na frente até a casa deles onde estava planejado dormirmos um pouco, logo eu o Muki e o Aires chegamos, o Muki disse que nem ia tomar banho devido ao cansaço, antes eu e o Aires pedimos uma camiseta emprestada ao Bruno, inclusive não devolvi a ele, ao chegarmos parecia vestiário de jogador de futebol, tudo arrumado, roupa, colchão e cobertores, era só tomar banho e cama, nessas horas se pensa como é bom de termos amigos nesse Rio Grande a fora, nos acomodaram da melhor maneira possível. Me deitei e fui colocar o celular para despertar e ele caiu 3 vezes no meu peito porque cochilava antes de finalizar a operação.
Não demorou muito acordamos e tomamos um café que também já estava preparado, 1h15min saímos em direção a Santa Cruz, tudo tranquilo até às 2h quando começou a chuva, por sorte estávamos bem na frente de um posto de combustíveis, a minha previsão e a do Bruno quase deu certo, erramos por 45min, colocamos as capas e saímos para um trecho que foi bem demorado, andamos pouco devido a chuva, o Bruno se ameaçou cair no degrau do acostamento mas conseguiu se escapar ileso, paramos num pedágio para adaptar uma capa de chuva no Aires, parecia o robocop com um papel laminado que teimava em se rasgar, seguimos e logo adiante furou o pneu da minha bike, o Bruno enquanto iluminava para eu trocar a câmara foi comendo uns amendoins, quando pronto para voltar o Bruno se sentiu mal, mas logo se recuperou e seguimos, alcançamos os outros num posto de combustíveis em Venâncio Aires e resolvemos tomar e comer algo, até chimarrão foi oferecido, quando fomos voltar ao pedal o Muki estava meio deprimido e queria desistir ali mesmo, ele nem bem fechou a boca e todos caíram em cima dele não deixando desistir, falamos que já tínhamos passado a pior parte do audax que eram as subidas até o km 250 da prova e a última parte agora seria bem mais plano, resolveu seguir e agora tinha um barulho estranho na sua bike, paramos algumas vezes e não descobrimos nada, dali até Santa Cruz o Bruno foi amadrinhando o Muki que parou umas 8017 vezes para urinar.
Chegamos no hotel Antonius PC 5 no km 400 da prova achando que não conseguiríamos concluir esse brevet, pois a pedalada não estava fluindo, O pelotão de Floripa estava indo para a parte final e o Ruimar saindo da combi onde havia dormido umas sete horas, esse guri quando crescer vai pedalar bem. Ficou nos esperando para nos ajudar nos 200 km finais, começamos a fazer cálculos e eu achava que faltavam 10 horas para o final, acho que o cérebro não estava mais oxigenando, quando descobri que na verdade faltavam 12 horas aí me encorajei mais ainda, combinamos tomar um café e tentar pedalar 50km em 3horas contando o tempo das paradas, retomamos às 7h50min.
Saímos e já em seguida o Muki é surpreendido por uma porta de carro, tombo na certa, o Ruimar quase passou por cima dele, menos mal que não foi nada grave, subimos aquela lomba na saída de Santa Cruz na esperança de melhorar a média depois dela, quando deixamos a 287 a coisa ficou melhor, menos movimento, mais plano, o Ruimar dava uma puxada no pelote, volta e meia eu ia para frente para ele descansar um pouco, mas notava que caía um pouco o ritmo, não demorou muito e resolvemos parar num mercadinho antes do PPP, a fome voltou a nos assombrar, comemos rapidamente e a próxima parada que também foi rápida no PPP, onde encomendamos para a Dona Irma uma massa para comer na volta. Seguimos eu, Aires, Ruimar e Susana, o Bruno e o Muki estavam um pouco desgastados e resolveram descansar um pouco mais, andamos 26 km e chegamos no posto Ramé para pegar água e logo voltar a pedalar, nem saímos e já chegaram o Muki e o Bruno que continuaram conosco até a próxima parada para colocarmos as capas, pois a chuva a partir daí seria nossa companheira até o final, ou seja, nos próximos cento e poucos km. Como eu já estava com o corta vento que é impermeável segui sozinho na frente aproveitei e dei uma conversada com o Pai velho lá de cima, agradeci por ter chegado até ali bem e pedindo forças principalmente para o Bruno e o Muki, já havíamos passado por tanta dificuldade juntos e não gostaria que nenhum membro de nosso pelotão não concluísse a prova.
Chegando em São Jeronimo PC 6 fizemos uma foto no rapidão e voltamos para encarar os últimos 100 km, ainda na dúvida se daria o tempo, o Bruno comentou que nos primeiros 100km não tínhamos ganhado muito tempo, mesmo assim a vontade de brevetar era tamanha que seguimos, nós seis e mais a chuva.
A partir de São Jeronimo o Bruno e o Muki continuaram numa garra muito grande, era visível o desgaste deles, passamos na ponte do Rio Jacuí onde a visão é muito linda, lembrei de que em outro audax parei ali para fazer algumas fotos na maior tranquilidade e hoje teria que passar batido devido o tempo estar se esgotando, chegamos no PPP para almoçar às 15h15min, a proposta do Ruimar era almoçar em 15min e seguir, concordamos. Não tínhamos terminado o almoço e o Muki com o Bruno chegaram e já foram pedindo 2 pratos de massa para cada um, queriam recuperar as calorias perdidas até então.
O frio era tanto que achei que ia encarangar, me associei no café quente do Aires que por instantes amenizava o frio, Faltavam 10 min para as 16h saímos do PPP, para os 65 km finais, o tempo do relógio então estava bom, só perderíamos o brevet se Deus deixasse, pois no restante, estava praticamente tudo dominado. O Ruimar e a Susana já foram saindo do PPP, saí logo atrás e em meio a chuva ouvi o Aires pedir pra eu esperar ele, esperei meio minuto e saí pedalando pois não estava aguentando de tanto frio, na primeira descida que pegamos a bike tremia mais que vara verde, e quem diria, sou ruim de subidas e não via a hora de pegar uma pra ver se aquecia o corpo, no plano até coloquei uma marcha mais pesada e fui me aquecendo aos poucos, logo encontramos o Faccin e sua esposa que vinham de carro sentido contrário, embora ser um audax zero o Faccin foi para o percurso para ver como estava o pessoal, lembro que no 400 também fez todo o percurso para resgatar um ciclista, no final da subida em Vale Verde ele nos parou e alertou de como estava perigosa a 287 com o fluxo muito elevado de veículos mais a chuva e quando chegaríamos lá estaria noite, pediu para o Aires ir atrás do pelote, pois seu colete estava mais visível que os demais.
Às 18h15min entramos na 287 e realmente o movimento a chuva e a noite fez este trecho mais perigoso, fomos com muita cautela, ao chegar no trevo dos bonecos fota cruia da oktuberfest paramos e combinamos que íamos descer a parte final bem devagar, era muita chuva e o acostamento mal cabia uma bike, felizmente chegamos bem e ao entrar na cidade via o Aires vibrar muito, eu estava com tanto frio e só conseguia gritar num misto de euforia e desabafo por ter concluído um audax tão difícil.
Às 19h chegamos no hotel Antonius onde estavam o Faccin e sua esposa, o Faccin bem agasalhado nos perguntava qual o motivo de estarmos tremendo de frio e molhados, nos abraçamos e cada um agradeceu pela parceria, pedi ao Ruimar um apoio do Motora da combi deles para me levar até o hotel onde estava instalado, cheguei no hotel liguei pra nega véia em casa e disse que tinha chegado bem (bem com frio) e fui tomar um banho quente, mas em mente não tinha terminado o audax ainda, me lembrava do Muki e do Bruno que tinham ficado para trás e não sabia de suas condições, liguei para a Susana e fiquei feliz e tranquilo ao saber que eles tinham chegado bem.
Pode até parecer masoquismo para muitos, saímos para uma pedalada que é o que gostamos de fazer, o que enfrentamos foi consequência, mas tenho certeza que saímos fortalecidos após esse desafio, aprendemos a dar valor ao que é importante na vida, aprendemos a viver com o suficiente.
E agora? Encarar os 1000 km de Floripa em outubro?
“Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, o SENHOR, teu Deus é contigo por onde quer que andares”. Josué 1:9
Obrigado galera pela parceria.